Que aplicação hoje pode gabar-se de gerar um retorno de sete vezes – e em apenas um ano? Quando o investimento é bem estudado e feito em inovação, esse pode ser o resultado.
Pois foi exatamente isso o que conseguiu a Fidi (Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem). Um estudo recente mostra que, para cada R$ 1 investido em inovação no ano passado pela entidade privada sem fins lucrativos, R$ 7,16 voltaram como retorno para a sociedade.
O levantamento foi feito pela DOM Strategy Partners, consultoria com foco em estratégia corporativa e gestão de valor. Ele mostra retorno superior a R$ 730 milhões em serviços de saúde para a sociedade – tudo isso em cima dos R$ 102,2 milhões investidos pela Fidi em 2019. O documento leva em consideração 20 temas estratégicos – de aspectos quantitativos aos qualitativos.
“Resultados como esse reforçam a importância de empresas e fundações como a Fidi, que podem trazer alto impacto social e melhor uso do dinheiro público de maneira mais eficaz e com melhor qualidade”, afirma o médico radiologista Igor Santos, superintendente de Inovação da Fidi.
Responsável pela gestão dos sistemas de diagnóstico por imagem da prefeitura e do governo de São Paulo, a Fifi tem hoje sob sua tutela cerca de 85 unidades – ou 5% dos exames de imagens do SUS no país.
A instituição trouxe para o país ou desenvolveu ela própria ferramentas que ajudam a aumentar a eficiência do atendimento público. Um exemplo é um equipamento que antecipa a leitura do exame para os médicos radiologistas.
Isso não apenas adianta os achados críticos, mas também reduz o tempo de atendimento de forma inteligente, diminuindo também as horas médicas pagas pelo SUS – sem perda de qualidade.
Em 2020, com a pandemia, a Fidi incrementou a ferramenta e a aplicou em exames de imagem para diagnóstico de Covid-19. Os pacientes receberam os resultados de seus exames em menos tempo, fazendo com seu tratamento pudesse ser antecipado – ou os liberando para receberem os cuidados em casa, quando o rastreamento dava negativo.
No bate-papo abaixo, o radiologista Igor Santos conta um pouco sobre como a Fidi inova, como ajuda o SUS a ser mais eficiente, suas principais conquistas e os principais desafios – e muitas outras coisas.
A Fidi existe há mais de 30 anos. De lá para cá, quais foram as principais mudanças em sua forma de inovar?
A Fidi já nasceu inovadora, uma vez que foi criada justamente para melhorar a prestação de serviços de diagnóstico por imagem para o sistema público de saúde. Na época, não havia meios governamentais diretos para uma prestação de serviço com melhor qualidade. O próprio fato de ser uma empresa do terceiro setor já foi uma grande inovação.
Recentemente, a principal maneira de inovação se dá pela incorporação de tecnologias em vigência, desde a digitalização de processos até um sistema único de visualização de imagem para todas as unidades do estado e município.
Uma rede tão unificada de diagnóstico por imagem é algo que não está disponível em todas as empresas.
Somos o primeiro grande player de medicina diagnóstica do Brasil a implementar algoritmos de inteligência artificial para triagem de exames mais graves, em casos de hemorragia intracraniana, fratura de coluna cervical e tromboembolismo pulmonar.
Essa adição é recente em nossos serviços e fomos os primeiros do segmento. A Fidi também foi uma das primeiras instituições de grande porte a ter todo o seu armazenamento de imagens de exames em nuvem. Apesar de já ser uma realidade para muitas empresas, a Fundação adotou isso de maneira bem precoce.
Hoje, a Fidi inova com seu grande volume de dados. Por ser uma empresa que trabalha em mais de 80 unidades de saúde, fomos capazes de construir um big data de saúde.
A partir disso, temos uma visão epidemiológica bem detalhada do trânsito dos pacientes entre essas unidades e dos serviços de saúde em si.
Como exatamente, na prática, a Fidi ajuda o SUS a ser mais eficiente? Você pode me dar alguns exemplos?
A Fidi, por natureza, nasceu para ser eficaz com os gastos públicos em serviços de diagnóstico por imagem. Em todas as etapas, desde a recepção até o laudo do exame, implementamos tecnologia para fazer mais com menos.
Nosso objetivo é trabalhar com custos muito baixos e ainda entregar serviços com eficiência e qualidade.
Temos prazos superagressivos para entregas de resultados de exames, principalmente quando são emergência ou urgência e precisam ficar prontos em menos de duas horas.
Durante a pandemia de Covid-19, conseguimos economizar anos em tempo para o SUS.
Quando reunimos o tempo utilizado para cada paciente vemos 20% a 30% de redução de tempo para entrega de laudo, evitando que aguardem mais na fila. Conquistamos a premiação “Referências da Saúde” com este serviço. O fato de termos uma rede integrada de diagnóstico por imagem permite que médicos de todo o sistema público do estado ou município consultem os exames já realizados por pacientes, o que não provoca uma repetição dessa checagem por falta de acesso.
Isso facilita a busca do profissional e não gera custos a mais para o sistema de saúde.
Temos, ainda, um sistema de comunicação para achados críticos em exames – como a detecção de um câncer de mama, por exemplo. Assim que o exame é laudado, o médico responsável pelo pedido recebe uma notificação com o resultado. Isso possibilita maior velocidade de atenção à saúde para esses pacientes.
Quais as últimas grandes conquistas da Fidi que mais trazem orgulho para vocês?
Somos a primeira empresa de serviços de diagnóstico por imagem de grande porte do Brasil a implementar algoritmos de inteligência artificial. Com nossa tecnologia, conseguimos fazer uma análise do big data de pacientes atendidos no SUS.
Apenas durante a pandemia, atendemos mais de 30 mil pacientes com suspeita tomográfica de coronavírus.
Nas últimas três semanas, notamos um aumento de casos de coronavírus. O sistema de monitoramento nos permitiu maior agilidade para o tratamento desses pacientes. Projetos como esses nos dão bastante orgulho de poder gerar valor para a saúde pública.
O sistema implementado pela Fidi ajudou o sistema público de saúde de SP a economizar 60.710 horas, ou 6,9 anos, em exames relacionados à Covid-19. Como se deu isso e qual a importância de inovações como essa?
Uma vez que o médico observa uma suspeita de contaminação por coronavírus no pedido de exame, o caso é priorizado pela recepção da unidade. Por meio do nosso sistema, a imagem é distribuída com prioridade para os médicos radiologistas emitirem o laudo. Quando pronto, o exame retorna por meio de um sistema de achados críticos para os médicos solicitantes.
Dessa forma, conseguimos economizar 20-30% do tempo de atendimento desses pacientes.
Evitamos, assim, o contato entre pacientes que ficam esperando os resultados de exames, o que diminui as chances de contaminação. A importância desse tipo de inovação é justamente abrir um caminho para maior equidade no sistema de saúde. Conseguimos priorizar o atendimento daqueles que realmente precisavam. Vimos que foi possível, então queremos fazer o mesmo para casos de outras doenças também.
Como se dá a inovação dentro da Fidi? Quais caminhos ela percorre até chegar à solução final, apresentada para o SUS?
Quando você planta sementes para um processo de inovação, ele acontece naturalmente.
As inovações podem vir de maneiras distintas, desde parcerias com clientes da Fidi até com empresas de outros ramos.
Constantemente analisamos a quantidade enorme de dados que coletamos em 10 anos de operação e geramos inovação a partir disso. A digitalização e unificação do sistema também permitem que tenhamos um alicerce para inovar. Por fim, muitas oportunidades surgem inesperadamente, como aconteceu durante a pandemia de Covid-19.
Como vocês avaliam o atual cenário de saúde no país?
Podemos dividir em duas faces. Na primeira, com a pandemia, o Brasil sofreu grandes consequências. Contudo, falando do cenário positivo, nunca se investiu tanto em tecnologia na saúde como hoje.
Há muitas transformações acontecendo tanto no setor público como no privado para aumentar a eficácia e diminuir o desperdício.
Por mais que haja um cenário caótico, a pandemia acelerou drasticamente todos os esforços de tecnologia da saúde. Acreditamos que isso possa, de fato, levar a saúde da população a um patamar melhor, no qual serviços de qualidade serão prestados e o acesso à saúde poderá ser democratizado.
Quais os principais desafios que encontram?
Há diversos desafios na saúde pública. O investimento inicial é um dos maiores, assim como o sucateamento da infraestrutura. A digitalização, integração e padronização de dados, pelas quais lutamos todos os dias, são outros. Proporcionar uma melhor atenção à saúde também é uma luta diária com a qual a Fidi lida. Mas sabemos que são desafios superáveis, principalmente diante de tantas inovações e iniciativas surgindo.
O que a Fidi planeja para um futuro breve?
Esperamos uma reinvenção da empresa para caminhar em um sistema de saúde futuro, com uma nova maneira de se prestar atenção à saúde para a população. Em todas as áreas da saúde, inclusive na medicina diagnóstica, as formas de atenção ao paciente estão sendo reinventadas. Por isso, esperamos, ao mesmo tempo, transformar nosso modelo de negócio para que seja próspero nesse futuro mais tecnológico. Esperamos qualidade e democratização à saúde muito maiores e melhores.