• Em vez de incinerar medicamentos perto de vencer, por que não doar? É o que propõe a PegMed, que conecta farmacêuticas a instituições filantrópicas

    A ideia que nasceu em um bar e virou uma startup de logística reversa combate o desperdício de produtos e ajuda quem precisa. Os três sócios, que são parentes, querem conectar mais indústrias na plataforma criada para alcançar o Brasil todo – e até os países vizinhos
    Jose Renato Junior | 12 maio 2021

    Há bares que vêm para o bem. A sabedoria popular, que transformou o velho ditado, não poderia estar mais certa em relação ao negócio de Rodrigo Miranda, seu irmão Leonardo e o cunhado Marco Gazale, a PegMed.

    A startup criou uma plataforma que conecta os players da indústria farmacêutica com instituições filantrópicas para que estas últimas recebam, como doação, sobras de medicamentos, materiais hospitalares e cosméticos ainda no prazo de validade – mas que seriam descartados.

    A ideia inicial da empresa surgiu quando, no Réveillon de 2017 para 2018, Rodrigo estava com Marco em um boteco e sua esposa telefonou dizendo que ele tinha que comprar um medicamento para o filho deles.

    “Eu estava protelando, pois dia 31 de dezembro Copacabana é um inferno”, lembra ele. “Foi quando o Marco falou: ‘Cara, com todos esses prédios cheios de apartamentos, certamente alguém tem esse medicamento guardado na validade na farmacinha caseira. Imagina um Uber dos medicamentos?’”, conta Rodrigo.

    O amigo continuou a explicação: “Quem tem o remédio sobrando, na validade, cadastra numa ponta da plataforma. Quem necessita dele se cadastra e procura o que quer. Por geolocalização damos um ‘match’ e se realiza a doação”.

    Como era feriado e a criança não poderia esperar, Rodrigo enfrentou o movimento da farmácia e comprou o remédio para o filho. “Mas ficamos com a ideia na cabeça”, conta.

    Ele e Marco fizeram a lição de casa: passaram a pesquisar o mercado e tentar encontrar possíveis concorrentes. “Vimos que não tinha nenhuma iniciativa assim estruturada, só grupos de internet”, afirma Rodrigo, o atual CEO do negócio.

    A PIVOTAGEM DE UMA IDEIA

    Os dois decidiram chamar Léo, irmão de Rodrigo, para integrar a sociedade que nascia. Hoje ele é o CTO – e Marco é o CFO da PegMed. “Ele é fera na informática e desenvolveu uma plataforma.”

    Antes de a plataforma ser aberta para o público, os três receberam uma oferta para pivotarem.

    “Participando de um evento no Inovabra, cruzamos com uma grande indústria nacional que perguntou se não queríamos pivotar o negócio, que funcionava entre pessoas físicas, para a indústria”, afirma o CEO.

    “Assim fizemos a quatro mãos, e rodamos nosso MVP durante dois anos quase dentro dessa indústria.”

    Analisando o mercado farmacêutico de forma geral, tanto a produção quanto o consumo dos clientes, os sócios notaram que não somente medicamentos, mas também materiais hospitalares, cosméticos e, produtos de nutrição, higiene e beleza são retirados do mercado para serem incinerados perto da data de validade.

    Esses itens todos, no entanto, tinham data de validade suficiente para serem transferidos para instituições que precisassem deles, numa iniciativa de logística reversa.

    COMO A PLATAFORMA FUNCIONA

    As empresas que usam a solução da PegMed cadastram na plataforma, em uma ponta, medicamentos, materiais hospitalares, cosméticos e produtos de higiene e beleza que estão com a validade curta que seriam incinerados.

    Na outra ponta, centenas de instituições filantrópicas também se cadastram para absorver esses itens. A plataforma tecnológica criada otimiza os prazos, para que não se percam itens por vencimento de validade.

    Atadas as pontas, a instituição pode pegar a doação direto no centro de distribuição da doadora ou a própria companhia que está doando o material o entrega para a entidade beneficiada.

    Hoje, há 23 doadoras e 129 instituições cadastradas e mais de 1,4 milhão de unidades foram doadas.

    PERCALÇOS POR DESCONFIANÇA

    Segundo o CEO, apesar de a ideia ser ótima e benéfica para ambos os lados, a PegMed enfrentou alguns desafios. “O primeiro foi quebrar a desconfiança das doadoras numa empresa nova e pouco conhecida”, diz.

    O segundo foi chegar na pessoa certa dentro da indústria. “Também não contamos com nenhum tipo de financiamento, só dos sócios mesmo”, conta Rodrigo. “Desde o início rachamos todos os gastos entre os três.”

    “Hoje, já somos um pouquinho mais conhecidos e, com dois anos e pouco de muito trabalho, já sabemos em quem chegar e também já somos procurados pelas doadoras, o que facilitou muito.”

    A PegMed tem duas formas de ser remunerada com o negócio. Se a empresa tem sobra recorrente de itens para doação, como todo mês, por exemplo, ela paga uma mensalidade.

    Se as sobras são esporádicas, há um “pré-pago”. “É um pagamento avulso por doação”, diz o empreendedor. O negócio é pago apenas pelas doadoras, sem contrapartida para as instituições beneficiadas.

    DOADORAS MAIS SUSTENTÁVEIS

    Segundo os sócios, as doadoras ganham em economia com a logística reversa e com os custos da incineração e podem ter isenção de impostos.

    Mas o maior benefício é sustentável. “Mais do que economizar, o principal é o que agregamos à marca das empresas, com sustentabilidade social e ambiental”, afirma Rodrigo.

    “Esperamos, este ano, que boa parte do mercado farma faça parte da PegMed, ajudando pessoas em todo o Brasil. E, quem sabe, começar conversas com países vizinhos”, revela.

    Rodrigo diz que o trio sempre teve certeza que a PegMed era uma startup inovadora e que daria certo, mas a velocidade que isso ocorreu os surpreendeu.

    “Sabíamos que levaria um tempo, mas a pandemia antecipou as coisas, tanto que o volume de cadastros de instituições, de doadoras e de itens para doação cresceu tanto de ano passado para esse ano que tivemos que migrar de provedor e contratar um mais robusto.”

    Aquele bar, de fato, veio para o bem.

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