Iniciado em 1990 e finalizado em 2003, o projeto Genoma Humano é uma das maiores proezas científicas já realizadas em saúde. O esforço internacional, que contou com a participação de pesquisadores de 18 países e consumiu 3 bilhões de dólares, culminou em 99% do genoma humano sequenciado, com 99,99% de precisão.
De lá para cá, muita coisa andou a partir dessa descoberta. “O conhecimento sobre os genes cresceu exponencialmente e se sofisticou bastante, dando origem a uma abordagem para prevenção, diagnóstico e tratamento que leva em consideração variabilidade individual em termos genéticos, fatores ambientais e estilo de vida”, diz Edgar Rizzatti, diretor executivo médico, técnico e de negócios B2B do Grupo Fleury.
Conhecida como medicina de precisão, essa nova abordagem foi o assunto de uma roda de conversa entre o médico e outros dois colegas, Anamaria Aranha Camargo, coordenadora do Centro de Oncologia Molecular e gerente de pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, e Antonio Carlos Buzaid, diretor médico geral de oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O papo aconteceu em um evento online na manhã desta quinta-feira, o Grupo Fleury Talks. Realizado em parceria com Future Health, ele abordou os usos e as inúmeras possibilidades da medicina de precisão no diagnóstico e no tratamento de várias doenças – em especial, do câncer.
“Boa parte do impacto clínico é na medicina diagnóstica, onde há grande utilização dos novos métodos de sequenciamento de DNA em larga escala em áreas tão distintas quanto medicina fetal, oncologia e genética clínica”, afirmou Edgar.
Em oncologia, a medicina de precisão tem inúmeras aplicações.
Uma das mais importantes é o sequenciamento do DNA do tecido tumoral, que possibilita identificar alterações genéticas presentes no próprio tumor.
Essas informações são muito valiosas para o diagnóstico, mas também para para munir o oncologista com dados que ele pode usar para escolher a melhor modalidade de tratamento para aquele paciente.
“Desde Hipócrates, a ideia [de oferecer] o remédio certo para o paciente certo não mudou”, afirmou Buzaid. “O conceito da medicina de precisão é orientar o médico. E falar: ‘Esse paciente tem um defeito genético no tumor somático, eu tenho um remédio para esse problema que pode ajudá-lo’.”
Segundo ele, há áreas da oncologia em que a técnica está muito avançada, como a de câncer no pulmão em pessoas que nunca fumaram. “Peço imediatamente um NGS [Sequenciamento de Nova Geração] completo desse tumor e tenho 80% de chance de achar um ‘druggable target’”, ele afirma, referindo-se ao alvo biológico que tem alta afinidade a um medicamento.
Segundo Anamaria Aranha Camargo, o Brasil começou cedo as pesquisas na área.
“Temos grande expertise tanto do ponto de vista de geração de dados quanto de análise deles”, ela disse no evento.
“O futuro da medicina de precisão é bastante promissor, mas o caminho ainda é longo principalmente se a gente pensar em incorporar essa prática ao sistema público de saúde”, afirmou a cientista.
“A potencialidade é evidente, mas o grande desafio vai ser oferecer tudo isso à nossa população. Hoje, uma pequena fração tem acesso às ferramentas muito atuais de medicina de precisão basicamente através do sistema suplementar de saúde, que atinge 20% da população.”
No Grupo Fleury Talks, Anamaria, Edgar e Buzaid falaram ainda sobre as altas expectativas em relação ao Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão, o Genomas Brasil.
Lançado no ano passado e baseado em ciência, o programa pretende sequenciar 100 mil genomas de brasileiros que tenham doenças oncológicas, cardíacas, raras e pacientes com Covid.
Os médicos ainda conversaram sobre como a medicina de precisão vem sendo tratada nos hospitais Sírio Libanês e BP, em parceria com o Fleury, sobre testes que indicam o benefício que cada paciente tem ao tratamento de quimioterapia, sobre biópsia líquida e vários outros assuntos.
Clique no vídeo abaixo para assistir ao evento na íntegra.