• Como democratizar o acesso à saúde? A Parcela Mais acredita em oferecer crédito para cirurgias e procedimentos médicos

    A health-fintech criada por André Martini (à esq.) e Vicente Laia Franco oferece financiamento para pessoas que não têm plano de saúde e que procuram por um atendimento melhor ou mais rápido que o SUS
    Jose Renato Junior | 3 maio 2021

    Filho de uma anestesista, sobrinho de um casal da mesma especialidade e primo de uma psiquiatra, nem se quisesse André Martini tinha como fugir do tema saúde em seus encontros de família.

    A afinidade, embora não tenha feito o engenheiro químico se interessar em seguir carreira médica, teve papel importante na vocação empreendedora do catarinense. 

    Em outubro do ano passado, em meio à pandemia, ele criou com o amigo Vicente Laia Franco, um administrador, a healthtech Parcela Mais. “Gostamos de nos chamar de health-fintech”, corrige André.

    A oportunidade apareceu depois de uma conversa com os fundadores da Biorc, uma instituição financeira 100% digital criada em 2009 em Florianópolis. “O pessoal da Biorc estava recebendo bastante demanda passiva da área da saúde”, diz ele. 

    André, na época, estava decidido a empreender e sabia que o negócio teria relação com tecnologia. Quanto mais estudava, mais ficava claro para ele que sua startup tinha que ser uma healthtech. 

    “Com as grandes lacunas de acesso à saúde no país, repleto de histórias de pessoas há anos na fila do SUS, vivendo com dores e dificuldades que poderiam ser eliminadas com um tratamento adequado, tive a certeza que era nessa área que desejava empreender e construir algo de valor.”

    Dedicava-se então à criação de uma healthtech centrada em dados, voltada para resolver problemas que ele enxergava que existem na cadeia de saúde. 

    “Queria empreender e fazer algo grande, de impacto”, conta. “O projeto era bastante ambicioso e de difícil execução: criar um ambiente em que os pacientes pudessem acessar todos os seus registros médicos, de diferentes hospitais, em linha com a LGPD”, explica. “É como se fosse uma interoperabilidade focada no paciente. Mas estava andando bem de lado, quase parando.”

    Foi quando ele conversou com o pessoal da Biorc. E resolveu pivotar e fundar a Parcela Mais. “Para isso, chamei o Vicente, meu atual sócio. Já éramos amigos e ele já tinha experiência prévia em outras startups.”

    COMO A HEALTH-FINTECH FUNCIONA

    Algumas clínicas andavam procurando a Biorc para buscar o financiamento de cirurgias. “Pacientes de diversas instituições de saúde também procuraram a financeira em busca de uma linha de crédito para realização de procedimentos médicos”, lembra André. 

    “Aquele não era foco deles no momento. Mas eles já estavam em conversa com uma dessas clínicas quando nos apresentaram.” 

    As pontas foram atadas com o surgimento da Parcela Mais. A startup possibilita aos hospitais parceiros ofertarem crédito, na modalidade de financiamento, para arcar com cirurgias e procedimentos médicos de alto custo. 

    “Nossa plataforma permite então que esses hospitais gerem solicitações de financiamento. Nós atuamos no backend e analisamos a solicitação com base na política de crédito da Biorc”, explica o CEO da Parcela Mais. 

    A health-fintech mira a parcela da população que não possui plano de saúde e deseja um tratamento melhor e mais rápido que o SUS, principalmente os trabalhadores informais, autônomos e pequenos empresários.  

    “Nosso público são todos os brasileiros que necessitam realizar uma cirurgia ou tratamento médico e que precisam – ou gostariam – de uma forma de pagamento mais acessível, com prazos mais longos”, afirma. 

    “Isso é extremamente relevante, uma vez que 67% dos brasileiros não conseguem poupar dinheiro mensalmente – por outro lado, os imprevistos de saúde não escolhem hora para chegar.”

    André Martini conta que, ao conversar com os hospitais parceiros, percebe que cada vez mais os players da saúde buscam uma forma de navegar entre o sistema público e o plano de saúde. “Nós ajudamos a navegar neste setor”, afirma.

    “O caso de pessoas que precisam fazer uma cirurgia e não querem ou não podem esperar pelo agendamento do SUS, muitas vezes por dor, é um dos nossos maiores alvos”, explica

    “Possibilitamos que o paciente escolha prazos entre seis e trinta e seis meses e não estabelecemos teto de valor, pois não queremos restringir o acesso ao tratamento.”

    O piso do valor do financiamento não é rigidamente estabelecido. “Entendemos que a necessidade pode surgir em diferentes situações. Mas, em geral, trabalhamos com valores acima de R$ 1 mil.”

    A health-fintech abriu recentemente a possibilidade de o paciente incluir um avalista no financiamento, para que aumentem suas chances de ter o valor desejado aprovado. 

    Os juros cobrados variam de acordo com o perfil de risco e a capacidade de bom pagador do paciente. “Mas cobramos taxas menores que 2% em diante”, conta o CEO.

    ATUAÇÃO AINDA REGIONAL, COM DEMANDA CRESCENTE

    Por enquanto, a Parcela Mais tem uma atuação ainda regional: é parceira de cinco hospitais e de uma policlínica focada principalmente em cirurgia plástica. 

    “Em breve devemos adicionar à rede mais dois ou três hospitais. Além disso, estamos finalizando a expansão com redes de clínicas odontológicas e redes de clínicas populares, segmentos em que estamos bem confiantes em relação ao fit da solução.”

    A startup cobre cirurgias e procedimentos médicos mais generalizados, cirurgia plástica, bariátrica, urológica e procedimentos urológicos em geral. 

    A ideia é expandir a atuação para serviços de maternidade e obstetrícia, procedimentos e cirurgias oftalmológicas, ortopedia, clínicas odontológicas e exames de alta complexidade, entre outros.

    “Estamos caminhando para nos tornar o crédito da saúde”, diz o cofundador.

    Embora ainda incipientes na cidade de Florianópolis, de onde somos, os sócios afirmam que acreditam trazer um grande impacto para o setor da saúde. 

    “Por um lado, os planos de saúde aumentam de preço ano após ano.

    Por outro, o SUS claramente não consegue atender boa parte da população”, afirma André.

    PRIMEIRA RODADA DE INVESTIMENTO ABERTA

    A startup foi criada com investimento do próprio bolso dos sócios. “Como eu mesmo que desenvolvi o MVP e as primeiras versões da plataforma, começamos com as minhas economias pessoais e do Vicente, no bootstrap mesmo”, diz André.

    A empresa, no entanto, está com rodada aberta para a primeira captação, em conversa com fundos early-stage e investidores-anjo. “Buscamos captar em torno de R$ 500 mil para ampliar a área de tecnologia, acelerar o desenvolvimento do produto e atender a demanda crescente que estamos recebendo.”

    Como um marketplace de crédito da saúde, ao conectar o paciente do hospital com a fonte de financiamento a Parcela Mais é remunerada com um percentual do valor financiado. 

    Como todo bom plano, o da Parcela Mais é ambicioso.

    “Queremos conquistar o país e dominar o mercado de saúde privada ‘out-of-pocket’, nos tornando a referência de crédito para saúde, a primeira alternativa a ser pensada quando há necessidade de realizar um procedimento médico”, explica André. 

    “Vamos nos conectar a mais hospitais, clínicas e também softwares da saúde como ERPs, sistemas de agendamento online, entre outros, para tornar a tomada de crédito um processo fluido e inserido na jornada do paciente.”

    Também faz parte do projeto da Parcela Mais entrar no segmento B2B e voltar-se para ambientes corporativos. “Nossa ideia é apresentar uma alternativa para controle de gastos em planos de saúde empresariais, visto a explosão de preços do setor nos últimos dez anos.”

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