• Med.IQ: a (re)startup que acelera o mercado de saúde de ponta a ponta

    Juliana Caligiuri, CEO da Med.IQ
    Juliana Caligiuri, CEO da Med.IQ. (Foto: Divulgação)
    Tiago Jokura | 15 abr 2024

    Você já ouviu falar de healthtech knowledge? Como o próprio nome sugere, o conceito é baseado no fomento do conhecimento em saúde e na sua disponibilização por meio dos melhores recursos tecnológicos disponíveis.

    Um dos pioneiros dessa nova fase do conhecimento médico é o grupo Med.IQ, iniciativa resultante da soma de cinco inovadoras healthtechs (MDHealth, Oncologia Brasil, Hemomeeting, Galen Academy e NetMD) já estabelecidas no mercado de saúde brasileiro com os mais de 15 anos do BCRI (Brazilian Clinical Research Institute), maior centro acadêmico de pesquisa de impacto científico do Brasil.

    A fusão é fruto da parceria do executivo e empreendedor Thomas Almeida, fundador da Med.IQ, com seu sócio, o cardiologista Renato Lopes, professor da Duke University, que agrega uma sólida base acadêmica e científica ao negócio.

    Sobre esses alicerces, a Med.IQ, primeira healthtech knowledge da América Latina, fundada em 2017, se diferencia por integrar ensino, pesquisa e tecnologia, conectando a comunidade médica ao conhecimento científico atualizado. 

    Para isso, a empresa aposta em um modelo de curadoria independente para produção, aprofundamento, atualização e compartilhamento do conhecimento científico, alinhada à realidade da prática médica vigente.

    Atualmente, a Med.IQ conta com cerca de 140 colaboradores e um portfólio com mais de 45 clientes B2B, incluindo 19 das 20 maiores farmacêuticas do mundo, como Novartis, AstraZeneca e Pfizer, entre outras.

    Além disso, a healthtech mantém parceria com cerca de 700 centros de pesquisa mundo afora, por meio do BCRI, participando de mais de 800 publicações em revistas científicas – 300 delas em periódicos de alto impacto, como New England Journal of Medicine, The Lancet, JAMA, entre outros.  

    De acordo com Juliana Caligiuri, CEO da Med.IQ, o compromisso da empresa vai além de gerar novos conhecimentos para o avanço da prática médica: 

    “Nossa missão é mudar a prática clínica com a implementação das melhores evidências científicas, ampliando o acesso à informação e promovendo a capacitação de profissionais e empresas que atuam na área da saúde na América Latina.”

    A seguir, Caligiuri conta mais sobre o negócio em entrevista exclusiva para FUTURE HEALTH. 

    FUTURE HEALTH: Como você se conectou à Med.IQ?

    JULIANA CALIGIURI: Sou executiva há mais de 25 anos. Iniciei a carreira no setor de bancos, passei pela consultoria McKinsey, fiz MBA nos EUA, e voltei ao Brasil para atuar no setor de varejo.

    Nessa época, pensando sobre quais seriam meus próximos passos profissionais, comecei a sondar vários mercados e a refletir sobre o que eu queria de verdade.

    Eu sentia falta de ter propósito na minha trajetória até aparecer a oportunidade de atuar na saúde.

    Minha primeira experiência foi na BP (Beneficência Portuguesa). O desafio era fazer um hospital centenário, que vinha de muitos anos operando com prejuízo, passar a ter melhores resultados; mudar o negócio e prepará-lo para um salto. Renovamos a marca, a cultura, os drives de negócio e o relacionamento com o mercado. Assim nasceu minha paixão pela saúde.

    Depois da BP, voltei para as consultorias, dessa vez trabalhando em alguns projetos com empresas de saúde também. Até que fui convidada para ser vice-presidente na Sulamérica, na área de odontologia da empresa. Meus olhos brilharam por causa do potencial de transformação que teria atuando, agora, em uma empresa do mercado de saúde com alcance nacional.

    Após dois anos de Sulamérica, fui convidada pelo Thomas Almeida, com quem tinha uma boa parceria desde os tempos de BP, para liderar a Med.IQ.

    FH: Como você descreveria a Med.IQ para quem não ainda conhece a companhia?

    JC: Costumo dizer que não somos um startup clássica. Temos o espírito de uma startup, mas com robustez, com uma estrutura já pronta desde o início.

    Ao mesmo tempo, podemos ser considerados como startup porque o que fizemos até aqui não é o que queremos fazer daqui para frente.

    Nosso objetivo é consolidar o conhecimento médico para, assim, atrair profissionais de relevância para o nosso ecossistema, a fim de criar soluções. As articulações passam por pesquisa e educação médica num ambiente de educação continuada e numa jornada com curadoria relevante para os médicos.

    Nossa hipótese de dor é que o médico tem acesso ao conhecimento, porém com a sensação de que esse conhecimento às vezes não é qualificado, está pulverizado, sem procedência clara etc. É tanta oferta de conhecimento que fica fácil se perder ao tentar avaliar o que são informações e dados seguros, de qualidade.

    Queremos ser uma solução para isso, um hub relevante, que promove e chancela os conteúdos mais importantes produzidos na área da saúde.

    FH: Está mais para uma “restartup”, então…

    JC: Exato. Estamos em busca de um salto de transformação por meio da sinergia. Afinal, somos uma healthtech que nasce da fusão de outras empresas já consolidadas – MDHealth, Oncologia Brasil, Hemomeeting, Galen Academy e NetMD com o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI).

    Esse novo ecossistema é fruto da visão de duas figuras fundamentais, que são o Thomas Almeida, com uma pegada empreendedora e gana de transformar e investir no mercado de saúde, e o Renato Lopes, que é um médico brilhante, e sempre teve essa ambição de trazer mais pesquisas relevantes para o Brasil.

    FH: Em que consiste o conceito de healtech knowledge?

    JC: Healthtech knowledge é aliar a potência dos médicos que fazem pesquisa, que são os grandes conhecedores do setor de saúde, com a capacidade de tornar esse conhecimento acessível por meio da tecnologia. 

    Basicamente, trata-se de atrair médicos que lideram pesquisas relevantes e transformar esses resultados em soluções de educação levadas de maneira ampla ao mercado.

    Temos um viés tecnológico ancorado no conhecimento como alavanca de geração de valor. Por meio da tecnologia e da escalabilidade, queremos dar um salto e transformar o mercado de saúde, ajudá-lo a ser mais eficiente, potente e com qualidade, centradas no que é relevante para o paciente, sempre.

    Estamos estabelecendo parceria com grandes hospitais e centros de pesquisa para gerar soluções educacionais que impactam os médicos, criando um life long journey para o médico. Até porque essa profissão talvez seja a que mais demande uma jornada de conhecimento contínua ao longo da vida.

    FH: Você pode resumir o modelo de negócios da empresa?

    JC: Nosso modelo de negócios é focado em dar muita relevância ao médico, como produtor de conhecimento, educador e beneficiário de todo conhecimento gerado pela pesquisa médica ao redor do mundo.

    Queremos criar um ecossistema que se retroalimenta pelo seguinte ciclo: médicos gerando conhecimento de ponta para médicos na ponta.

    Seja com entregas mais, digamos, tradicionais, seja com produtos diferenciados, nossa meta é qualificar nossa audiência e todo o setor de saúde, por extensão.

    A ideia é focar em algumas áreas, como cardiologia e oncologia, entre outras, para criar um portfólio contundente de cursos e pós-graduações, criando um ambiente com atualização constante de conteúdos, artigos e possibilidades de sinergia entre profissionais que se conectem à plataforma.

    Oferecer novas tecnologias e conhecimentos ao mercado acaba por fomentar mais hipóteses de pesquisa, gerando mais pesquisas e mais conexões entre os atores do mercado de saúde.

    O acesso, a princípio, vai ser freemium, com o profissional se cadastrando e tendo o acesso mais amplo possível aos conteúdos da plataforma, a não ser em casos de soluções e cursos mais específicos.

    FH: Quais são as pesquisas mais relevantes em que a Med.IQ participou?

    JC: Vou destacar algumas de nossas colaborações. A primeira é sobre uma avaliação do tratamento de anemia em pacientes que passaram por ataque cardíaco. Um dos líderes do estudo foi o Renato Lopes, um de nossos sócios que já mencionei na conversa, representando a divisão de cardiologia da Duke University (EUA). Percebeu-se que a anemia pode estar associada a novas ocorrências de infarto. O estudo concluiu que transfusões de sangue diminuem a mortalidade nesses casos.

    Tem outros dois estudos sobre Covid-19: um deles testou o uso de medicamentos anticoagulantes em pacientes hospitalizados e mostrou que, ao contrário do que se pensava no início e no pico da pandemia, anticoagulantes ministrados na dose certa podem diminuir o tempo de internação e reduzir o risco de morte por Covid-19. Essa pesquisa foi realizada em parceria com a Bayer e outros centros de pesquisa.

    Por fim, um estudo que fizemos em parceria com a Rede D’Or concluiu que a administração de medicamentos para controlar a pressão arterial não prejudica pacientes de Covid-19, ao contrário do que se presumia à época da pandemia.

    Todas essas pesquisas contaram com médicos conectados à Med.IQ, associados com centros de pesquisa de excelência, e foram publicadas em periódicos médicos internacionais do mais alto gabarito, como The Lancet, New England Journal of Medicine (NEJM), entre outros.

    FH: E quais são as pesquisas mais promissoras em que vocês estão envolvidos atualmente? 

    JC: Posso destacar nossa participação no PARACHUTE-HF, em parceria com a Novartis global e o Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica (BCRI). A pesquisa é parte de uma iniciativa da farmacêutica para incentivar estudos com foco no combate a doenças tropicais negligenciadas (DTN).

    Especificamente, trata-se da primeira pesquisa de grande porte para avaliar uma potencial terapia para insuficiência cardíaca em pessoas que contraem a Doença de Chagas.

    E menciono também o Arquimedes, estudo que promete mudar a conduta de emergência hospitalar em ocorrências de AVC isquêmico.

    São dois estudos com potencial de alcance global e impacto relevante em grandes populações – e com o Brasil no papel de liderança na inovação médica.

    FH: Para fechar, quais são as metas e desafios da Med.IQ?

    JC: Em 2023, dobramos de tamanho em relação ao ano anterior. Sempre fomentando pesquisa e gerando educação médica continuada. Nosso objetivo é quadruplicar até 2027. 

    Queremos continuar a crescer sem deixar de ser uma companhia saudável. Atualmente, ainda que a Med.IQ esteja investindo para colher frutos mais adiante, somos uma companhia que opera com caixa positivo, o que é raro no universo de startups. Desse modo, conseguimos sustentar o nosso negócio enquanto buscamos saltos de crescimento. 

    Paralelamente, seguimos captando recursos com rodadas de investimento e costurando novas parcerias.

    Além do faturamento, contudo, queremos crescer em relevância, ser um player que orienta o ponteiro do mercado de saúde. 

    Queremos ser um parceiro de solução desejável. Hoje em dia, por exemplo, todo mundo quer atuar com pesquisa e ensino em saúde. Queremos ser o hub que conecta os principais atores nesse movimento e que oferece a tecnologia para viabilizar estratégias de ensino e pesquisa para diversos parceiros.

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