• Tecnologia criada por médica brasileira aumenta em até 10 vezes a absorção de cannabis medicinal

    Mariana Maciel - Thronus
    A médica Mariana Maciel é uma das fundadoras da empresa canadense Thronus, inovadora no ramo de fármacos à base de canabinoides. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 29 jun 2022

    Um intercâmbio para estudar inglês, uma festa e um emprego em uma empresa de cannabis medicinal foram os três elementos que mudaram os rumos da carreira da médica Mariana Maciel.

    Após se formar na Faculdade de Medicina de Barbacena (FAME), em Minas Gerais, fazer residência de clínica médica, atuar em urgência e emergência e como plantonista do SAMU, ela decidiu imigrar para o Canadá em 2018. 

    Lá, antes de revalidar o diploma, trabalhou em uma empresa de cannabis medicinal e conheceu seu futuro marido em uma festa. Durante a conversa, descobriu que ele também atuava no mercado canábico e a parceria pessoal e profissional engatou.

    Juntos criaram a Thronus, uma biofarmacêutica focada na produção e desenvolvimento de fármacos para tratamentos com cannabis

    “Eu nunca tinha tido contato com cannabis, inclusive tinha preconceito e uma cabeça fechada para o uso dela. Mas o conhecimento trouxe liberdade e a quebra de um estigma sobre a planta. Os resultados são reais, as histórias dos pacientes poderosas”, conta Mariana.

    Hoje ela é uma das grandes estudiosas dos benefícios terapêuticos da cannabis e foca esforços em pesquisas para o aprimoramento da nanotecnologia relacionada ao uso farmacêutico da planta.

    De acordo com a médica, a Thronus criou um produto revolucionário, que tem as menores partículas existentes no mercado. 

    “Nossa linha de produtos à base de canabinoides tem partículas de cerca de 17 nanômetros, além do encapsulamento dessas moléculas em uma solução hidrossolúvel, algo até então inédito. Com isso, potencializamos a absorção e a eficiência dos princípios ativos no corpo”, explica. 

    Além das micropartículas, o produto desenvolvido por Mariana e sua equipe se diferencia no mercado desde o cultivo da planta, que também é feito pela empresa. “Nós controlamos todo o processo a plantação indoor, com controle de oxigênio e gás carbônico. Além disso, estudamos como produzir cepas melhoradas, mais potentes e isso torna o bioativo mais forte”.

    Segundo a médica, as pesquisas indicam que cerca de apenas 6% do CBD convencional e 8% do THC convencional alcançam a circulação sistêmica após ingerido. 

    Nos produtos da Thronus, a absorção efetiva dos fitocanabinoides pode ser até 10 vezes maior e também mais rápida. Isso possibilita que o tempo de início de ação diminua de duas horas, duas horas e meia, para 10 minutos.

    Oito produtos da empresa já estão disponíveis e aprovados para pacientes no Brasil. De acordo com a médica, por ora, a empresa é a única no mercado brasileiro a oferecer produtos que aliam nanotecnologia com alto teor de THC.

    Outro ponto que diferencia os fármacos da empresa, solúveis em água, é a facilidade na administração, que pode ser oral, sublingual ou mesmo diluída com bebidas ou alimentos. Essa característica ajuda a ingestão por crianças ou por pacientes que tenham problemas com o sabor acentuado e com a textura dos óleos.

    “Por causa das nanopartículas, nossos produtos têm efeito rápido como o de uma inalação, só que poupando as vias áreas. Além da maior eficácia, apresentam menos efeitos colaterais e menos efeitos indesejáveis em interações medicamentosas”, explica Mariana.

    Educação sobre cannabis medicinal para médicos e pacientes

    De acordo com um levantamento realizado pela Kaya Mind, consultoria brasileira especializada em dados do mercado de cannabis, os dados mais recentes reportados pela Anvisa mostram que existem por volta de 2.100 prescritores de cannabis medicinal no Brasil. 

    O número equivale a menos de 0,5% da quantidade de médicos no país. Contudo, a quantidade de prescritores vem crescendo, graças ao aumento da procura por tratamento com a planta durante a pandemia e da oferta de cursos de formação e especialização por universidades, associações e empresas farmacêuticas.

    Como os médicos não precisam de autorização para prescrever canabinoides, a Anvisa calcula o aumento do interesse pelo número de pedidos de importação dos remédios. A agência divulgou um aumento de mais de 2.400% em seis anos na importação dos produtos à base de cannabis. As solicitações de importação passaram de 896 em 2015 para 19.074 em 2020, e, até meados de setembro de 2021, foram 22.028 pedidos.

    O levantamento da Kaya Mind também mostra que, atualmente, mais de 50 mil pessoas já usam cannabis medicinal no Brasil. As estimativas são de que há cerca de 6,9 milhões de pacientes potenciais para tratamentos com cannabis no país. 

    Outro dado do estudo que chama a atenção é que o uso da maconha como fitoterápico tem potencial para movimentar, em 2025, até R$ 9,5 bilhões no Brasil. Essas projeções motivam Mariana a bolar vários planos para o Brasil, tanto na produção dos fármacos, como na jornada de educação de médicos e de pacientes. 

    “Espero que, em cinco anos, o cenário esteja melhor no Brasil e que a legislação sobre o uso medicinal de cannabis esteja mais avançada”, avalia a pesquisadora.

    Além das pesquisas de ponta, a Thronus também investe na educação médica por meio de workshops, seminários, webinars e grupos de discussões de casos e evidências clínicas. 

    “A cannabis é a planta com efeito medicinal mais versátil do mundo. Precisamos ampliar o conhecimento da classe médica, de pacientes, de familiares e de legisladores a fim de derrubar as barreiras para adoção de tratamentos com canabinoides”, completa Mariana.

    “É uma evolução na prática médica e uma revolução na vida de muitos pacientes que encontram na planta um remédio eficaz e potente para diversas patologias”, finaliza Mariana.

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