• OncoTag aposta em IA para aumentar bem-estar e sobrevida de pacientes com câncer de ovário

    Letícia Braga, cofundadora e CEO da OncoTag.
    Letícia Braga, cofundadora e CEO da OncoTag.
    Tiago Jokura | 12 ago 2024

    Em 2014, as biólogas Letícia Braga e Luciana Lopes fundaram um laboratório de análises genéticas com foco em oncologia de precisão. Sediada em Contagem (MG) a OncoTag é fruto da pesquisa de doutorado da dupla, que desenvolveu um exame, até então, inédito no Brasil: o teste molecular para avaliação do prognóstico de pacientes com câncer de ovário, batizado de OvarianTag. 

    A partir de análises da expressão de genes específicos, o exame indica para o médico qual é o curso da doença, a natureza do tumor e o risco de recorrência do câncer. 

    Com esses dados, o médico tem suporte para direcionar o tratamento de maneira mais precisa, menos invasiva e com maior tempo de sobrevida para o paciente.

    A fim de expandir o negócio e captar recursos, a OncoTag fechou uma parceria com a Mubius WomenTech Ventures, primeira WomenTech do Brasil, com foco em fomentar lideranças femininas. 

    Por meio da Mubius, a startup recebe orientação especializada de mentores, acesso a uma rede de investidores e parceiros estratégicos, além de recursos e ferramentas para refinar o modelo de negócio e expandir seu impacto na saúde. Enquanto estabelece o OvarianTag no mercado, o plano é desenvolver novos exames.

    Para conhecer melhor essa história, FUTURE HEALTH conversou com a CEO Letícia Braga. Confira o papo a seguir:

    FUTURE HEALTH: Como e quando surgiu a OncoTag?

    LETÍCIA BRAGA: A OncoTag surgiu a partir da pesquisa realizada durante meu doutorado, em parceria com a Luciana Lopes, também cofundadora da OncoTag. A ideia surgiu a partir da identificação de uma assinatura genética associada à resposta quimioterápica nos tumores de ovário.

    FH: E como a ideia do teste saiu do papel?

    LB: Nossa pesquisa teve início em 2008, como projeto de doutorado em medicina molecular do câncer ginecológico. Os resultados foram analisados sob o ponto de vista clínico pelo nosso orientador, Dr. Agnaldo Lopes da Silva Filho, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e médico ginecologista oncológico do Hospital das Clínicas da UFMG. 

    Esse trabalho nos levou ao desenvolvimento de um projeto para análise de biomarcadores para predição quimioterápica e prognóstico em mulheres com câncer de ovário. Dessa vez, a parceria ocorreu com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por meio dos pesquisadores Matheus de Souza Gomes e Laurence Rodrigues do Amaral. Trabalhamos forte com inteligência artificial, sobretudo com mineração de dados (data mining) para alimentar algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning).

    Descobrimos que, dos genes estudados, três mostravam alta relação com a sobrevida das pacientes.

    A partir dessa conclusão, partimos para viabilizar o teste do ponto de vista mercadológico e de escalabilidade.

    FH: Como funciona o OvarianTag?

    LB: O teste consiste em um conjunto de sondas genéticas para análise da expressão de genes específicos. Em seguida, é usado um algoritmo de inteligência artificial que permite a classificação molecular do tumor, objetivando informações sobre o benefício da quimioterapia adjuvante e sobrevida geral. Esses resultados permitem que o médico direcione melhor o tratamento para a paciente.

    FH: Quais são as principais dificuldades encontradas pela OncoTag atualmente? 

    LB: A principal dificuldade enfrentada pela startup é o desafio mercadológico. A entrada no mercado da oncologia é desafiadora por que o câncer é uma doença insidiosa, porém de baixa incidência, tornando o tumor negligenciado. 

    A incorporação  em nosso painel do câncer de mama triplo negativo, além de aumentar nosso portfólio demonstra a competência da OncoTag em responder às dores de mercado. O próximo passo é o desenvolvimento de um teste para um tumor mais prevalente.

    FH: Quem são os principais investidores da empresa e como vocês têm captado recursos?

    LB: Em 2018, a empresa entrou no Programa de Desenvolvimento de Negócios do BiotechTown e recebeu aporte da Thermo Fisher Scientific para validação analítica do produto. 

    Atualmente, contamos com investimentos de órgãos de pesquisa como o CNPq e a FAPEMIG. Além disso, recebemos um aporte do Google for Statups para transpor nossa tecnologia para a nuvem do workspace Google.

    Não posso deixar de mencionar, também, a parceria com a Mubius WomenTech Ventures, primeira WomenTech do Brasil, cuja missão é incentivar e potencializar lideranças femininas. 

    FH: Quais foram as principais realizações da OncoTag até aqui? 

    LB: Vou listar alguns marcos, como se fosse uma linha do tempo. Em relação aos nossos produtos, podemos destacar o lançamento do OvarianTag, em 2019, o reposicionamento desse mesmo teste focado em cânce de mama triplo negativo, em 2023, e, no mesmo ano, o aporte, obtido por meio de edital público, para o desenvolvimento de um exame preditivo para câncer colorretal, basedo na lateralidade do tumor.

    FH: Quais são os principais benefícios que a OncoTag entrega para os clientes e para o sistema de saúde como um todo?

    LB: Nosso negócio impacta diretamente no “time-life gain” das pacientes com câncer de ovário e TNBC. A sobrevida destas doenças é baixa e, somado ao diagnóstico tardio, as probabilidades de sobrevida diminuem consideravelmente. 

    Com nossa tecnologia inserida na jornada da paciente com câncer de ovário e TNBC, o médico pode realizar medicina de precisão e tratamento melhor informado, aumentando as expectativas de vida. 

    FH: Quais são os próximos desafios da empresa?

    LB: O desafio mercadológico ainda persiste. Para superá-lo, contamos com a rede de contatos de nossas instituições parceiras, buscando a sensibilização dos médicos para adoção da tecnologia e adesão de parceiros comerciais. 

    Para isso, os médicos devem ser abordados dentro de um funil de vendas que mescla ações de marketing digital, contatos pessoais e ações promocionais, apresentando as comprovações científicas da tecnologia. 

    É importante apresentarmos nossa inteligência artificial e os benefícios que ela oferece, como segurança na tomada de decisão médica, indicação precisa sobre tratamentos mais eficientes, custo reduzido e perspectiva de maior bem-estar e sobrevida das pacientes.

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