• Como o uso de tecnologia pode democratizar o acesso à saúde

    Daniel Torres é o CEO da Zitrus
    Jose Renato Junior | 25 mar 2022

    A saúde é um dos campos prioritários para a qualidade de vida e desenvolvimento de um país – fato que foi ainda mais ressaltado com a pandemia de Covid-19. Porém, a crise sanitária também expôs como a saúde enfrenta um cenário de desigualdades no Brasil.

    O relatório Covid-19 e Desenvolvimento Sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação, da Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, apontou que a pandemia impactou todos os países, mas principalmente as nações com maior disparidade econômica.

    “No Brasil, embora tenham sido registrados importantes progressos de desenvolvimento nas últimas décadas, a pandemia atinge sobretudo a população em situação de maior fragilidade quanto ao desenvolvimento humano, tornando ainda mais evidentes as diferenças de acesso a importantes recursos, como a rede de proteção social, serviços públicos de saúde, acesso ao emprego e à renda e moradia adequada”, diz o documento.

    A desigualdade também aparece na oferta de atendimento médico.

    O levantamento Demografia Médica no Brasil, publicado em 2020, mostra que temos 2,38 médicos por mil habitantes. Nas capitais essa proporção sobe e alcança 5,65 profissionais – nas cidades do interior, porém, cai drasticamente a uma taxa de 1,49.

    Isso significa que, dependendo da cidade onde a pessoa mora, é quase impossível ter acesso ao atendimento médico, consultas ou exames. A situação se agrava ainda mais se for necessário um especialista.

    O mesmo estudo aponta que no Amapá a população de mais de 750 mil habitantes dispõe de somente 23 cardiologistas em atividade.  

    Neste contexto, a pandemia trouxe um novo panorama e apresentou possíveis caminhos para minimizar algumas desigualdades, inclusive a longo prazo. Um exemplo disso é a telemedicina.

    TELEMEDICINA: POPULAÇÃO APROVOU A EXPERIÊNCIA

    O atendimento remoto ganhou força neste período diante do risco de o paciente se dirigir para uma unidade de saúde, e também para garantir um diagnóstico e tratamento mais rápidos, evitando assim a disseminação do vírus.

    Além disso, a prática foi autorizada em caráter provisório, enquanto durar o estado de emergência de saúde pública, e sua regulamentação definitiva está em discussão no Congresso, o que pode ser uma medida fundamental para sua implementação de forma permanente. 

    A pesquisa Percepção dos médicos sobre o atual momento da pandemia de Covid-19 – segmento Telemedicina, da Associação Paulista de Medicina (APM) e da Associação Médica Brasileira (AMB), comprova a expansão da modalidade.

    O estudo mostra que metade dos médicos passaram a realizar atendimento a distância diante da pandemia e seus desdobramentos.

    Dentre os médicos entrevistados, 64,3% responderam que seus pacientes não somente aceitam a telemedicina, como gostam da modalidade. 

    Por meio de tecnologia simples, é possível fazer o atendimento remoto de pacientes – inclusive daqueles fora dos grandes centros e que enfrentam mais dificuldade de acesso. 

    A consultoria McKinsey estima que as receitas decorrentes do atendimento médico por telemedicina, farmácia e aparelhos vestíveis irão aumentar de US$ 350 bilhões, em 2020, para US$ 600 bilhões em 2024.

    A SOLUÇÃO PARA A FALTA DE ACESSO A SERVIÇOS DE QUALIDADE

    Além da diferença no número de médicos por região, muitas pessoas ainda não têm acesso a um serviço de qualidade. Temos os desafios do Sistema Único de Saúde (SUS), que não consegue atender a uma demanda gigantesca e crescente no país.

    Por outro lado, a contratação de planos de saúde ainda é baixa. Apesar do segmento ter fechado 2021 com crescimento e com 1,5 milhão de novos usuários, apenas um a cada cinco brasileiros tem plano de saúde, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

    E, mais uma vez, o caminho para garantir o acesso a um serviço de saúde de qualidade e com menos custos passa pela tecnologia. 

    Com a utilização de inteligência artificial, IoT e ciência dos dados, é possível analisar milhares de informações dos pacientes e em tempo real, como números de pressão arterial, nível de colesterol, entre tantos outros, para, dessa forma, trabalharmos com uma medicina preditiva.

    Isso significa usar esse volume de indicadores e transformar em valor, construir cenários, parâmetros e atuar de forma preventiva e com tratamentos precoces. 

    Outro ponto positivo é que diminui a demanda aos serviços de saúde públicos e privados, evitando consultas de rotina ou exames desnecessários, o que também impacta na redução de custos.

    Soluções inovadoras e softwares de gestão também permitem automatizar processos burocráticos e muitas vezes demorados, como autorizações de operadoras de planos de saúde, preenchimento de cadastros e de prontuários. Tudo isso resulta na otimização de tempo e de recursos. 

    E iniciativas neste sentido já estão sendo colocadas em prática. Nós, por exemplo, lançamos no ano passado a TARIC, uma startup com foco em medicina preventiva e preditiva, com soluções de prontuário eletrônico, teleatendimento, PA Digital e, que em breve, terá uma plataforma completa de clínica digital. 

    TECNOLOGIA TORNA PROCESSO MENOS HUMANIZADO? PELO CONTRÁRIO

    Outro benefício da disseminação da tecnologia na área da saúde é a humanização do atendimento. Com o uso de soluções tecnológicas – por exemplo, digitalizar os prontuários médicos –, são necessários menos profissionais em alguns processos, especialmente os mais burocráticos.

    Assim, médicos, enfermeiros e equipe podem se dedicar ainda mais aos pacientes, de forma a humanizar o atendimento.

    Além disso, ao ter em um aplicativo seu acompanhamento clínico, por exemplo, o usuário se torna peça protagonista na tomada de decisões.

    Vale ressaltar ainda que o ponto central do uso dessas tecnologias na saúde é que são iniciativas, ferramentas e soluções que podem ser replicadas em qualquer localidade. E com essa fácil disseminação, a tendência é a redução dos custos para operadoras e prestadores – e, como consequência, aos usuários. 

    Esses diversos aspectos demonstram que a tecnologia e a transformação digital na área da saúde são um caminho sem volta. Os prestadores de serviço, profissionais e empresas desse ecossistema precisam se adaptar e avançar no processo de inovação de forma urgente.

    Para isso, é essencial inclusive renovar os modelos de negócios. Sendo assim, todos saímos ganhando – com um acesso à saúde mais amplo e de qualidade, com menos custos e com o paciente como prioridade.  

    **

    Daniel Torres é CEO da Zitrus, healthtech que desenvolve softwares de gestão para operadoras de planos de saúde e que lançou, em 2021, o Zlabs, um hub de inovação para conectar universidades, startups e empresas a operadoras de planos de saúde.

    Confira Também: