No começo de outubro, a imprensa internacional destacou uma grande notícia no combate à Covid-19. O molnupiravir, remédio experimental produzido pela farmacêutica americana MSD, reduziu em praticamente pela metade as chances de morte ou de hospitalização nos pacientes com risco de ter agravamento da doença.
Se aprovado, o antiviral será o primeiro medicamento eficaz contra a doença que, só no Brasil, deixou mais de 600 mil mortos em 19 meses. A empresa já entrou com pedido para uso emergencial da pílula antiCovid nos Estados Unidos – e conseguiu sua liberação no Reino Unido há duas semanas.
Não é a primeira vez que a MSD se encontra no centro dos holofotes ao longo da pandemia.
A outra ocasião foi um tanto mais peculiar e controversa.
Em fevereiro, ela precisou emitir um comunicado afirmando que não há base científica que indique que a ivermectina, um antiparasitário desenvolvido e comercializado pela MSD há 40 anos, seja efetiva contra a Covid-19.
Desde o início da pandemia, uma onda de desinformação tem espalhado que ela funciona contra a doença, por causa de um estudo australiano que indicou um efeito antiviral.
Mas pesquisas subsequentes já mostraram que as concentrações de ivermectina deveriam ser multiplicadas muitas vezes para ter algum efeito, o que seria tóxico para humanos.
A ivermectina rendeu até o Nobel de Medicina de 2015 à equipe que a desenvolveu.
É um motivo de orgulho para a empresa, mas Márcia Abadi, diretora médica executiva da MSD, precisa frisar que o grupo não possui registro nem comercializa o medicamento no Brasil – o que mostraria a espiral de fake news, difamação e mau uso político que tragou o produto.
Ivermectina sempre foi, e continua sendo, uma medicação usada, principalmente, em gado.
LONGA EXPERIÊNCIA NO COMBATE A DOENÇAS
Embora a atual pandemia seja única em alguns aspectos, como a velocidade da ciência em combatê-la, enfrentar crises assim também não é novidade para a MSD.
A empresa deixou de lado os dois projetos de vacina contra a Covid-19 para concentrar os esforços no tratamento.
Mas, no passado, ela criou vacinas infantis contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora. Contra doenças pneumocócicas, ebola, HPV, hepatite B e até para prevenir câncer.
“Nossa influência na pesquisa de antibióticos e no apoio ao controle da resistência de antimicrobianos e nosso protagonismo na luta contra o HIV desde os anos 1970, não só no controle, mas também na prevenção do vírus, são marcos que nos enchem de orgulho”, diz Márcia.
Ela ainda explica que 37% do faturamento bruto global da companhia são destinados à pesquisa e ao desenvolvimento.
Nos últimos tempos, a MSD tem passado por um processo de transformação digital que incluiu a integração de áreas em grupos multidisciplinares flexíveis e a criação de uma área dedicada à ciência de dados.
“Temos projetos de dados em praticamente todas as etapas da jornada de saúde do paciente, como seleção e recrutamento para testes clínicos e diagnósticos mais precisos em estágio inicial por meio de biomarcadores, ML [“machine learning” ou “aprendizado de máquina”] para análise de imagens, desospitalização e acompanhamento pós-alta”, explica Filipe Diniz, diretor de digital, dados e inovação da MSD.
“Todo o pipeline de novos produtos é extensivamente pensado com o apoio de ciência quantitativas.”
Além disso, a empresa vem estreitando o elo com o ecossistema de healthtechs por meio de uma frente dedicada à inovação aberta.
Filipe cita como um dos projetos mais avançados a parceria com a startup Laura em um programa de gestão antimicrobiana (“antimicrobial stewardship”, ou AMS) que monitora a condição de saúde do paciente analisando mais de 50 mil pontos em tempo real.
O médico recebe esse monitoramento em notificações no celular, assim ele já tem a informação trabalhada e pode dedicar mais tempo ao paciente e às necessidades dele e menos em trabalhos burocráticos e operacionais.
“Em média, a cada hora que um médico passa com o paciente, há duas horas de trabalho administrativo relacionado ao prontuário”, explica. Este ano, a MSD e a Laura devem levar a tecnologia a oito hospitais.
Para estimular esse clima de inovação, o laboratório investiu em uma plataforma de capacitação técnica, com estrutura “gamificada” chamada Universidade MSD.
É uma oportunidade para funcionários se atualizarem quanto a produtos, técnicas de vendas e interação com os clientes.
AQUISIÇÕES ESTRATÉGICAS
Em 2009, a MSD adquiriu a farmacêutica americana Schering-Plough, que, dois anos antes, havia comprado a Organon, empresa fundada nos Países Baixos, em 1923, com foco em saúde feminina.
Quase cem anos depois, a MSD reforçou essa vocação. Em 2020, ela anunciou que a Organon seria um spin-off dedicado às mulheres.
“Temos uma base sólida para buscar a liderança global em saúde feminina com um respeitado portfólio em contraceptivos e medicamentos”, diz Márcia Abadi. A nova Organon já surgiu com um faturamento de US$ 6,5 bilhões e 60 marcas.
No Brasil, uma aquisição importante foi a da Vallée, fabricante mineira de vacinas e medicamentos veterinários, que fez o braço de saúde animal da MSD dar um grande salto.
“Foi a maior aquisição da história do setor e, com ela, a MSD Saúde Animal se tornou líder no mercado”, conta a executiva.
A fábrica de Montes Claros (MG) é a segunda maior planta fabril da MSD no mundo e um dos maiores polos de produção de vacinas veterinárias da América Latina.
A inovação da MSD Saúde Animal se destaca na unidade de Joinville (SC), que produz tecnologias para identificar, rastrear e monitorar animais.
No começo do ano, o laboratório ainda criou uma nova unidade de negócios para aplicar a ciência de dados no setor, a MSD Saúde Animal Intelligence. Com tudo isso, a projeção é de um crescimento de 40% do faturamento até 2023.
UM LUGAR INCRÍVEL PARA TRABALHAR
O clima interno também vai bem, obrigado. A MSD Saúde Animal ganhou pelo segundo ano consecutivo, na categoria Remuneração, o prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar, concedido pelo portal UOL e a Fundação Instituto de Administração (FIA).
“Há alguns anos nosso time de líderes traçou como objetivo tornar a MSD uma empresa incrível, evoluindo em novas formas de trabalho com mais autonomia e uma verdadeira cultura participativa”, diz Filipe Diniz.
A história da MSD começou em 1668 com a farmácia de Friedrich Jacob Merck em Darmstadt, na Alemanha.
No século 19, a família começou a criar medicamentos, o que incluía até cocaína (que era usada e receitada como um eficiente anestésico).
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Merck & Co., filial da Merck nos Estados Unidos, inimigos da Alemanha no conflito, foi nacionalizada.
Após a guerra, a família comprou a empresa de volta e nisso surgiram dois grupos separados: a Merck alemã e a Merck & Co. americana – que, por razões legais, passou a ser conhecida fora dos EUA e do Canadá como Merck Sharp & Dohme (MSD).
Ao longo do último século, o laboratório participou de diversas frentes da saúde pública. O molnupiravir pode ser mais um grande capítulo nessa saga – ainda mais agora que a empresa, para facilitar o acesso ao medicamento, autorizou que países de menor renda produzam versões genéricas do medicamento.
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