• Conheça a The Green Hub, primeira plataforma de tecnologia e inovação com foco em negócios da cannabis no Brasil

    Marcelo de Vita Grecco, sócio-fundador da The Green Hub. aceleradora que mira no chamado cannabusiness e está com sua segunda chamada para startups aberta, à procura de empresas com ideias inovadoras.
    Jose Renato Junior | 29 out 2020

    Conhecida há milênios pela humanidade, para uso medicinal ou religioso, a cannabis foi perseguida e estigmatizada desde os anos 1930 por causa de seus efeito psicoativos – também sabidos desde a Grécia Antiga. Mas, de uns tempos para cá, governos e sociedades têm voltado os olhos para as propriedades curativas da Cannabis sativa. Desde 2015, o Brasil assiste a uma lenta, porém revolucionária, transformação na imagem da planta.

    Em janeiro daquele ano, a Anvisa retirou o canabidiol (CBD), um das centenas de compostos da planta, da lista de substâncias proibidas no país e passou a considerá-lo um medicamento de uso controlado. 

    Em 2016, com muita pressão social e determinação judicial, a agência autorizou a importação de remédios com outro composto, o tetraidrocanabinol (THC), que é também o principal componente psicoativo e, consequentemente, aquilo que fez da maconha algo tão polemizado no século 20. Mas a ciência já havia comprovado o potencial terapêutico do THC e do CBD. Era hora, portanto, de o governo reconhecer tais vantagens.

    Naquele ano, motivados pela vontade de criar “algo disruptivo”, um grupo de empreendedores decidiu mergulhar nesse mercado. 

    “Um dos empreendedores já fazia tratamento com cannabis e outro era médico prescritor”, diz Marcelo De Vita Grecco, sócio-fundador e diretor de negócios da The Green Hub, uma aceleradora de startups do mercado canábico. 

    Ele lembra que as histórias contadas no documentário Ilegal (2014), de Tarso Araújo e Raphael Erichsen, foram um grande motivador. O filme mostra a luta de mães para terem acesso a medicamentos à base de CBD para seus filhos. “Eles tinham até 80 convulsões por semana. Com o remédio, isso podia cair para até zero”, conta Marcelo.

    Empolgados e motivados, em 2018 eles fizeram um relatório, em parceria com a consultoria New Frontier Data, que projetava o potencial do mercado de cannabis no Brasil. 

    Em caso de ampla regulamentação, o mercado chegaria a um valor de US$ 4,7 bilhões em três anos. 

    Estava claro que havia uma indústria a se desenvolver, e a Green Hub se posicionou para promover esse encontro de pessoas e empresas, de recursos intelectuais e financeiros, de grandes ideias e grandes parceiros. 

    A meta da aceleradora é buscar oportunidades nos mercados mais evoluídos da cannabis medicinal e aplicá-las no Brasil.

    ACELERAÇÃO DE IDEIAS

    Atualmente, a Green Hub está com sua segunda chamada de startups. O evento oferece a chance de empresas nascentes, projetos e ideias receberem investimento e passarem pelo processo de aceleração oferecido pela empresa. As inscrições vão até 13 de novembro.

    A Green Hub já tem alguns casos de empresas aceleradas. Uma é a Cannapag Bank, uma fintech voltada a criar soluções financeiras para o mercado canábico, seja entre empresas (B2B) ou entre empresas e consumidores (B2C). 

    “Trata-se de uma dor mundial, porque você lida com uma planta internacionalmente ilegal em muitos casos, então é muito difícil fazer transações financeiras”, explica Marcelo. 

    Nos EUA, startups precisam pagar impostos com sacos de dinheiro, por operarem no chamado mercado cinza, já que a maconha é legalizada em muitos estados, mas em âmbito federal ela ainda é uma substância proibida. 

    Isso impede que tais empresas peguem empréstimos bancários, por exemplo. “A Cannapag vai tratar dessa dor, que vai aparecer no Brasil com mais força logo, logo”, acredita Marcelo.

    Outro exemplo é a Jamba, produtora de conteúdo determinada a criar “um novo imaginário para o mercado de cannabis”. 

    Segundo Marcelo, “é uma mistura de projeto educativo, social e de comunicação”. A empresa cria histórias em quadrinhos e conteúdos sob demanda a fim de quebrar os preconceitos que envolvem a maconha, tratando a planta pelo viés da cura, da esperança e da sustentabilidade.

    Além de aceleração de startups, que é um processo mais dedicado e duradouro, a Green Hub também presta consultoria, a fim de poder atender mais projetos. 

    O cofundador da aceleradora conta, empolgado, um caso se desenvolvendo neste momento, sobre uma empresa que vai investir em cânhamo para a indústria têxtil. 

    Para ele, é uma tendência, já que cânhamo usa muito menos água que algodão na produção de roupas. Marcas como Levi’s já aderiram à planta – o cânhamo é a mesma espécie que a maconha, Cannabis sativa, mas a diferença é que ele tem baixo teor de THC.

    Como forma de se firmar como um polo agregador de um mercado ainda jovem, a Green Hub também está apostando nos eventos.

    Em março, aconteceu a primeira edição do “Cannabis Thinking”, ciclo de palestras e debates com representantes de diversas áreas e que teve Fernando Henrique Cardoso como destaque principal. 

    O ex-presidente da República tornou-se uma figura global na luta pela regulamentação da maconha. Em dezembro, o evento terá sua segunda edição, 100% online.

    O BRASIL E O MUNDO NO MERCADO VERDE

    “Gosto de pensar na cannabis além do uso farmacológico, mas no industrial”, diz Marcelo, autor de artigos e um palestrante entusiasmado com o potencial da maconha. 

    “Vejo a cannabis como uma commodity, como uma planta – que é o que ela é, né? Como tem quer ser vista. Mas uma planta do futuro. Sou um fã.” 

    Ele então começa a falar das maravilhas mercadológicas da cannabis, planta que tem, a seu ver, quatro grandes frentes de exploração: industrial, bem-estar, medicinal e o uso adulto (Marcelo prefere o termo “adulto” a “recreativo”). 

    “Você pode usar a planta inteira, em infusão em alimentos, em bebidas. Tem uma das proteínas mais fortes do mundo, ômega 3 e ômega 6 [nas sementes]. Dá para fazer bioplástico, biocombustível, fibras, limpeza de solo… São mais de 25 mil aplicações.”

    Na opinião de Marcelo, o Brasil está bastante atrasado nesse mercado. Ele cita a China, que tem uma política de drogas muito restrita, mas ao mesmo tempo é um dos maiores produtores de cânhamo do mundo, e o Líbano, que também é conservador mas está investindo fortemente na planta. 

    Enquanto isso, no Brasil o projeto de lei para regulamentar o cânhamo industrial está “lá atrás na fila de prioridades do Congresso”. Mas, ainda assim, ele acredita que essa liberação vai chegar – e, também, que a legalização do uso recreativo deverá ser realidade dentro de alguns anos. 

    “A partir do momento que os EUA liberarem federalmente, será uma onda mundial, é inevitável.” 

    Por outro lado, o Brasil vem se destacando no uso medicinal de cannabis. “Vejo o país despontando, quietinho, com cautela. Como a Anvisa é respeitada mundialmente, isso eleva a régua e o Brasil pode virar referência mundial nesse mercado.”

    Por ora, a Green Hub seguirá investindo em informação e educação sobre a cannabis. É um mercado ainda em expansão, mas muito mais maduro do que o que eles viam há quatro anos. 

    “Em 2016, bastava falar de startup de cannabis para ser disruptivo o suficiente. Hoje você precisa pensar como uma startup qualquer. Se pudesse dar uma dica para quem quer empreender é: não se apoie na cannabis, a disrupção não deve estar nela, mas na ideia.”

    A empresa, que tem apenas quatro funcionários e deverá fechar o ano com um faturamento de R$ 1 milhão, pretende começar 2021 “com o pé no acelerador”. 

    Mais eventos, mais consultoria, mais aceleradas. Marcelo antecipa que a Green Hub trará para seu portfólio uma startup voltada para o tratamento à base de outras substâncias muito polemizadas e que também começam a entrar no radar aos poucos: os psicodélicos.

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