O cirurgião Ronaldo Golcman, chefe de equipe de urgência do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, na especialidade cirurgia plástica, é daquelas pessoas que colecionam hobbies.
Mergulhador experiente, com mais de 650 descidas registradas, ele se empolga ao falar de suas aventuras em mares de todo o mundo (na foto de perfil de seu WhatsApp pessoal, Golcman está ao lado de um tubarão-de-recife-caribenho).
O mergulho já é uma atividade que demanda dedicação, mas ele também tem tempo para a marcenaria e para suas plantinhas – não uma simples “selva urbana”, tão na moda ultimamente, mas uma galeria de samambaias para impressionar muito paisagista por aí.
Confira esta que é a segunda parte da entrevista que ele deu a Future Health. A primeira, em que conta sobre sua especialidade e sua carreira, você pode conferir aqui.
Em quantos lugares diferentes o senhor já foi mergulhar? Qual foi o mais surpreendente?
São vários destinos. Os principais: de norte a sul aqui no Brasil, com grande destaque a Fernando de Noronha. Fui a muitas ilhas caribenhas, Bahamas… Ao Havaí, a destinos remotos no Oceano Pacífico, como a Ilha do Coco [que teria sido a inspiração para a ilha do filme Jurassic Park]. Fui às ilhas Galápagos, ao Mar Vermelho, às Ilhas Maldivas, à Indonésia, à Tailândia, à Austrália, a Palau, na Micronésia, dentre outros. Foram no total 659 mergulhos, todos registrados.
Quais as criaturas mais fascinantes de se observar? As minúsculas, como o cavalo-marinho-pigmeu, ou as gigantescas, tipo tubarão-baleia?
Posso considerar que sua pergunta já traz grande parte da resposta. Não tem como não ficar fascinado com a microvida e a diversidade nos mergulhos da Indonésia, em especial na ilha de Wakatobi, com os cavalos-marinhos-pigmeus de 1 a 1,5 cm, completamente mimetizados nos corais, com colorido incrível.
O que dizer do mergulho noturno, com máscara e iluminação específicas para observação de animais fluorescentes?
Como não ficar apaixonado com os mergulhos na remota Ilha do Coco, berçário do maior cardume de tubarões-martelo do mundo? Com mergulhos com o maior peixe, o dócil tubarão-baleia, e com os agressivos tubarões-tigres? Pouca cor, mas animais incríveis.
As cores, formas e sons do fundo do mar influenciam seu trabalho?
O mesmo propósito. Sempre buscando o belo, seja na profissão, seja nos mergulhos coloridos. Porém, a atividade cirúrgica, mesmo sendo algo bem prazeroso, traz uma constante preocupação, apreensão. Busco nos mergulhos um período de intenso relaxamento espiritual. Os sons nos mergulhos são de uma sutileza, delicadeza, que completam o relaxamento da atividade.
Às vezes o cirurgião aparece quando se está lá embaixo, mergulhando? Já aconteceu de ver algum animal ferido, com marcas deixadas por um predador, e pensar em correção de cicatriz, por exemplo?
Não consigo conter meu ímpeto cirúrgico. Quando vejo uma raia com suas nadadeiras rasgadas pela mordida de tubarão, ou grandes peixes com anzol na boca ou mesmo com o canto da boca rasgado pelo anzol, sempre tenho desejo de interferir. A maior tentativa de intervenção foi fazer uma cesárea exploradora em uma grande raia, que, após arpoada, pariu um filhote. Uma vez morta, tentei ver se ainda tinha outros filhotes no seu interior, mas não havia.
E o que houve, o filhote sobreviveu?
Sobreviveu. Mas a mãe, não.
O mergulho e a fotografia subaquática são atividades em que a forma e a estética se destacam. De alguma forma sua profissão abriu esse caminho para os hobbies?
Sempre precisei compartilhar com amigos as belezas que via nos mergulhos. Impossível descrever! A beleza é tão fascinante, ímpar, que só por meio de fotografia podia compartilhar. Assim, completei minha atividade de mergulho com a fotografia sub.
O senhor também é marceneiro nas horas vagas. Como surgiu essa paixão?
As minhas mãos são inquietas, assim como minha vontade de criar. Nas cirurgias consigo exercitar a criatividade e a habilidade manual, mas o que fazer aos domingos pela manhã, antes do almoço em família? Assim comecei a marcenaria, mas não consegui ficar na superficialidade. Comecei a estudar e cada vez mais fiquei apaixonado.
O que mais gosta de fazer como marceneiro? Móveis, brinquedos?
Adoro fazer pequenas peças, quanto mais difíceis melhor, com encaixes, detalhes. Adoro tornear. Em uma viagem à Itália, em San Gimignano, vi à venda uma roca de fiar, muito antiga, riquíssima em detalhes. Não tive dúvida: comprei com a intenção de fazer uma miniatura bem fiel. Dito e feito! Consegui miniaturizar com todos os detalhes – e funcional. Ultimamente tenho me empenhado em peças grandes, como berço, e pequenas, para meus netos. Isso tem dado um prazer ímpar!
Marcenaria, teoricamente, demanda mãos ágeis. De que forma o cirurgião Ronaldo influenciou o marceneiro?
A matéria-prima da cirurgia e da marcenaria é muito diferente, mas o planejamento, a execução com extremo cuidado e a habilidade se assemelham. Ao final, a contemplação do resultado da “obra” é igualmente prazerosa.
E como o marceneiro influencia o cirurgião?
Raciocínio criativo, habilidade manual e desejo de ver o belo.
Como ter tempo para se dedicar ao trabalho e a hobbies que demandam tanta dedicação?
Planejo anualmente uma viagem exclusiva de mergulho, com 20 a 28 mergulhos. Como tenho o hábito de acordar cedo, a manhã de domingo e às vezes as manhãs de sábado rendem uma grande oportunidade para hobbies.
Além do mergulho e da marcenaria, há outras atividades no seu dia a dia longe do hospital e do consultório?
Gosto e tenho plantas, bonsais que eu mesmo fiz, com mais de 30 anos, e uma coleção especial de samambaias, os Platycerium, também conhecidos como chifre-de-veado. Consegui ter as 18 diferentes espécies. Sou tutor de animais de estimação como cão, aves exóticas, carpas coloridas (nishikigoi), um aquário marinho e até mesmo répteis. Conto com uma equipe muito competente para ajudar nos cuidados diários.
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