• “A Dasa tem um pipeline robusto de expansão vindo por aí. Vou contribuir com esse momento”, diz o cirurgião Paulo Chapchap

    Paulo Chapchap, conselheiro do Negócio de Hospitais e Oncologia da Dasa (foto: Kazuo Kajihara/Divulgação)
    Jose Renato Junior | 9 ago 2021

    “Não fala mais com ninguém antes de falar com a gente.” Em um telefonema em abril, assim que foi anunciada sua saída da administração do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap ouviu essa frase de Romeu Domingues, presidente do Conselho de Administração da Dasa

    O namoro da rede com o médico continuou. Dulce Pugliese, a maior acionista, e Pedro Bueno, o presidente, também tiveram papos reservados com Chapchap. Mais tarde, Emerson Gasparetto, diretor geral de Negócios Hospitalares e Oncologia da Dasa e velho conhecido, o chamou para jantar. 

    Cada conversa e cada explicação que ouvia sobre a empresa e sobre seus planos deixavam Paulo Chapchap mais seduzido.

    Em julho, numa movimentação que fez barulho no mercado, o médico finalmente foi anunciado como conselheiro estratégico do Negócio de Hospitais e Oncologia da Dasa.

    Com especializações em cirurgia geral, cirurgia pediátrica e transplante de fígado e grande experiência em gestão, Chapchap pretende, segundo afirma nesta entrevista para Future Health, “fazer uma oncologia diferente e atuar fortemente em ensino e pesquisa, que sempre foi uma bandeira muito forte na Dasa”.

    “Além disso, a Dasa tem um pipeline robusto de expansão vindo por aí. Vou contribuir com esse momento e estar próximo do dia a dia da operação.”

    Expansão, aliás, é um substantivo bastante usado quando o assunto é a Dasa nos últimos tempos. A rede hoje é formada por 16 hospitais referências – considerando rede própria, crescimentos inorgânicos e os negócios ainda sob aprovação dos órgãos reguladores. Em junho do ano passado, eram apenas seis hospitais. 

    Ao todo, são mais de 59 marcas de medicina diagnóstica e hospitais, distribuídas em 900 unidades, que atendem a um público de 20 milhões de pacientes todos os anos – formando, usando a terminologia que a empresa costuma empregar para tratar de si própria, a “maior rede de saúde integrada do país”. 

    “Essa rede permite um olhar por inteiro, baseado em dados e na competência de profissionais multidisciplinares, desde a atenção primária, secundária e terciária até alta complexidade e oncologia”, explica Chapchap. 

    É sobre a empresa, seus planos, sua carreira e o papel da inovação na medicina, entre outros assuntos, que ele fala na entrevista abaixo.

    Depois de 17 anos na alta governança do Hospital Sírio-Libanês, você assumiu uma nova responsabilidade: ser conselheiro estratégico da divisão do Negócio de Hospitais e Oncologia da Dasa. O que o fez aceitar o convite? 
    Aceitei o convite pelo compromisso que a Dasa tem de cuidar integralmente das pessoas, por toda a vida. A rede integrada oferecida pela companhia, atendendo mais de 20 milhões de brasileiros por ano, permite um olhar por inteiro, baseado em dados e na competência de profissionais multidisciplinares, desde a atenção primária, secundária e terciária até alta complexidade e oncologia. 

    Hoje, a Dasa tem condições de capturar dados em benefício de pacientes, médicos e da sociedade como um todo. 

    Estou bastante entusiasmado com esse novo desafio. O Emerson Gasparetto, diretor geral de Negócios Hospitalares e Oncologia, é um médico extraordinário, conhecido por seu compromisso com a excelência e que fez a mesma migração para a gestão que eu fiz. Vou estar ao lado dele nessa jornada.

    A divisão de hospitais e oncologia da companhia fechou 2020 com receita de 3 bilhões de reais. Como o senhor pretende contribuir? 
    Queremos fazer uma oncologia diferente e atuar fortemente em ensino e pesquisa, que sempre foi uma bandeira muito forte na Dasa. Aqui, são 40 mil profissionais trabalhando em prol da saúde do brasileiro, e cuidar deles é cuidar também das pessoas. Além disso, a Dasa tem um pipeline robusto de expansão vindo por aí. Vou contribuir com esse momento e estar próximo do dia a dia da operação. 

    Quero um pouquinho de história de bastidores, dr. Paulo: você brincou que fizeram um cerco, com Romeu Domingues e Dulce Pugliese o telefonando quando souberam de sua saída do Sírio e, depois, Pedro Bueno o chamou para jantar. Mas como foi exatamente o convite? 
    No final de abril de 2021, quando foi anunciada a minha saída da administração do Hospital Sírio Libanês, o Romeu Domingues, presidente do Conselho de Administração da Dasa, me ligou e disse: “Não fala mais com ninguém antes de falar com a gente”. Depois, conversei com a Dulce Pugliese, com o Pedro Bueno e fui jantar com o Emerson, quem eu já conhecia pois trabalhávamos juntos no serviço do Hospital Santa Paula. Fui me encantando com o projeto extraordinário, porque todos buscam a integração ao longo da jornada do paciente, mas a Dasa já tem. 

    No Sírio, o senhor já achava que era hora de mudar e indicou seu sucessor à diretoria geral. Por que sentiu essa vontade de mudar? (Acha que devemos, sim, mexer em time que está ganhando?) 
    Sempre digo que a busca pela excelência é um trabalho de todos os dias, conquistado, também, por meio da atração e do desenvolvimento de grandes talentos. A minha sucessão no Sírio tem a ver com essa premissa. É preciso dar espaço para outros talentos e reconhecer o valor das pessoas. Afinal, se o Sírio chegou a este patamar de excelência é pelo fruto do trabalho e comprometimento de médicos, pesquisadores e de toda a equipe de profissionais. Quando você percebe que mudar de time é mudar para melhor, não há mais o que considerar. 

    Você vai continuar atuando como médico no Sírio? 
    Continuo no corpo clínico do Sírio e, como médico, já atuava no Hospital Nove de Julho, que faz parte da rede de saúde integrada da Dasa. 

    Na Dasa, quais são seus planos e metas? 
    O principal é contribuir com o negócio de Hospitais e Oncologia, seja na operação do dia a dia, seja na busca por parcerias ou na área de ensino e pesquisa. A Dasa está em um ritmo muito forte de expansão. Em junho do ano passado, a companhia tinha uma rede de 6 hospitais. Agora são 16, considerando rede própria, crescimentos inorgânicos e os deals que ainda estão sob aprovação dos órgãos reguladores. Ou seja, em um ano a operação de hospitais e oncologia praticamente triplicou de tamanho. Fazer essa integração, em especial por meio da atração e retenção de talentos, vai ser um dos meus focos, além da prática clínica.

    A empresa está em franca expansão e apostando muito em novas tecnologias há alguns anos. Qual o peso que você acredita que a inovação tem, na prática, para a transformação da saúde? 
    O uso da tecnologia em prol da saúde foi uma das razões que me atraíram para a Dasa. Por meio de ciência de dados e da inteligência artificial, existe a integração de informações dos laboratórios, das clínicas e dos hospitais, o que nos permite estar presentes em toda a jornada de saúde das pessoas. 

    Desta forma, é possível oferecer um atendimento mais personalizado, preditivo, preventivo e efetivo para o paciente, reduzindo, por exemplo, a necessidade de repetir exames ou de realizar exames desnecessários. 

    Além disso, quando eu falo da importância da atração e retenção de talentos, eu me refiro não somente aos talentos da área da saúde, mas a cientistas de dados, engenheiros e gestores. É na parceria entre as áreas médica e tecnológica que o paciente mais se beneficia. 

    Você disse que a medicina oncológica é uma das áreas que mais tem necessidade da integração e coordenação no cuidado ao paciente. Especificamente nessa área, como os desafios podem ser superados e como oferecer mais acesso? 
    O caminho é fazer justamente o que Dasa está fazendo: criar um ecossistema integrado para acolher as pessoas em toda a jornada de saúde. Por meio da coordenação de cuidados, é possível concretizar uma medicina preditiva e preventiva. 

    Sabemos que o diagnóstico precoce em casos de câncer é determinante para um desfecho clínico de sucesso. 

    O paciente sofre menos, os custos com exames e tratamentos são menores e o médico consegue ser mais efetivo em suas decisões. Com a coordenação de cuidados, também é possível acompanhar as pessoas ao longo da vida, possibilitando a identificação de um novo câncer ou antecipando outras complicações que podem surgir de determinado estado de saúde. Esse foi um ponto que pesou bastante na minha decisão de integrar a companhia, pois o investimento em tecnologia e ciência é enorme. 

    Enfrentar (e na linha de frente) uma pandemia como esta que vivemos transforma de alguma forma um médico tão experiente como você? 
    A pandemia é um divisor de águas na carreira de qualquer profissional da área da saúde. Os desafios são de uma magnitude sem precedentes e transformam nosso trabalho e vida pessoal. Temos visto diariamente a tragédia que a pandemia tem causado na vida de milhões de pessoas. Isso nos traz, também, um momento de muito aprendizado, pois o ineditismo da situação chama a atenção até mesmo dos especialistas mais experientes. O momento contribuiu para reiterarmos a importância da ciência, da pesquisa e de como a colaboração pode resultar em inovações rápidas.

    Você vem de uma família de engenheiros civis. O que o fez não seguir a tradição? 
    Até hoje não sei exatamente como cheguei à medicina. A minha família é de engenheiros e, na época do vestibular, a expectativa era que eu continuasse essa tradição. Cheguei a fazer a prova para o curso de engenharia, mas como também havia passado em medicina, optei por ela – e nem preciso dizer que não me arrependo. Fico muito feliz em poder ajudar as pessoas em suas questões de saúde, que é a grande missão de todo médico.

    Hoje, olhando para a saúde no país, quais são as principais inovações e tendências que você enxerga? 
    A inteligência artificial e a ciência de dados têm acelerado o surgimento de várias inovações, como os algoritmos que preveem, por meio da leitura de exames clínicos e de imagem, a possibilidade de surgimento de alguma doença. Outro ponto importante é a vigilância genômica. Faço parte do grupo Todos Pela Saúde, e estamos estruturando um projeto de vigilância epidemiológica de zoonoses para a prevenção de novas pandemias, diagnóstico rápido e estudo genômico. 

    Isso me enche de orgulho e é outro ponto de sinergia com a Dasa. 

    Aqui, temos o Genov, um projeto excelente de mapeamento genômico das variantes do Sars-Cov-2 que vai sequenciar 30 mil genomas completos do coronavírus em até 12 meses e permitirá acompanhar e conhecer a evolução genética do vírus em tempo real no Brasil, especialmente nesse momento de avanço de variantes no país. A iniciativa vai permitir formar o maior banco de genoma brasileiro do SARS-CoV-2, impulsionando a vigilância epidemiológica genômica e contribuindo para o melhor acompanhamento da pandemia. 

    Qual notícia de saúde você gostaria de ler nos sites amanhã? 
    Que a pandemia está controlada. Estamos em um momento de queda de mortes causadas pelo novo coronavírus e a produção de vacinas segue em ritmo forte, mas sabemos que não podemos nos descuidar, até mesmo porque podem surgir novas variantes e a ciência ainda não estudou todos os efeitos da Covid-19.

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