• Como a sextech Lilit nasceu da indignação de uma publicitária com a falta de intimidade das mulheres com seus corpos

    Marília Ponte, a criadora da startup Lilit
    Jose Renato Junior | 19 jul 2021

    O bem-estar sexual está na pauta. Da imprensa, das mulheres, das redes sociais e das empreendedoras. Falar de sexo e desenvolver produtos ligados ao tema saiu da esfera do mercado erótico para se tornar assunto de saúde física e mental.

    As sextechs e femtechs estão crescendo no planeta, inclusive no Brasil. O mercado de sexual wellness (bem-estar sexual) deve arrecadar US$ 108 bilhões em todo o mundo até 2027, de acordo com levantamento realizado pelo instituto Allied Market Research.

    E o mais interessante: o ecossistema de empresas e startups que criam e inovam no negócio de sexualidade é liderado por mulheres de olho no protagonismo feminino e nas mudanças de comportamento da sociedade.

    Quem conta essa história com propriedade é a publicitária Marília Ponte, criadora da startup Lilit

    Após trabalhar por quatro anos na Endeavor, organização voltada para o desenvolvimento do empreendedorismo, pesquisar muitas referências de empreendedoras estrangeiras e se deparar com o potencial do mercado de sexualidade, ela decidiu investir no desenvolvimento de seu bullet.

    Polivalente, o bullet é um minivibrador com cinco estágios de vibração, feito com plástico ABS de toque aveludado, recarregável e resistente à água. 

    A sextech foi criada em agosto de 2020 e até agora já vendeu 2300 unidades e faturou mais de R$ 660 mil.

    AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES?

    Para chegar em um modelo ideal, Marília foi entender o que as mulheres buscavam. Desde o formato, passando pela potência, até toda comunicação visual da marca, a Lilit vende um produto com a finalidade de ensinar a mulher a ter prazer, conhecer o próprio corpo e lidar com a sexualidade de maneira leve e segura.

    Após uma pesquisa virtual com 3 mil mulheres, Marília notou que 30% delas já haviam testado um vibrador no Brasil, mas a grande maioria não ficou satisfeita com a experiência. 

    A etapa seguinte foi reunir grupos focais para entender como as clientes consumiam produtos, como vibradores. 

    “Vimos que as mulheres os guardavam escondido numa sacola, embaixo da cama, na gaveta”, conta a empreendedora. 

    “E usavam quando estavam sozinhas, depois que o marido tinha ido trabalhar, pois não tinham tido a oportunidade de sentir prazer durante a relação. Foi importante para validarmos o quanto é uma questão tabu ainda.”

    O bullet da Lilit

    A CRIAÇÃO DO BULLET PERFEITO

    Além dos resultados das pesquisas, Marília contou com uma designer industrial, uma terapeuta tântrica e muita busca por materiais e formatos para criar seu bullet. 

    “Quando começamos a vender e receber os feedbacks, entendi que essa busca feminina por bem-estar sexual tem muito menos a ver com o produto em si. É mais sobre ter um espaço seguro para falar de uma forma mais educativa, sem tabu e livre de vergonha. O vibrador é só uma ferramenta”, revela Marília.

    Empreender em uma sextch veio da indignação da publicitária com a falta de informação que as mulheres têm sobre sua própria sexualidade e seu corpo. 

    “Mulheres de todas as classes sociais e níveis de escolaridade ainda enxergam o prazer feminino com muito preconceito”, conta. 

    “Eu tive uma educação sexual até que saudável, graças a minha mãe que sempre mostrou que sexo era algo natural e bom, mas sei que para a maioria não é bem assim.  Isso tem muito a ver com a razão de existir da Lilit.”

    Em sua busca de dados, Marília descobriu que 50% nunca tinha tido um vibrador na vida e 25% nunca tinham visto um recarregável. Outro dado que chamou a atenção: a média de idade das clientes é 39 anos.

    “Estamos vendo que muitas mulheres que se identificam com a Lilit não se interessam por um sex shop tradicional e precisam desse suporte de comunidade, com uma comunicação mais afetuosa, com conteúdos educacionais, querem aprender”, conta. 

    “Nossa identidade, as cores e posicionamento são voltados para uma mulher mais madura, não necessariamente de idade, mas em relação a seu corpo e sexualidade.”

    DEMANDA REPRIMIDA ATRAI INVESTIDORES

    De acordo com Marília, o consumo de marcas de bem-estar sexual, incluindo vibradores, lubrificantes e cosméticos naturais, tem uma demanda reprimida muito grande, por isso o interesse do mercado e de investidores nesse nicho.  

    “Nunca tivemos muito acesso a produtos voltados especialmente para nós como uma forma de autocuidado”, diz Marília.

    Por trás do sucesso das sextechs está o interesse cada vez maior das mulheres em falar do assunto abertamente, em ter seus desejos reconhecidos e acolhidos pelo mercado, que é indiscutivelmente focado no público masculino.

    Para crescer e se diferenciar nesse universo, a Lilit já está desenvolvendo mais quatro produtos voltados para o bem-estar sexual feminino, que devem ser lançados no próximo ano.

    Outro plano é o desenvolvimento de uma plataforma de conteúdo educativo que irá além dos contos e dicas presentes hoje no site da marca. 

    A ideia é ter espaços com conteúdo e pesquisas sobre prazer, sexualidade feminina e segurança íntima. “Queremos proporcionar a educação sexual que não tivemos”, afirma Marília.

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