• Universitários baianos criam fio dental sustentável – e acessível

    Ingra Medeiros, professora do curso de odontologia da Unime
    Ingra Medeiros é professora do curso de odontologia da Faculdade Unime. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 9 nov 2022

    O acesso à saúde também passa pela higiene pessoal, já que a rotina de limpeza do corpo ajuda a evitar o desenvolvimento e a proliferação de doenças.

    E isso inclui, claro, a higiene bucal. De acordo com um estudo realizado em 2014 por pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), o custo médio de aquisição de produtos de higiene bucal na região Nordeste do país era de R$ 9,60 ou 2% de um salário-mínimo. 

    O maior custo foi verificado para o fio dental (R$ 5,10), seguido do dentifrício fluoretado (R$ 2,80) e escova de dente simples (R$ 1,70). Nesse sentido, o uso de métodos alternativos para o fio dental parece ser o melhor caminho a se seguir, devido ao seu alto custo, baixa durabilidade em comparação a escovas de dente e da comprovação de sua efetividade.

    Foi a partir desta constatação que a Faculdade Unime, de Lauro de Freitas (BA), criou o Projeto “Fio a fio – tornando o fio dental acessível à comunidade”. A iniciativa, que reúne professores e estudantes do curso de odontologia, faz uso de sacos de ráfia – fibra de palmeira usada para fabricação de sacos para transporte de frutas ou de pequenas cargas – para confeccionar o fio dental sustentável.

    Em seguida, o produto é distribuído à população local juntamente com um kit odontológico, composto também por escova e creme dental. Ingra Medeiros, coordenadora do projeto e professora do curso de odontologia da Unime, declara:

    “A escovação dentária e o uso do fio dental são o meio mecânico individual de mais ampla utilização para o controle da placa dental no mundo.” 

    “Uma das possibilidades para que a população carente mantenha o controle do biofilme dental é incentivar o emprego de métodos alternativos de higiene bucal, pois são acessíveis economicamente e permitem o alcance coletivo, causando impacto social positivo”, completa.

    Como o fio dental sustentável é produzido?

    O projeto, iniciado em 2020, aconteceu porque a faculdade de odontologia mantém um projeto de entregar escovas de dente para a comunidade local por meio de programas de estágio extramuros, ou seja, realizados pelos alunos fora da instituição de ensino. 

    “Percebemos que muitas famílias relatavam que não tinham o fio dental para a higiene bucal. Ouvimos de algumas crianças que os pais não tinham dinheiro para isso. Então, criamos um projeto de pesquisa para tornar o fio dental acessível à comunidade, aliado à sustentabilidade”, esclarece a professora.

    O primeiro passo foi encontrar um material que fosse parecido com o fio dental. E a ráfia foi a opção mais viável. 

    “Começamos uma pesquisa sobre o valor dessa matéria-prima no mercado e, em seguida, fizemos uma busca ativa para estabelecer parceria com fornecedores”, conta Ingra.

    A professora descreve também como funciona o processo de fabricação do fio dental sustentável. “O primeiro passo é desfiar o saco, puxando os fios pelas pontas, que sairão facilmente. Os fios de ráfia são separados dos sacos e depois são cortados para facilitar o seu uso.”

    “Quando os fios estão soltos, são desinfetados com uma solução contendo água e hipoclorito (água sanitária) durante 30 a 60 minutos. O processo pode ser repetido duas ou três vezes de acordo com a necessidade. Depois, é feito o enxague abundante, que remove toda a substância desinfetante e a secagem em ambiente fresco e protegido. Por fim, o material é separado e empacotado para distribuição”, detalha.

    Porta de entrada para outros serviços

    A ideia não é comercializar o material ainda. O foco inicial é atender as pessoas mais carentes. “A distribuição do fio dental ocorre na nossa clínica escola e nos estágios extramuros, em parceria com a faculdade”, conta Ingra.

    Além disso, a Unime promove oficinas para ensinar a população a confeccionar seu próprio fio dental. “Levamos toda matéria prima para a produção do fio, junto com o material de apoio explicativo sobre todo o processo”, explica Ingra.

    “Nesse momento, trabalhamos com atividades educativas para a comunidade assistida na área da saúde, e aproveitamos para abordar outros temas, como mitos e verdades sobre tratamento odontológico na gestação, prevenção ao abuso sexual contra crianças e adolescentes, entre outros”, comenta a professora.

    Confira Também: