• A Pipo ajuda empresas a escolher e gerir planos de saúde. Mas não é só por isso que atraiu apoio do CEO do Nubank…

    A healthtech de Vinicius Correa, Manoela Mitchell e Thiago Torres – que tem David Vélez e Maurício Barbosa, fundador da Bionexo, como investidores – conta com algo importante em tempos atuais: uma política de diversidade forte, com CEO e 54% de seu quadro composto por mulheres. (Foto: Marcella Ferrucci)
    Jose Renato Junior | 27 out 2020

    É sempre importante para qualquer empresa adquirir um bom plano de saúde para a cobertura de seus funcionários. Em tempos de pandemia, a importância é redobrada. Mas escolher a operadora mais adequada – e, depois, monitorar sua utilização e tentar evitar reajustes muito altos – pode ser um dilema para um RH.

    Há quase um ano e meio, surgiu em São Paulo uma startup para auxiliar e facilitar essa missão: a Pipo Saúde, que recebeu um aporte de 4,6 milhões de dólares no meio do ano e atraiu como anjo até o CEO do Nubank, David Vélez.

    Manoela Mitchell, paulistana de 28 anos que é cofundadora e CEO da Pipo, conta como a empresa recebeu tal apoio: “A gente fez uma rodada pública que foi coliderada por dois fundos, a Kaszek e a Monashees, e teve participação da ONEVC e alguns anjos, como o David Vélez e outros do setor da saúde, como o Maurício Barbosa, fundador da Bionexo”.

    O interesse do homem forte do Nubank foi ajudado por um fator: Vinícius Correa, outro dos três cofundadores da Pipo, havia trabalhado antes no banco digital por cinco anos e tinha contato próximo com Vélez.

    “A gente conseguiu uma oportunidade de apresentar a ideia para o David. E, antes de fundar o Nubank, ele foi investidor como eu”, relembra Manoela, que atuou por sete anos no mercado financeiro. “Ele conhecia bem o setor de saúde e nos falou que a área vai mudar muito porque não pode continuar assim como está. Então, deu suporte para a gente desde o começo e é um mentor também que nos ajuda bastante no dia a dia.”

    TENTATIVA, ERRO E ACERTO

    Esse começo oficial se deu em julho de 2019, quando a Pipo Saúde foi lançada. Mas houve um preâmbulo com tentativas e erros até que a nova empresa definisse seu conceito e se concentrasse na gestão de benefícios de saúde para o setor corporativo.

    Os primeiros passos foram no segundo semestre de 2018. Manoela e Thiago Torres foram colegas na faculdade de economia da Universidade de São Paulo e trabalharam no mercado financeiro com uma forte ligação com o setor de saúde. Para os dois, estava claro que essa área precisava mudar, porque não é sustentável a forma que funciona.

    “A saúde é muito cara, inacessível, extremamente burocrática e morosa para os usuários, sejam empresas ou indivíduos”, conta Manoela.

    “A gente começou um trabalho de pesquisa porque queria montar alguma coisa.”

    Depois de observar o mercado do exterior, a primeira ideia foi a criação de um sistema de redução de fraudes nos planos de saúde. O que motivou Manoela e Thiago, segundo ela: hoje, 40% dos gastos em planos de saúde são considerados fraudulentos ou abusivos.

    “Às vezes, a pessoa fica internada muito mais dias do que precisava porque um hospital ganha de acordo com os dias de internação”, diz.

    “Mesmo que ela pudesse ter alta, o médico a deixa ali porque o hospital quer fazer dinheiro.”

    Mas essa primeira ideia não deu resultados para os novos empreendedores. Entre outros fatores, um dos principais foi que pouquíssimas operadoras de planos no Brasil (basicamente, só as cinco maiores entre as mais de mil que atuam no país) poderiam pagar pelo serviço que os novos empreendedores ofereciam.

    Mesmo com o primeiro revés nas expectativas, os sócios não desistiram e buscaram novas saídas. Chegaram a cogitar trabalhar como uma solução contra fraudes para clientes das operadoras. Mas acabaram definindo seu foco como uma corretora de saúde 100% digital – um serviço de compra e gestão de planos para empresas.

    Com a entrada de Vinícius Correa na empreitada, finalmente surgiu a Pipo do jeito que é hoje. O trio fundador hoje tem Manoela como CEO, Thiago como COO, de olho no operacional, e Vinícius como o CTO, que se concentra na tecnologia

    DE OITO PARA 55 CLIENTES DURANTE A PANDEMIA

    A Pipo atende empresas médias-grandes que tenham de 100 a 700 funcionários. Plataforma digital, a startup ajuda na aquisição e gerenciamento de benefícios de saúde – o que não se resume aos planos de saúde, mas também planos dentais, seguro de vida e a parte de saúde emocional.

    A pandemia fez a Pipo ter um grande crescimento em 2020. Em março, quando a Covid-19 acionou o alarme no Brasil, a startup possuía oito clientes. Em outubro, esse número já estava em 55.

    A iniciativa, que começou com apenas os três fundadores (a primeira contratação só ocorreu um mês depois do início da operação), já conta com 50 funcionários, todos em trabalho remoto.

    Eles não se concentram apenas em São Paulo, onde fica o que Manoela chama de “quartel-general”, mas em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão.

    A Pipo contava com um QG no bairro paulistano de Pinheiros, mas devolveu o imóvel, muito por causa da pandemia. A startup até procura outro local para voltar a ter uma sede física, mas o trabalho remoto é prioridade. Segundo Manoela, ninguém tem obrigação de comparecer ao escritório da empresa em momento algum.

    Até porque oferecer o serviço de consultoria pode ser todo realizado remotamente.

    “A gente ajuda as empresas a escolher o plano de saúde certo para elas entre os mais de mil que podem ser comprados no Brasil”, diz Manoela.

    “Não é um artigo fácil, é quase como um fundo de investimento para pessoa física: existe um trilhão de opções, um trilhão de características. O trabalho do corretor é entender a necessidade do cliente – em que cidade os funcionários estão, quais hospitais cobrem aquela região, como eles utilizam o plano – e encontrar o mais adequado, tanto em termos de custo como de rede credenciada.”

    A Pipo vai entregar para o cliente as principais cinco opções, indicando uma que é a mais recomendada. A decisão final para a escolha, porém, é sempre da empresa. “A gente não pode impor. Nosso trabalho é bem consultivo, de auxílio mesmo”, fala a CEO.

    A CEO Manoela Mitchell: preocupação em ter uma empresa diversa

    ACOMPANHAMENTO DO CLIENTE NO DIA A DIA

    Muito bem, escolhida a operadora de saúde, concretizada a compra, acabou o trabalho da Pipo? Nada disso. É justamente o que vem a seguir que é a etapa mais complicada e muito importante: ajudar o cliente a gerenciar esse plano que adquiriu.

    É preciso que o corretor se preocupe em sempre acompanhar as necessidades do cliente, como adicionar um novo funcionário ao plano, revisar valores das mensalidades, como alocar valores nas folhas de pagamento em casos de coparticipação dos empregados, calcular um reajuste que não seja tão alto ao medir o uso que foi feito do plano (no qual se baseia o reajuste das operadoras)…

    “Ajudar as empresas a comprar é importante, mas muita gente pode fazer isso. Mas o que a gente considera nosso grande diferencial é esse pilar de gestão, de ajudar a cuidar dos benefícios de saúde no dia a dia”, diz Manoela.

    “Essa segunda parte é invisível aos olhos do público, mas é essencial e bastante trabalhosa.”

    Ainda há uma terceira proposta de valor da Pipo: o concierge de saúde. Há um time de atendimento que cumpre essa função de estar à disposição das empresas-clientes e seus funcionários para tirar dúvidas básicas por WhatsApp, chat ou e-mail. O concierge pode ajudar a questões desde o valor do reembolso até indicar um médico ou hospital.

    POLÍTICA DE DIVERSIDADE

    Algo a se destacar é a forte política de diversidade que a Pipo Saúde estabeleceu em sua administração – a começar pela própria CEO mulher, o que é raro no universo das healthtechs.

    Se no comecinho a proporção de funcionários era de 70% de homens para 30% de mulheres, hoje os números são de 46% de homens para 54% de colaboradoras femininas. Além disso, a startup investe na criação de vagas para negros e pessoas trans.

    “A gente nasceu com esse olhar muito preocupado com diversidade. Eu, como mulher, sempre tive foco nessa vigilância”, afirma Manoela.

    “Não dá para apenas falar ‘ah, eu gosto de diversidade, vou colocar no meu site e ver o que acontece’. Se você tiver essa postura do ver o que acontece, vai ter uma empresa recheada de homens héteros brancos.”

    Ela prossegue contando como a Pipo procurou ir além do mero discurso: “Olhamos para minorias desfavorecidas e fomos ativamente atrás dessas pessoas, postando vagas em entidades e organizações. Depois, criamos vagas exclusivas para negros, para mulheres e para pessoas trans”, enumera.

    “Hoje temos cerca de 5% de funcionários trans e 27% de negros e pardos. E as mulheres são maioria e ocupam mais cargos de liderança. A diversidade também é de idade, com pessoas mais velhas que não conseguiam se recolocar no mercado de trabalho. É a política da empresa e eu súper me orgulho.”

    Além disso, foi estabelecida o que a empresa chama de licença parental no lugar da mera licença-maternidade.

    Qualquer pessoa, homem ou mulher, que tiver um filho biológico ou adotivo terá o mesmo tempo de afastamento e remuneração integral.

    Ainda tão recém-criada, qual é a meta de futuro da startup? Uma só: se colocar no topo de sua área.

    “A visão que a gente tem é a de botar de pé a melhor corretora de seguros de saúde do Brasil. Ser a melhor significa clientes e RHs felizes, assistidos em relação à saúde dos funcionários e gastando pouquíssimo tempo fazendo rotinas operacionais”, define a CEO da Pipo.

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