• Mortes provocadas por melanoma no Brasil podem aumentar 80% até 2040, sugere estudo

    Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer Brasil (Foto: Divulgação)
    Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer Brasil (Foto: Divulgação)
    Future Health | 30 maio 2025

    Principal causa de morte por câncer de pele4, o melanoma constitui um desafio de saúde para os pacientes e para os sistemas de saúde. O número de casos da doença vem aumentando globalmente4, particularmente em locais com elevada concentração de pessoas com ascendência europeia, característica considerada um fator de risco4. Esse elemento é importante para populações heterogêneas que vivenciaram intensos fluxos migratórios, como as de de países latino-americanos – a exemplo de Argentina, Brasil4 e Colômbia5.

    No Brasil, a análise dos óbitos por melanoma entre os anos 2000 e 2023 indica uma tendência crescente no número de mortes1, com aumento substancial a partir de 20151. Além disso, dados do Cancer Tomorrow, ferramenta da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), sugerem que as mortes anuais por melanoma no Brasil poderão saltar de 2,2 mil (em 2020), para 4 mil (em 2040), um aumento de 80%2.

    Ter cabelos loiros ou ruivos, pele clara e olhos claros são algumas das características físicas associadas ao risco aumentado de desenvolver melanoma, bem como apresentar sardas ou um número elevado de pintas4

    Na Argentina, por exemplo, regiões com elevada prevalência de pessoas com pele clara, tais como Buenos Aires, apresentam taxas de mortalidade por melanoma superiores às encontradas em províncias como Salta e Tucumán, nas quais predominam pessoas de ascendência indígena4. No Brasil, da mesma forma, a incidência da doença é maior em habitantes da região Sul com ascendência europeia, na comparação com moradores de outras partes do país4.  

    Apresentar um histórico individual ou familiar de melanoma é outra variável relevante na avaliação de risco para a doença4

    Contudo, apesar da influência de fatores genéticos e físicos, cerca de 75% dos casos de melanoma em todo o mundo são atribuídos à exposição inadequada aos raios ultravioletas (UV)3.

    Uma vez que os danos provocados pela radiação solar são cumulativos6, a idade avançada também constitui um fator de risco para tumores7. O envelhecimento populacional, por sua vez, vem avançando na América Latina – a expectativa de vida na região passou de 48,6 anos (em 1950) para 75,1 anos (em 2019), podendo alcançar os 77,2 anos em 20308.

    “Os latino-americanos são frequentemente expostos à radiação UV em função do clima tropical, da alta altitude e da redução da camada de ozônio em algumas regiões. O tema também tem a ver com questões culturais, uma vez que a pele bronzeada pode ser percebida como sinônimo de beleza e saúde em alguns países.  Por isso, o trabalho de conscientização sobre o melanoma é fundamental”, afirma a diretora médica da Pfizer no Brasil, Adriana Ribeiro. “Em maio, quando celebramos o mês mundial de combate ao melanoma, temos mais uma oportunidade de educar a população sobre os fatores de risco da doença e estimular o reconhecimento de lesões suspeitas na pele, contribuindo para o diagnóstico precoce”, complementa.

    Fatores ambientais

    Em termos geográficos, muitas áreas populosas na América Latina se localizam em regiões de altitude elevada, mais expostas à radiação UV – esse é o caso de La Paz, na Bolívia4. No México, áreas como o estado de Zacatecas se estendem pelo Trópico de Câncer e têm altitudes elevadas, com intensa exposição solar4.

    As mudanças ambientais das últimas décadas também vêm sendo analisadas no contexto do melanoma, especialmente os danos na camada de ozônio4. Estudos apontam maior incidência de melanoma entre as populações que vivem sob o buraco na camada de ozônio localizado no sul do Chile e do Brasil, na comparação com moradores de outras regiões lationamericanas4.

    A Colômbia, localizada próxima a linha do Equador, também experimenta elevados níveis de radiação UV, especialmente ao meio-dia, com áreas do território classificadas como regiões de exposição muito alta aos raios UV5. Vale destacar que o país também apresenta uma população heterogênea, em que 20% dos habitantes têm ascendência europeia5.

    Importância do diagnóstico precoce

    A velocidade na identificação do melanoma faz diferença no prognóstico do paciente. 

    A taxa de sobrevida em cinco anos passa de 99% nos casos diagnosticados precocemente, com a doença em fase inicial. 

    Contudo, essa porcentagem diminui para 35% quando a detecção ocorre no estágio mais avançado, em que há metástases para órgãos distantes6. Taxas menores de sobrevivência ao melanoma vêm sendo observadas em pacientes que residem em áreas de baixa renda4, situação socioeconômica que engloba uma parcela considerável da população latinoamericana9.

    Visitas frequentes ao médico aumentam a probabilidade de diagnosticar o melanoma em estágio inicial, o que ainda constitui um desafio em muitos países da América Latina4. Na Colômbia, um amplo estudo analisando a população mista da região andina identificou um tempo médio de 243,5 dias entre a detecção da lesão associada ao melanoma e a avaliação do dermatologista, com o diagnóstico tardio predominando em mulheres, com idade superior a 65 anos, residentes da área rural4. No Brasil, uma pesquisa analisando  29 mil casos da doença registrados ao longo de 15 anos apontou que 46% dos pacientes tinham sido diagnosticados nos estágios III e IV do tumor, os mais avançados10.

    “Um dos caminhos para estimular o diagnóstico precoce do melanoma é educar a população para a realização do autoexame mensal da pele, à procura de pintas corporais suspeitas”, afirma Ribeiro. 

    “O melanoma costuma se manifestar por meio de lesões pigmentadas e maiores, geralmente assimétricas, com bordas irregulares e múltiplas cores11. Essa análise é importante, mas não substitui a avaliação médica. Ao notar lesões suspeitas, é preciso procurar o dermatologista para exames específicos. O tratamento varia de acordo com o estágio da doença, mas é importante saber que a ciência vem avançando fortemente no combate ao melanoma”, completa a diretora.

    Regra ABCDE: identificando pintas suspeitas11

    – Assimetria: imagine uma divisão no meio da pinta e verifique se os dois lados são iguais (caso contrário, vale investigar a fundo);

    – Bordas irregulares: pintas dentadas, chanfradas, com sulcos;

    – Cores diferentes: a coloração não é a mesma em toda a pinta. Há diferentes tons de marrom, preto e, às vezes, azul, vermelho ou branco;

    – Diâmetro: é importante analisar se a pinta ou mancha está crescendo progressivamente ou se é maior que 5 mm (0,5 cm);

    – Evolução suspeita: mudanças na aparência da pinta ou crescimento rápido são sinais de alerta. 

    Combate ao melanoma

    Ribeiro explica que a Pfizer está comprometida com o combate ao câncer e que o enfrentamento do melanoma faz parte desse compromisso. Para isso, a farmacêutica desenvolveu a combinação Braftovi (encorafenibe) + Mektovi (binimetinibe), tratamento inovador aprovado no Brasil para tratar pacientes com melanoma positivo para a mutação BRAF (V600E), considerando adultos em fase metastática e aqueles que não podem passar pela remoção cirúrgica12 – cerca de metade dos pacientes diagnosticados com melanoma metastático apresenta tumores positivos para a mutação BRAF13.  

    Os dois medicamentos foram lançados no Brasil em 2023 e incorporados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no final desse mesmo ano, ao rol de tratamentos de cobertura obrigatória dos planos de saúde.

    Ainda de acordo com a diretora médica da Pfizer no Brasil, durante o programa de desenvolvimento clínico de Braftovi (encorafenibe) + Mektovi (binimetinibe), os pesquisadores constataram que a combinação mais do que dobrou a sobrevida livre de progressão da doença (14,9 meses), na comparação com o grupo de controle (7,3 meses), que recebeu um inibidor da mutação BRAF de forma isolada12. De administração oral, favorecendo a adesão ao tratamento, a terapia combinada também levou à redução ou ao desaparecimento do tumor na maioria dos participantes do estudo (63%)12.

    “É fundamental avançar na oferta de tratamentos que possam proporcionar uma vida melhor e mais longa aos pacientes com melanoma. As terapias-alvo, voltadas a aspectos específicos do tumor, permitem direcionar o tratamento mais adequado a cada caso, melhorando o prognóstico dessa doença tão desafiadora que é o melanoma”, destaca Adriana Ribeiro.

    Referências

    1. Ana Carolina Angelini Grillo; Carolina Araújo Silva; Rafaela Del Piccolo Campos; Ana Luisa de Araujo Razuk; Isabela Dario Martineli; Giovana Finatto do Nascimento; Isabella Wakim Ferla; Camila Dalla Martha Satriano. ÓBITOS POR MELANOMA NO BRASIL ENTRE 2000 A 2023. Ciências da Saúde, Volume 29 – Edição 145/ABR 2025. Acesso em maio de 2025. Disponível em: ÓBITOS POR MELANOMA NO BRASIL ENTRE 2000 A 2023 – ISSN 1678-0817 Qualis B2
    2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica. Mortes por melanoma no Brasil podem aumentar 80% em duas décadas, aponta Cancer Tomorrow, da OMS. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Mortes por melanoma no Brasil podem aumentar 80% em duas décadas, aponta Cancer Tomorrow, da OMS • SBCO
    3. GARBE C, AMARAL T, PERIS K, HAUSCHILD A, ARENBERGER P, BASSET-SEGUIN N, BASTHOLT L, BATAILLE V, BROCHEZ L, DEL MARMOL V, DRÉNO B, EGGERMONT AMM, FARGNOLI MC, FORSEA AM, HÖLLER C, KAUFMANN R, KELLENERS-SMEETS N, LALLAS A, LEBBÉ C, LEITER U, LONGO C, MALVEHY J, MORENO-RAMIREZ D, NATHAN P, PELLACANI G, SAIAG P, STOCKFLETH E, STRATIGOS AJ, VAN AKKOOI ACJ, VIEIRA R, ZALAUDEK I, LORIGAN P, MANDALA M; EUROPEAN ASSOCIATION OF DERMATO-ONCOLOGY (EADO), THE EUROPEAN DERMATOLOGY FORUM (EDF), AND THE EUROPEAN ORGANIZATION FOR RESEARCH AND TREATMENT OF CANCER (EORTC). European consensus-based interdisciplinary guideline for melanoma. Part 1: Diagnostics – Update 2024. Acesso em maio de 2025. Disponível em: European consensus-based interdisciplinary guideline for melanoma. Part 2: Treatment – Update 2024
    4. SCHMERLING RA, LORIA D, CINAT G, RAMOS WE, CARDONA AF, SÁNCHEZ JL, MARTINEZ-SAID H, BUZAID AC. Cutaneous melanoma in Latin America: the need for more data. Rev Panam Salud Publica. 2011 Nov;30(5):431-8. Acesso em maio de 2025. Disponível em: v30n5a05.pdf
    5. OLIVEROS H, STAVOLI JU, PROAÑOS NJ, AMADOR JR, REYES LF. Incidence and survival of patients with melanoma in Colombia. Cancer Epidemiol. 2025. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Incidence and survival of patients with melanoma in Colombia – ScienceDirect
    6. SKIN CANCER FOUNDATION. Câncer de pele Fatos e estatísticas. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Fatos e estatísticas sobre câncer de pele
    7. Moreira AG, Freitas AVDS, Pires CAA. Prognostic factors and survival of patients with melanoma treated at a reference hospital in the Brazilian Amazon region. An Bras Dermatol. 2024 Jul-Aug;99(4):594-597. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Prognostic factors and survival of patients with melanoma treated at a reference hospital in the Brazilian Amazon region
    8. COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL). Envejecimiento en América Latina y el Caribe: inclusión y derechos de las personas mayores. Acesso em maio de 2025. Disponible em: Envejecimiento en América Latina y el Caribe: inclusión y derechos de las personas mayores
    9. COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL). Social Panorama of Latin America and the Caribbean 2024. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Panorama Social da América Latina e do Caribe, 2024. Resumo Executivo
    10. DE MELO, ANDRÉIA C.A; WAINSTEIN, ALBERTO J.A.B; BUZAID, ANTONIO C.; THULER, LUIZ C.S.A. Melanoma signature in Brazil: epidemiology, incidence, mortality, and trend lessons from a continental mixed population country in the past 15 years. Melanoma Research 28(6):p 629-636, December 2018. Acesso em maio de 2025. Disponível em: Melanoma Research
    11. American Academy of Dermatology. What to look for: ABCDEs of melanoma. Acesso em maio de 2025. Disponível em: What to look for: ABCDEs of melanoma
    12. PFIZER INC. Braftovi (encorafenib) + Mektovi (binimetinib). Acesso em maio de 2025. Disponível em: BRAFTOVI® (encorafenib) Combination Treatment | Safety Info
    13. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Acesso em maio de 2025. Disponível em: RESOLUÇÃO NORMATIVA ANS Nº 588, DE 2 DE OUTUBRO DE 2023 – RESOLUÇÃO NORMATIVA ANS Nº 588, DE 2 DE OUTUBRO DE 2023 – DOU – Imprensa Nacional

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