• A solução de monitoramento remoto de dispositivos cardíacos da Biotronik cresceu 50% este ano. Entenda por quê

    Alex Montini, diretor geral da Biotronik: os planos de saúde começaram a perceber que monitorar e prevenir é mais barato que internar. Assim, a tecnologia Home Monitoring e o aparelho CardioMessenger deslancharam
    Jose Renato Junior | 4 nov 2020

    Uma das consequências da apreensão causada pela Covid-19 foi o aumento da aceitação da telemedicina para atendimento à distância – por parte tanto de pacientes como da comunidade médica.

    Com isso, não apenas vimos uma mudança de hábitos em pouquíssimo tempo, mas também a consolidação de empresas que oferecem a tecnologia para o mercado.

    Essa transformação toda resvalou na Biotronik, que viu crescer a procura por sua tecnologia Home Monitoring e pelo aparelho CardioMessenger.

    Segundo a empresa especializada em produtos cardiovasculares, houve um aumento de 49,5% nas vendas de janeiro a agosto de 2020, comparado com o mesmo período do ano passado. A pandemia foi determinante para isso.

    Com tamanho e aparência de smartphone, o CardioMessenger Smart (a atual geração do aparelho lançado em 2006) faz uma coleta diária dos dados de um marcapasso ou de um cardiodesfibrilador implantável (CDI) fabricado pela Biotronik.

    Caso o levantamento das últimas 24 horas da atividade cardíaca do paciente apresente algum evento fora do normal, seu médico será alertado por e-mail ou SMS que é preciso olhar o relatório atentamente para saber que atitude tomar.

    A coleta dos dados é feita pelo CardioMessenger toda madrugada, entre 0h30 e 1h30, que os envia (via GPRS ou 3G em cerca de 90 países) para a central da empresa na Alemanha. Em meia hora, o relatório já estará à disposição para consulta do cardiologista, que entra na base de dados por meio de login e senha.

    De qualquer forma, a tecnologia Home Monitoring é para manutenção, prevenção e antecipação de eventuais problemas cardíacos agudos, e não para dar alarmes de emergência.

    “Não é um aparelho de urgência. É um suporte adicional”, explica Alex Montini, diretor geral da Biotronik no Brasil, que trabalha na empresa desde 1999.

    A empresa estima que a tecnologia Home Monitoring reduz em 69,5% a necessidade de consultas presenciais de um paciente com dispositivo cardíaco implantável com seu médico.

    “Digamos que o paciente vá ao médico para a avaliação do marcapasso a cada seis meses, que é o que a gente normalmente vê”, explica Luciano Carneiro, cirurgião cardiovascular especializado em arritmias e devices, gerente médico da Biotronik desde 2018.

    “Esse é um período normal para ver quanta bateria resta, se houve gravação de alguma coisa importante, se é preciso ou não mexer nos parâmetros. Agora digamos que, com o CardioMessenger, você tem uma consulta dessas para ler os parâmetros todo dia sem precisar ir ao consultório”, diz.

    COMO FUNCIONA A TECNOLOGIA DO EQUIPAMENTO

    Luciano detalha todo o ciclo de um paciente com marcapasso (para suprir batimentos quando eles não têm o automatismo necessário) ou desfibrilador (para restabelecer o batimento e sua organização elétrica quando ela se perde).

    O paciente tem o dispositivo implantado e precisa retornar ao médico especialista em devices para realizar uma avaliação. Um aparelho chamado programador, semelhante a um laptop mas um pouco maior, recebe de uma antena de telemetria colocada sobre o peito do paciente implantado tudo que está gravado no marcapasso ou desfibrilador.

    Entram aí informações relativas a batimentos e parâmetros, como o fato de ele ter de entrar em ação, se funcionou da forma correta, se a pessoa teve alguma arritmia ou outro evento cardíaco.

    Esse conjunto de informações serve para fazer com que o dispositivo seja ajustado para trabalhar da forma que aquele determinado paciente precisa.

    Já com o CardioMessenger associado ao dispositivo implantado, as informações são coletadas constantemente. “Ele faz a leitura de todos esses parâmetros sem precisar do médico presente”, diz Luciano.

    “Desde como o marcapasso ou CDI está programado, se a impedância está alta e o eletrodo não entrega energia para o coração ou se está baixa e a energia está fugindo antes. Todo esse painel de parâmetros é medido diariamente, não só quando o paciente vai ao consultório”, analisa.

    Para que a coleta e o envio sejam realizado pelo aparelho no começo da madrugada, recomenda-se que ele seja colocado no mesa de cabeceira da pessoa implantada – o CardioMessenger pode sincronizar-se com o marcapasso ou desfibrilador numa distância de até 3 metros.

    O CardioMessenger Smart

    Cada aparelho só se comunica com um único dispositivo através do número de série sincronizado. E, é claro, só funciona entre produtos fabricados pela Biotronik.

    Na central da plataforma na Alemanha, um software analisa os dados criptografados coletados pelo CardioMessenger.

    Se algum dado foge ao que é considerado seguro ou normal, um “alerta amarelo” é enviado para o médico responsável por esse paciente, para que ele consulte a base de dados.

    Caso a pessoa tenha se sentido mal, o médico saberá disso no dia seguinte, mas já irá agir imediatamente. Vai ligar para o paciente e orientar para que ele vá a um hospital, faça um eletrocardiograma, tenha o marcapasso verificado para saber se é necessário fazer uma reprogramação – algo que só pode acontecer presencialmente.

    Mas, como se vê, não houve um alerta de urgência, apenas um monitoramento que permite que o profissional possa tomar decisões baseado em acontecimentos cardíacos das 24 horas anteriores.

    O gerente médico aponta que dois novos desfibriladores que chegaram recentemente ao mercado brasileiro permitem acesso a um novo recurso que não funciona com os dispositivos anteriores: o QuickCheck.

    No caso de o paciente com um desses desfibriladores novos e CardioMessenger entrar em contato com o médico reclamando de mal-estar, será orientado a ficar perto do aparelho por uns dez minutos.

    O profissional entra na plataforma central da Biotronik, aciona o QuickCheck e pede uma leitura extraordinária, fora daquela da madrugada, dos dados do CardioMessenger da pessoa.

    Em no máximo 15 minutos, o cardiologista terá todas as informações coletadas. “Usei o QuickCheck com um paciente com CDI há uns dois meses. Levou quatro minutos para eu obter na tela o que estava acontecendo”, conta o doutor Luciano.

    MUDANÇA DE VISÃO SOBRE A TELEMEDICINA

    A Biotronik foi fundada em Berlim em 1963 por um físico e um engenheiro alemães que desenvolveram numa garagem – bem ao estilo de gigantes de tecnologia que surgiriam no Vale do Silício nas décadas seguintes – o IP-03, primeiro marcapasso da Europa (já havia um nos Estados Unidos). Especializada em dispositivos cardiovasculares, a empresa cresceu, tornou-se global e entrou no Brasil em 1982, com sede em São Paulo.

    A tecnologia Home Monitoring e o CardioMessenger foram lançados em 2006 na Alemanha (e chegaram ao Brasil em 2010 após aprovação da Anvisa). O modelo inicial do aparelho era maior e se assemelhava mais a um celular antigo, inclusive com antena externa. Hoje, é bem mais compacto, similar a um smartphone de ponta.

    Esses aparelhos e dispositivos não são exatamente baratos. O CardioMessenger custa em torno de R$ 5 mil. Um marcapasso, cerca de R$ 10 mil. Um cardiodesfibrilador implantável pode chegar a R$ 80 mil ou R$ 90 mil. De qualquer forma, isso não impediu o crescimento de vendas.

    Planos de saúde passaram a se sensibilizar em relação a esses custos durante a pandemia, percebendo que, em longo prazo, ele é compensado pela redução de internações que a prevenção e monitoramento proporcionam.

    O diretor geral Alex Montini entende que o novo coronavírus mudou a visão de muita gente em relação a certas práticas.

    “O home office era uma tendência que vinha acontecendo, mas a pandemia acelerou aí em talvez cinco, seis anos a mentalidade das empresas com relação ao trabalho remoto”, aponta.

    “Aqui mesmo na Biotronik, uma empresa que era muito conservadora e reticente em relação a isso, fomos obrigados a fazer e os funcionários demonstraram que a produtividade e comprometimento podem ser iguais ou até melhores trabalhando de casa.”

    Ele prossegue: “Com a telemedicina, foi a mesma lição. Discutia-se que já era uma realidade, mas havia na classe médica uma barreira ideológica. Quando todo mundo se viu numa situação em que não se pode ir a um consultório, qual a alternativa?”.

    Segundo Alex, um médico de uma instituição muito importante entrou em contato com ele durante a pandemia e falou: “Eu não trabalhava com o CardioMessenger, mas agora eu preciso. Estou sem ninguém no consultório, preciso voltar a atender”.

    “Médicos que estavam resistentes viram na prática os benefícios”, afirma.

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