A doença de Alzheimer é o principal enfermidade neurodegenerativa e a principal causa de demência na pessoa idosa, sendo responsável por 60% dos casos.
O número de pessoas vivendo com demência no mundo é superior a 43 milhões de pessoas e estima-se que alcance 152 milhões em 2050.
A maioria das pessoas com demência vive em países de baixa e média renda1.
Há importantes avanços recentes na compreensão da fisiopatologia, diagnóstico e no tratamento da doença de Alzheimer. Uma das áreas em rápida evolução são os biomarcadores, baseados em análises de métodos de imagem e de exames realizados em amostra de líquor e plasma, que permitem um diagnóstico ainda em fases assintomáticas da doença baseados na cascata amiloide, acúmulo de proteína tau, inflamação e neurodegeneração2.
Recentemente foram aprovados pelo US Food and Administration (FDA) duas drogas antiamiloides, Aducanumab e Lecanemab, depois de longo período após a aprovação da memantina e de anticolinesterásicos. Estes novos medicamentos retardam a evolução da doença em pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve devido à Doença de Alzheimer e demência leve devido à Doença de Alzheimer3,4.
Todavia o custo e a disponibilidade destes métodos e tratamentos permanecem um desafio em países de baixa e média renda, como o Brasil.
Há grande interesse na literatura científica em descobrir um biomarcador digital, preferencialmente um dispositivo móvel ou que possa ver vestido pela pessoa, para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.
A pessoa com doença de Alzheimer pode apresentar alterações sutis da memória, comportamentais e motoras, não identificadas pelos testes convencionais de avaliação, mas que poderiam ser detectáveis pela inteligência artificial (IA) anos antes do início da demência pela doença de Alzheimer. O uso de biomarcador digital em tablets e smartphones poderia auxiliar a detecção precoce em larga escala e menor custo5,6.
Outra possibilidade é a de sensores para detectar alterações precoces sugestivas da doença de Alzheimer na movimentação ocular, reflexos pupilares, características acústicas e fala, permitindo o diagnóstico não invasivo e com menor custo7,8. Uma das alterações estudadas é a disfunção da rede visomotora9.
Sabe-se que alterações motoras podem ocorrer pela doença de Alzheimer na marcha, na capacidade de levantar-se e sentar-se e no tempo de reação. Está sendo estudado se a destreza dos dedos pode ser um biomarcador digital da doença de Alzheimer10.
O sistema nervoso autonômico – que controla as funções involuntárias do corpo, como a frequência cardíaca, a pressão arterial, a digestão e a respiração –, pode ser afetado precocemente pela doença de Alzheimer. Isso ocorre por causa do depósito de proteína tau em núcleos do tronco encefálico. Uma maneira de fazer esta avaliação é medindo a variabilidade da frequência cardíaca por meio de fotopletismografia11,12.
O uso da IA, com técnicas de machine learning e deep learning, pode favorecer o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer e de outras proteinopatias associadas a outras doenças que afetam a cognição, por meio da análise da proteína B-amiloide, proteína tau, marcadores de neurodegeneração e ressonâncias nucleares encefálicas estruturais, determinando novos modelos diagnósticos, que são testados pela própria inteligência artificial, elevando a acurácia e, potencialmente reduzindo custos13,14.
Portanto, há um grande campo de pesquisas com o uso da IA para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, sendo uma área promissora para o desenvolvimento de biomarcadores digitais.
*Marco Túlio Gualberto Cintra é presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).