• Falta de infraestrutura, acesso aos serviços: conheça os desafios – e as oportunidades – da tão falada saúde digital

    A médica Renata Zobaran, diretora de Telemedicina e Saúde Digital da TopMed
    Jose Renato Junior | 12 jan 2022

    Não é novidade para ninguém que o setor da saúde vive sua grande transformação digital. A previsão para 2022 é que, cada vez mais, os diagnósticos e tratamentos médicos sejam impactados positivamente. 

    Há uma série de vantagens na incorporação de tecnologia aos serviços de saúde: patologias podem ser diagnosticadas mais rapidamente e com mais precisão, tratamentos são mais assertivos, atendimentos são mais organizados e melhores.

    Quando se olha para o crescimento econômico do setor é possível termos uma ideia da evolução que ele promete para os próximos anos. 

    A estimativa é que a área da saúde tenha movimentado R$ 313,9 bilhões em todo o país em 2021, um acréscimo de 13,8% em relação a 2020 e de 21,8% em comparação a 2019, conforme a pesquisa IPC Maps, realizada com base em dados oficiais.

    Grande parte desse montante está relacionada às mais de 900 healthtechs que surgiram no país nos últimos anos – em 2018, eram apenas 248 negócios do gênero. 

    Essas startups do segmento de saúde alcançaram US$ 183,9 milhões (ou mais de R$ 1 bilhão) em investimentos no primeiro semestre de 2021, segundo informações da plataforma de inovação aberta Distrito. 

    Ainda segundo a análise, o número de investimentos em healthtechs ultrapassou o valor dos dois últimos anos que, juntos, somaram US$ 177,6 milhões (ou R$ 997 milhões).

    A PANDEMIA E O GRANDE BOOM DA TELEMEDICINA

    Com a crise sanitária agravada pela pandemia, foram as empresas de telemedicina as primeiras a se destacarem no setor. 

    De acordo com a Saúde Digital Brasil, associação que representa os principais operadores de telemedicina brasileiros, mais de 7,5 milhões de atendimentos remotos foram realizados por cerca de 52,2 mil médicos entre 2020 e 2021. 

    A entidade estima que 87% desses teleatendimentos foram referentes às primeiras consultas, evitando a circulação e a aglomeração de pacientes na fase mais crítica da pandemia.

    “De uma hora para outra todos os players deste mercado viram-se ‘obrigados’ a ceder ao atendimento remoto em saúde”, afirma a médica Renata Zobaran, diretora de Telemedicina e Saúde Digital da TopMed.

    “Muitos médicos aderiram a esse modelo de atendimento e os pacientes foram beneficiados com mais segurança, agilidade e assertividade no diagnóstico e tratamento clínico.” 

    MIGRAÇÃO PARA O DIGITAL: QUALIDADE NOS ATENDIMENTOS

    Empresas do setor apontam as melhorias em migrarem seus serviços para o digital e o quanto essa tomada de decisão influenciou nos atendimentos, permitindo mais qualidade nos tratamentos.

    Um exemplo é a plataforma brain4care, que monitora de forma não-invasiva variações da pressão intracraniana. 

    “De forma digital, fornecemos ao neurologista e ao neurocirurgião informações adicionais que qualificam o diagnóstico e proporcionam conduta médica preditiva, favorecendo a evolução e segurança do paciente”, explica Plínio Targa, CEO da empresa.

    Para Plínio, ocorreu um forte estímulo à adoção tecnológica em todas as esferas. 

    “No setor da saúde, destaco o valor e a importância dos conceitos da telemedicina, das plataformas de manipulação de drogas, das receitas online, da integração do prontuário do paciente, monitoramento de expansão do contágio com base em mobilidade, sem falar no avanço das pesquisas genéticas, inclusive para desenvolvimento de novas vacinas”, afirma. 

    Ele acredita que o maior impacto ainda está por vir. “Ao vivenciarmos uma pandemia nos dias de hoje, neste mundo hiperconectado, entendemos que a saúde é um bem coletivo e que não se segrega seguindo as divisões socioeconômicas”, diz.

    “Estamos todos juntos, independentemente de classe, raça ou localização geográfica, o que certamente será um vetor de indução ao investimento no setor. Logo, não é à toa que os investimentos em healthtechs tenham disparado nestes dois anos.”

    A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO: UM DESAFIO E TANTO

    Acesso democrático aos serviços digitais de saúde ainda é um gargalo na sociedade brasileira quando colocamos uma lupa em territórios mais afastados. 

    É o caso, por exemplo, da população ribeirinha da Amazônia. Enquanto no Brasil, segundo dados do IBGE, existem 24,9 habitantes por quilômetro quadrado, na Amazônia Legal (área que engloba nove estados do país pertencentes à bacia Amazônica) essa densidade é de 5,6 moradores, de acordo com estudo do Projeto Amazônia 2030. 

    Ou seja, há relativamente pouca gente espalhada por uma área muito vasta. O acesso também é difícil e costuma exigir longas viagens. 

    “Implementar a telemedicina e serviços digitais nessas regiões é um sonho ainda distante, devido à falta de investimento em internet e educação local. Mas isso salvaria vidas”, alerta cirurgião geral e vascular Fabio Tozzi, um dos fundadores da ONG Zoé, criada com objetivo de levar saúde às populações carentes da Amazônia.

    Gustavo Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, enxerga outros impedimentos para quebrar as barreiras ao acesso da população em geral à saúde digital. 

    “Há o aspecto cultural, tanto de profissionais da saúde e pacientes, o despreparo em nível educacional para lidar com as ferramentas disponíveis, a segurança dos dados das pessoas com o risco de ciberataques e a forma de remuneração de profissionais envolvidos em telemedicina”, enumera.

    FERRAMENTAS DIGITAIS PARA A SAÚDE MENTAL: PRÓXIMA GRANDE APOSTA

    Com o alerta da Organização Mundial da Saúde que doenças mentais serão as grandes vilãs neste século, empresas voltadas ao atendimento remoto defendem que o grande passo para a saúde digital em relação à evolução nos benefícios à sociedade, médicos e pacientes será a democratização do acesso à saúde mental. 

    “São dois embates: um social e outro em infraestrutura”, ressalta Fabiano Carrijo, CEO da plataforma Psicologia Viva, que atende operadoras e empresas.

    “Há o estigma social do preconceito e resistência, ao associar terapia somente a casos de tratamentos graves psiquiátricos e achar que não é adequado a casos de ansiedade, depressão, insônia”, explica.

    “Temos de pensar também na falha de infraestrutura em relação ao acesso à internet de alta velocidade. Com uma internet de qualidade, a consulta online terapêutica torna-se uma alternativa e uma experiência positiva.” 

    A TopMed tem uma visão otimista e acredita que a saúde digital caminha a passos largos para oferecer, sim, mais acessibilidade. 

    “Os avanços da saúde digital no Brasil ainda estão muito concentrados na saúde privada, pelo fato de os investimentos serem menos burocráticos”, acredita Renata. 

    “Porém, o setor público também está ganhando com todo esse movimento. Já atuamos fortemente no segmento público com várias prefeituras como clientes”, ela conta. 

    “Proporcionamos uma central de saúde 24×7 para agilizar o acesso remoto especializado fácil e seguro, como primeira opção ao paciente. Além disso, é evidente a redução da utilização indevida dos serviços de urgência e emergência, otimizando o atendimento presencial nas unidades de saúde.”

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