• Guarde esta palavra: gerontecnologia. Ela vai ser essencial para o meu, o seu e o nosso futuro com saúde

    A gerontóloga Jessyka Bram
    Jose Renato Junior | 10 set 2021

    Quem nascia em 1900 imaginava viver até os 30 anos. De lá para cá, essa expectativa de vida da população mundial passou para 40, 50, 60, 70, 80 anos de idade… E não para por aí. 

    O aumento acelerado está relacionado aos avanços tecnológicos que possibilitam melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. 

    “A população está envelhecendo de maneira acelerada.” Essa frase tem se tornado rotineira nas mídias e na sociedade. Envelhecer não é mais privilégio de poucos. 

    Projeções realizadas pela Organização das Nações Unidas (mais especificamente, pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, em 2019) estimam que em 2050 os idosos de nosso país corresponderão a 30% da população brasileira. 

    Por que estou falando isso? Porque esses fatos nos levarão a um termo que emergiu na Europa, no final do século 20: a gerontecnologia.

    Geronto o quê? Segundo a Sociedade Brasileira de Gerontecnologia, esse termo reflete a combinação do estudo do envelhecimento humano (Gerontologia) com o sentido amplo da tecnologia, abrangendo os aspectos biopsicossociais do ser humano. 

    O intuito da Gerontecnologia é proporcionar ao idoso uma vida digna com melhores condições de saúde, maior mobilidade, independência, inclusão e interação social, conforto e segurança. 

    Portanto, pode ser aplicada em diversas condições – como pudemos observar durante a pandemia, com a necessidade do isolamento social e da comunicação por meios digitais.

    SOLUÇÕES GERONTECNOLÓGICAS JÁ ESTÃO ENTRE NÓS

    O que temos hoje em relação a soluções gerontecnológicas envolvem tecnologias assistivas, teleatendimentos, casas inteligentes, produtos “vestíveis”, assim como aquelas envolvidas em pesquisas na área. 

    Sensores de quedas, dispositivos para controle de medicações, celulares adaptados, animais de estimação robóticos interativos, jogos cognitivos digitais e aparelhos para melhorar as habilidades motoras e sensoriais (como o aparelho auditivo, por exemplo).

    Todos esses equipamentos são utilizados para atender às necessidades dos idosos a fim de proporcionar maior independência e qualidade de vida. 

    O seriado da Netflix Grace and Frankie é um bom exemplo: ele retrata bem a gerontecnologia em vários aspectos, além das questões relacionadas ao próprio processo de envelhecimento. 

    Já imaginou ter uma casa inteligente que o auxilie no dia a dia e que dê assistência à sua saúde por meio de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC)? 

    Por exemplo: uma casa que acende as luzes quando você chega e apaga-as quando você muda de ambiente? Ou que toca as músicas que você quer, em qualquer cômodo, para que você possa realizar seus afazeres ao som do seu cantor preferido? 

    Ou ainda uma casa que possui dispositivos que notifiquem as pessoas mais próximas caso você sofra uma queda e esteja ou more só? Pois é: essa casa existe.

    E é por meio dela que estudiosos buscam minimizar os impactos que podem trazer prejuízos para a saúde física, mental e social ao longo do nosso processo de envelhecimento.

    Um estudo realizado em 2011 com mais de 200 cuidadores de idosos com doença de Alzheimer, por exemplo, relatou que a utilização de TIC pode proporcionar melhorias na qualidade de vida, no cuidado e na segurança dessas pessoas. 

    Podemos depreender duas informações relevantes com a menção dessa pesquisa. A primeira delas se refere à data do estudo, pois evidencia que a gerontecnologia não é recente (se considerarmos o rápido avanço tecnológico), apesar de falar-se mais sobre isso no momento presente. 

    Já a segunda diz respeito à importância que a tecnologia tem para a qualidade de vida tanto daqueles sem doenças que podem alterar a funcionalidade no dia a dia quanto das pessoas que necessitam de cuidados diários. Ou seja, a gerontecnologia é inclusiva e é para todos.

    COMO UM ROBÔ EM FORMA DE FOCA ESTÁ AJUDANDO

    Outro exemplo muito interessante dos benefícios da tecnologia refere-se ao Paro. Você já ouviu falar dele? 

    O Paro é um robô em forma de foca, desenvolvido no Japão e certificado pela FDA (Food and Drug Administration, a agência reguladora ligada à saúde dos Estados Unidos) como dispositivo médico de biofeedback. 

    Ele é utilizado para realização de vários tipos de terapia assistida, assemelhando-se às terapias assistidas por animais (as chamadas pet terapias). 

    O Paro, que começou a ser desenvolvido em 1993, também tem mostrado efeitos benéficos no tratamento não-farmacológico de pessoas com demências. 

    Sua utilização já evidenciou melhorias nos sintomas depressivos e nos distúrbios de fala, assim como a diminuição da agitação dessas pessoas.

    Esses são apenas alguns exemplos de como a tecnologia pode ser usada para proporcionar bem-estar e independência do ser humano. E não precisamos ir muito longe para percebermos isso, basta olharmos para nós mesmos. 

    Se hoje vivemos 80 anos é porque nossa saúde, em seu sentido amplo, e a tecnologia apresentam resultados extraordinários quando evoluem lado a lado. 

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    Jessyka Bram é gerontóloga, cientista, pesquisadora e fundadora do Gerontologia sem Fronteiras

    SAIBA MAIS E BIBLIOGRAFIA

    Chiardelli, T.M. Tecnologias e envelhecimento ativo. 2020. Editora Senac São Paulo. São Paulo.  

    Hirt J, Ballhausen N, Hering A, Kliegel M, Beer T, Meyer G. Social Robot Interventions for People with Dementia: A Systematic Review on Effects and Quality of Reporting. J Alzheimers Dis. 2021;79(2):773-792. doi: 10.3233/JAD-200347. 

    Pilotto A, D’Onofrio G, Benelli E, Zanesco A, Cabello A, Margelí MC, WanchePolitis S, Seferis K, Sancarlo D, Kilias D. Information and communication technology systems to improve quality of life and safety of Alzheimer’s disease patients: a multicenter international survey. 2011. J Alzheimers Dis;23:131-41. doi: 10.3233/JAD-2010-101164.

    Shibata, T. Therapeutic Seal Robot as Biofeedback Medical Device: Qualitative and Quantitative Evaluations of Robot Therapy in Dementia Care. 2012.  Proceedings of the IEEE; 100(8):2527-2538. doi: 10.1109/JPROC.2012.2200559.

    Sociedade Brasileira de Gerontecnologia. 2021. Disponível em: https://www.sbgtec.org.br/#gerontech. Acesso em: 30.08.2021. 

    Sundgren S., Solt, M. Ethical issues related to the use of gerontechnology in older people care: A scoping review. 2019. Nursing Ethics, Feb;27(1):88-103. doi: 10.1177/0969733019845132.

    Nações Unidas. Department of Economic and Social Affairs, Population Division. 2019. Disponível em: https://population.un.org/wpp/Graphs/Probabilistic/PopPerc/60plus/76. Acesso em 30.08.2021.

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