• Como um trio de residentes criou o “Google da medicina”: conheça a história da PEBMED

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    Eduardo Moura (COO da PEBMED, ao centro) conta como ele e os sócios Pedro Gemal (CTO, à esq.) e Bruno Lagoeiro (CEO, à dir.) criaram uma startup que atende 200 mil médicos e foi adquirida pelo maior conglomerado de educação médica do Brasil.
    Jose Renato Junior | 23 maio 2022

    No início dos anos 2010, três candidatos à residência na Clínica Médica da Universidade Federal Fluminense (UFF) encontraram uma brecha na agenda apertada de quem está se formando em medicina para se dedicar a um hobby pouco comum entre médicos: desenvolver aplicativos.

    Sem saber no início da empreitada, Pedro Gemal, Eduardo Moura e Bruno Lagoeiro, criaram o que viria a se tornar uma espécie de “Google da medicina”. O apelido refere-se à PEBMED – o nome leva a inicial de cada um dos fundadores e a sigla relativa à Medicina – site de notícias médicas com acesso livre e gratuito, que reúne papers, revistas científicas, novas diretrizes e conversas sobre carreira em 36 especialidades médicas a fim de manter o profissional da saúde atualizado.

    “A PEBMED pode servir a qualquer médico de qualquer especialidade ou faixa de formação. Não há um perfil específico e também há áreas reservadas para assinantes, mas ele também gera receita com venda de mídia e patrocínio”, descreve Eduardo.

    “A empresa nasceu em 2012. O Pedro era muito ligado em tecnologia e transformou seu TCC em um aplicativo sobre semiologia médica, disciplina na qual ele era monitor. Ele colocou na loja de aplicativos só para testar”, relembra. 

    Por gostar muito de fazer resumos do conteúdo das disciplinas na graduação – requisitado por colegas, inclusive –, Eduardo ficou responsável pelos conteúdos. Pedro, por sua vez, era quem tinha uma visão de marketing e negócios mais ampla. 

    Com os papéis de cada sócio bem definidos, o trio começou a lançar vários aplicativos, vendo alguns deles serem muito baixados para algo que era feito de forma leve, sem pressão, divulgado somente para colegas de faculdade. Alguns aplicativos chegaram a ter mil downloads um mês.

    “À época, os três estudavam para a prova de residência médica em clínica geral, e para isso, você acaba revisando sobre várias áreas da medicina. Isso nos forçou a revisitar todos os assuntos. Aproveitamos essa necessidade para reunir toda essa informação de forma compilada e resumida. De 2012 a 2015, o tempo que durou nossa residência, lançamos mais de 20 aplicativos, e eles sempre figuraram no top 10 da área médica na Apple Store, por exemplo”, conta.

    Puxados por Bruno – o mais empreendedor do grupo – o trio passou a frequentar eventos e palestras sobre empreendedorismo e ecossistemas de startups, um movimento que começava a surgir com força pelo país. Em 2015, eles ouviram de um investidor que faltava eles levarem o hobby a sério.

    “Esse mesmo investidor nos conectou com uma aceleradora no Rio, a 21212. Passamos, então, por um processo de seleção deles e fomos escolhidos. As aceleradoras em geral viram sócias da empresa, ajudando na profissionalização. Eu diria que o processo de aceleração deles é como se fosse um mini MBA intensivo. Aprendemos de tudo um pouco para sobreviver como empreendedores. Lá dentro começamos a construir nosso time de tecnologia, desenvolvedores, marketing, design. Fizemos um time de tecnologia bem enxuto, mas que já dava pra tocar a startup”, relembra Eduardo.

    Carro-chefe

    Com o time formado, era hora de encontrar um modelo de negócios. Apesar de já terem dezenas de aplicativos na praça, o trio focou no Whitebook – o mais completo e com mais potencial de ser escalonado. 

    Whitebook - PEBMED
    O Whitebook, principal produto da PEBMED, substitui as folhas de papel e traz informações sobre protocolos de procedimentos, alertas e indicações de remédios.

    Atualmente, o Whitebook é utilizado por mais de 200 mil profissionais – 130 mil deles, assinantes. “Ano passado, tivemos mais de 3,5 milhões de acessos. Ou seja, foram 3,5 milhões de condutas médicas tomadas com o apoio da nossa plataforma em 2021. Isso gera um impacto enorme para a saúde do Brasil”, declara Eduardo.

    Além da maioria de usuários brasileiros, o app já atende médicos em países como Angola, Argentina, Bolívia e Paraguai. 

    O modelo de negócios é freemium, ou seja, há uma ampla gama de conteúdos disponibilizados de forma gratuita para atrair usuários e a opção de assinatura para acesso a conteúdos exclusivos.

    Como um dos CEOs, Bruno Lagoeiro, contou ao Projeto Draft, o nome Whitebook remete à centenária prática de estudantes e profissionais de medicina de levar, no bolso do jaleco, um caderno de anotações. 

    “A ideia é que o Whitebook substitua as folhas de papel pela tecnologia mobile e seja um guia que auxilia o médico nos próximos passos. Nosso sonho é que ele seja tão importante para o médico quanto o estetoscópio”, disse Bruno à época.

    O Whitebook é atualizado constantemente com informações objetivas, focadas em protocolos e procedimentos. Ele também emite alertas, indica medicações e se baseia em bibliografia nacional e internacional e em médicos consultores, abastecendo o médico com informação relevante e urgente, para ser usado à qualquer momento pelo profissional, de consultas a atendimentos de emergência. 

    Eduardo Moura resume:

    “Entendemos que o Whitebook tem um potencial para todo tipo de médico, mas existe um usuário mais ferrenho da plataforma que é o médico de perfil mais generalista, que lida no dia a dia com as mais diversas doenças. Então, para quem precisa checar uma informação à beira do leito, nossa plataforma é rápida e eficiente.”

    Caminhos futuros

    Em 2019, o trio lançou o terceiro produto para valer: o NurseBook – semelhante ao Whitebook, mas focado a profissionais da enfermagem. O lançamento foi impulsionado, pouco tempo depois, pela aquisição da PEBMED pelo maior conglomerado de educação médica do Brasil, a Afya, que já apresentamos aqui em Future Health

    “A Afya é líder em educação médica no Brasil, a gente era líder digital com nossos produtos. Então, foi um movimento natural”, relembra Eduardo.

    Hoje, o plano é amadurecer e consolidar a Afya no mercado digital. A PEBMED foi a primeira empresa – dentre outras dez – adquirida pelo grupo em busca desse movimento. 

    Outros exemplos são a Iclinic, empresa que gera um prontuário digital para o médico e é também uma ferramenta de gestão para o consultório, incluindo maquininha de cartão. No mesmo movimento, a Afya adquiriua a RX Pro, que conecta a indústria farmacêutica e o médico.

    “Estamos construindo, aos poucos, um ecossistema integrado que gera uma enorme e relevante quantidade de dados sobre assistência em saúde. Esse movimento gerou uma nova iniciativa, chamada Research Center, que é basicamente pegar esses dados que capturamos em diversas plataformas para gerar inteligência de mercado”, descreve Eduardo. 

    Para as ambições digitais da Afya, estreitar os laços entre médico e paciente é um dos principais objetivos. 

    “Tanto a Afya quanto a PEBMED nasceram de médicos empreendedores. Isso nos ajuda a estar sempre ao lado do médico, trabalhando para agilizar e facilitar o dia a dia dele. A ideia é acompanhar a carreira do médico desde a graduação, passando pela sua prática diária até a aposentadoria”, conclui Eduardo.

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