• De tecido anticelulite a cosméticos: a Nanovetores desenvolve produtos sustentáveis

    Betina Giehl Zanetti Ramos, vice-presidente da Nanovetores
    Jose Renato Junior | 8 out 2020

    Imagine, se você conseguir, um fio de cabelo dividido em 80 mil pedaços. Essa é a dimensão aproximada de um nanômetro, a partícula que dá motivo de existência para a nanotecnologia – um termo que parecia saído de um filme de ficção-científica há alguns anos, mas que, hoje, já faz parte de muitas coisas ao seu redor. Do smartphone que computa uma quantidade gigantesca de dados (e ainda assim cabe no seu bolso) até, pasme, os suplementos de vitamina que você toma, o protetor solar que você usa antes de fazer uma caminhada e um cosmético anticelulítico: tudo isso é possível graças a essa tecnologia.

    Inclua, nessa lista, a construção civil – que consegue criar materiais mais resistentes e leves ao mesmo tempo, e o segmento aeroespacial, imensamente dependente dessas duas características para existir.
    E é nessa tecnologia que aposta o Nanovetores Group para alçar voos altíssimos no Brasil e no mundo.

    “De uma forma mais macro, os produtos da Nanovetores têm um aspecto visual que varia entre o transparente e o leitoso”, explica Betina Giehl Zanetti Ramos, vice-presidente & diretora técnica da Nanovetores Tecnologia S.A.

    “Ao colocar essas estruturas em microscópios, enxergamos pequenas esferas e, ali, os ingredientes ativos – sejam eles fármacos, ativos cosméticos ou outras propriedades dessas partículas.”

    No nicho em que atua, a empresa usa a nanotecnologia para inserir nessas estruturas ingredientes, fármacos e outras substâncias que têm uma propensão à degradação em um formato convencional. Assim, diz a executiva, evita-se que as substância sofram processo oxidativo e tenham seu benefício reduzido.

    MAIS PROTEÇÃO, MAIS DURABILIDADE, MAIS VALOR DE MERCADO

    A empresa evita solventes em suas nanopartículas e usa substâncias biodegradáveis

    Quando a tecnologia da Nanovetores é utilizada para encapsular esses produtos, eles criam uma proteção maior – e isso impacta seu tempo útil em prateleiras, a efetividade do produto e possibilita até mesmo que uma quantidade menor de matéria-prima seja utilizada, sem perder a potência da aplicação.

    Em um exemplo prático, basta pensar na vitamina C (ácido ascórbico): ela se oxida muito rápido, mas a tecnologia da companhia garante que esteja totalmente ativa na hora do uso. Ela quase imita a natureza – como os gomos de uma laranja, que a protegem e impedem que a substância estrague rápido demais.

    Já no mercado de cosméticos, as cápsulas da Nanovetores criam uma maior área de superfície de contato, possibilitando que os ativos atuem melhor na pele.

    “O fato de protegermos esse ativo e termos uma entrega mais efetiva, com uma permeação inteligente, faz com que ele seja entregue no local e nível de pele que ele precisa estar – tornando-o muito mais eficaz”, diz Betina.

    “O consumidor percebe isso no tempo de resposta do uso: muitos produtos demoram em torno de um mês até 60 dias para ter um resultado perceptível, mas, com o uso da nossa tecnologia, é possível ter resultados em poucas aplicações”, explica.

    “No caso de produtos anticelulíticos, por exemplo, em até sete dias e sabemos que o mercado cosmético está sempre ávido por novidades e performance, e o consumidor precisa de uma resposta efetiva – caso contrário, buscará outro produto”, conclui.

    A SUSTENTABILIDADE NA NANOTECNOLOGIA

    As técnicas de encapsulamento surgiram em ambiente acadêmico – e a grande maioria delas envolve o uso de solventes orgânicos e materiais que não são biodegradáveis.

    Além de um problema de processo, o método também gera resíduos que, uma vez dispostos na natureza, demoram a degradar.

    A Nanovetores vai contra tudo isso.

    “O processo de preparação é completamente livre do uso de solventes orgânicos”, explica Betina.

    “Os materiais escolhidos para fazer essas partículas são biopolímeros – que, quando em contato com o solo ou aplicados no corpo, são naturalmente degradados por enzimas e microorganismos – ou lipídios, também muito compatíveis com aplicação em pele, isentos de toxicidade e biodegradáveis”, diz ela.

    “A sustentabilidade é um de nossos pilares, e uma das coisas que nos trouxe até aqui”, afirma.

    DA CIÊNCIA PARA O EMPREENDEDORISMO

    Formada em farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina e com doutorado pela mesma universidade e também pela Université Bordeaux, na França, Betina fundou a empresa ao lado de seu marido, Ricardo Henrique Ramos, administrador de empresas pela Esag-Udesc (Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina), atual CEO da empresa.

    De áreas completamente diferentes, entenderam que a união do know-how de ambos poderia resultar em algo bom. Resultou.

    “Eu, como cientista, não me imaginava como empreendedora, e o Ricardo tampouco se imaginava empreendendo no ramo em que estamos hoje”, diz ela.

    A junção das competências gerou a startup que passou por um período de incubação de quatro anos no Celta (Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas), em Florianópolis, para, em 2012, firmar uma parceria com o fundo de investimento Criatec, que tem como gestora a KPTL, uma das principais de venture capital do país.

    Por dois anos consecutivos, em 2016 e 2017, a NanoVetores esteve entre as PMEs que mais cresceram no Brasil – tanto nos rankings da revista Exame quanto da consultoria Deloitte. O crescimento também tem um viés de quebrar barreiras para Betina, e elevar o Brasil ao patamar de uma potência da tecnologia.

    “A Nanovetores, como muitas outras empresas que trabalham com tecnologia de ponta, faz um excelente trabalho no âmbito internacional”, afirma.

    “Lutamos muito fortemente para mudar alguns preconceitos e mostrar que o Brasil tem competência e tecnologia de ponta para globalizar os negócios.”

    Segundo ela, a Nanovetores nasceu global. “Isso por causa de seus pilares e suas preocupações com tecnologia e meio-ambiente – justamente em função disso, conseguimos muito rapidamente chegar em 45 países por intermédio de distribuidores.”

    DE S.A. PARA GRUPO – E UMA PANDEMIA PELA FRENTE

    Em relação à pandemia causada pelo novo coronavírus, os negócios da Nanovetores seguiram estáveis por um simples motivo: uma carteira muito variada de clientes.

    “Nossa plataforma é transversal, consegue tocar diferentes segmentos industriais. Hoje atendemos indústrias da área farmacêutica, na parte de nutrição, veterinária, odontológica e outras. Isso dá um corpo diferente para a empresa, além de deixá-la imune a determinados problemas de um ou outro segmento”, comenta Betina.

    A lista de clientes da Nanovetores inclui Genomma Labs, Polishop, SeneGence (EUA), Rodan and Field (EUA) e CanGro (Austrália), entre outras marcas.

    No Brasil, a empresa conta atualmente com cerca de 50 funcionários. A conversão da Nanovetores S.A para o status de grupo, que aconteceu em 2019, não impactou diretamente no número de empregados por causa de uma estratégia planejada para um ritmo de crescimento controlado, levando em conta, inclusive, a pandemia: a meta de faturamento para 2022 estava prevista em R$ 100 milhões – e ela foi adiada para 2023.

    O crescimento estimado para 2020 – que está se concretizando – é de 10% (R$ 16 milhões de lucro). “A pandemia adiou alguns planos, mas de forma alguma ela irá tirá-los de execução”, finaliza Betina.

    Em um mercado cada vez mais competitivo e com consumidores ávidos por novidades e produtos que realmente entreguem o que prometem – independentemente de seus custos –, a Nanovetores cria um combo que mistura praticidade, inovação, potência e sustentabilidade, lembrando sempre da importância de olhar para os valores que permitiram sua própria existência.

    E se 2020 tem sido um ano positivo para a companhia, mesmo em meio a uma crise global, 2021 parece acenar em uma posição imensamente otimista. É esperar para ver – e, para isso, nem precisaremos de microscópios.

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