Todos os dias, o pesquisador Leonardo Fernandes Fraceto lida com estruturas tão minúsculas que sequer podem ser vistas com um microscópio comum. Ele precisa de equipamentos eletrônicos para visualizar seu objeto de estudo no Laboratório de Nanotecnologia Ambiental do Instituto de Ciência e Tecnologia do campus de Sorocaba da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Professor associado da instituição, Leonardo trabalha com nanopartículas.
Pegue um fio de cabelo seu. Imagine que você consegue dividir a espessura dele em 80 mil partes. Um desses minúsculos nacos equivale a um nanômetro. As nanopartículas do professor Leonardo são estruturas que têm entre um e mil nanômetros.
“Essas nanopartículas podem ser preparadas com diferentes materiais”, afirma o pesquisador.
“No nosso caso, trabalhamos com nanopartículas poliméricas, ou seja, aquelas preparadas com polímeros. Os polímeros, por sua vez, são moléculas grandes que apresentam várias unidades repetitivas chamadas de monômeros.”
Pois é dentro de uma nanopartícula polimérica que Leonardo e uma equipe de 30 pesquisadores de diferentes instituições de ensino e de uma empresa inserem moléculas de substâncias repelentes de insetos, num processo conhecido como encapsulamento, e produzem um gel e um spray para serem usados por pessoas mais sensíveis, como bebês e gestantes.
A ideia do nanorrepelente surgiu a partir de uma chamada pública para projetos do CNPq (Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Ministério da Saúde durante o surto de zika vírus em 2016.
“Na chamada, uma das linhas era para repelentes”, afirma Leonardo.
“Preparamos esta proposta visando o desenvolvimento de um repelente nanotecnológico de longa duração e que tivesse menor toxicidade, podendo ser uma alternativa para grupos negligenciados, como grávidas e crianças com menos de 2 anos de idade.”
A menor toxicidade se dá, segundo o pesquisador, porque, graças ao encapsulamento, as moléculas das substâncias repelentes são liberadas para o ambiente de forma lenta e controlada – assim, elas não perdem logo sua atividade e o efeito é mais prolongado. “Como a liberação das moléculas ativas é mais lenta, podemos usá-las em menor quantidade, o que diminui sua toxicidade.”
Em agosto, o nanorrepelente venceu a primeira edição do Prêmio Bayer, criado para valorizar projetos de universidades vinculadas ao Parque Tecnológico de São José dos Campos. Além de oriundos da Unesp, os pesquisadores envolvidos no projeto são da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Universidade de Sorocaba, UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Universidade Federal do ABC, além da Ipanema Produtos Veterinários.
O coordenador do grupo acredita que o nanorrepelente tem potencial para chegar em breve às prateleiras das farmácias. “Para isso, é necessário realmente que o setor industrial/produtivo tenha interesse em levar o produto da bancada para o mercado”, afirma. “Mas o fato de já termos parceiro pode facilitar bastante o trabalho.”
No infográfico abaixo, entenda como se dá o processo todo.