A preocupação com a saúde e a qualidade de vida tem se mostrado crescente em todo o mundo e não deve ser uma moda passageira, principalmente no Brasil.
Para se ter uma ideia, entre 2010 e 2017, as famílias brasileiras gastaram mais do que o dobro com produtos e serviços relacionados à saúde e bem-estar na comparação com países da Europa e Estados Unidos, segundo o relatório Conta-Satélite de Saúde 2017, do IBGE.
A busca pelo equilíbrio entre saúde, mente e espírito já está no dia a dia de milhares de pessoas, a partir de microdecisões: frequentar espaços de bem-estar, relaxamento e ambientes pensados para socialização, estar em lugares que proporcionam conforto (iluminação, climatização, natureza) etc.
No entanto, o público já está entendendo a arquitetura como cura – e que momentos de desvinculação com a rotina são necessários e fazem a diferença também em outros âmbitos.
Trazer tudo isso para dentro do lar passou a ser o próximo passo, sobretudo com a pandemia, que amplificou a importância de viver em um lugar que reflete nossa saúde e bem-estar.
Neste contexto, ganha força dentro do mercado imobiliário o conceito de Wellness Building.
Ele nada mais é que a junção dos pilares dos conceitos green building, aquela projetada para causar pouco impacto ambiental, associados aos princípios de healthy building, que desenha as experiências de cada espaço, planta ou área abordando de forma holística os sete pilares de wellness que levam ao estado de bem-estar.
Ou seja, juntos esses dois conceitos focam em estabelecer uma balança equilibrada entre lazer, bem-estar e qualidade de vida.
Tal definição prioriza proporcionar estímulos positivos através de pilares importantes como localização, exclusividade, design, sustentabilidade, serviços – e, principalmente, saúde.
ARQUITETURA COMO INSTRUMENTO DE PREVENÇÃO E CURA
Para este último, as áreas são pensadas para reduzir a exposição a doenças, até por meio de ambientes que estimulam hábitos saudáveis, tornando a moradia um verdadeiro aliado imunológico.
Dentro desse conceito, a arquitetura da cura é aquela que a transforma em um verdadeiro santuário e enobrece a casa como local onde as coisas acontecem mais dentro do que fora.
O hall de entrada sinaliza a passagem para um local sagrado, onde você deixa o mundo exterior pendurado. A arte de receber em casa será o novo requinte, onde salas viram cenários de pequenos grandes concertos; as cozinhas, locais de conexão e as bibliotecas garantem a concentração.
Totalmente integrada ao conceito de wellness building, a consciência sobre a influência do ambiente como um instrumento de cura e prevenção traz reflexões importantes, em que novas escolas buscam entender quais impactos a arquitetura pode causar na fisiologia do corpo humano.
A chamada neuroarquitetura procura demonstrar, a nível fisiológico, como a exposição a ambientes cercados de natureza reduzem a liberação de hormônios de estresse como cortisol e adrenalina, por exemplo.
A biofilia passa a ser utilizada como terapia e a ciência passa a explicar com neurotransmissores o que nós sentimos como bem-estar.
MORAR APENAS NÃO É MAIS SUFICIENTE
O conceito de saúde e bem-estar dentro de casa já é uma realidade. E, com a pandemia, a necessidade de morar em um lugar que realmente ofereça algo além do “espaço” ficou latente e imediata, passando a ser um ponto fundamental na escolha do imóvel.
Apenas morar já não é mais o suficiente.
É preciso viver, sentir, ter a experiência e sensação de que estando em casa você tem segurança, saúde, bem estar, aconchego ou seja, tudo o que precisa em um único lugar.
Além disso, a pandemia fez com que uma nova consciência social sobre os espaços urbanos e o consumo regional passasse a ser potencializada e valorizada. Planejamento urbano será chave fundamental para garantir a qualidade de vida de uma população.
As pessoas terão a necessidade e o desejo de viver em bairros fáceis, arborizados, onde não é preciso se deslocar tanto para ter acesso aos serviços que facilitam o seu dia a dia.
Na verdade, a necessidade pelo bem-estar é uma premissa que já vem de muito tempo. Civilizações gregas, romanas e asiáticas influenciaram o conceito de wellness que existe atualmente, e cada vez mais pessoas buscam o equilíbrio para uma vida mais saudável.
Amplitude e materiais diferenciados ajudam a criar esse ambiente de refúgio, que também pode estimular a produtividade.
Espaços atrativos e convidativos estimulam a estadia dos moradores, a realização de atividades saudáveis e até mesmo as interações sociais.
Essa nova tendência do setor reflete o esforço incessante do equilíbrio físico, mental e espiritual pelos residentes, que não apenas buscam por uma vida mais saudável, mas também querem desfrutar de pequenos prazeres do cotidiano que são esquecidos na rotina – e que estes novos edifícios podem trazer com microrrituais que a própria arquitetura influencia os moradores a criar.
Esses aspectos acabaram se acentuando ainda mais com a necessidade de isolamento social. E os reflexos já podem ser medidos em números.
Ao longo dos dois últimos anos, a procura por edifícios focados em wellness cresceu 22%, principalmente em projetos residenciais, segundo estudo realizado pelo GWI (Global Wellness Institute). Em 2020, este era um mercado de aproximadamente US$ 275 bilhões, e a expectativa é que no fim deste 2022 chegue a US$ 919 bilhões.
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Andressa Gulin é médica especializada em inovação e tecnologias exponenciais pela Singularity University – NASA e Head de Inovação e Estratégia da AG7, onde ajuda a implementar no Brasil projetos de wellness real estate. Já participou do TEDx Talks e foi primeira médica da América Latina certificada pela FitWell.