• Quais os planos do recém-criado Grupo 3778 para conseguir oferecer “saúde do Sírio-Libanês a preço de Hapvida”?

    O CEO Guilherme Salgado afirma que pretende simplificar o acesso à saúde de qualidade, “trazendo para muitos o que é privilégio de poucos” em seu novo grupo, que nasce após aporte de R$ 200 milhões liderado por Randal Zaneti e Jorge Paulo Lemann.
    Jose Renato Junior | 15 abr 2021

    “A gente quer oferecer a saúde do Sírio a preço de Hapvida.” É assim que, referindo-se à excelência do Hospital Sírio-Libanês e aos valores competitivos cobrados pela maior rede de planos de saúde do Norte e Nordeste, o CEO Guilherme Salgado define o objetivo de seu recém-formado Grupo 3778.

    Num movimento que deu o que falar no mercado, Guilherme conseguiu um aporte de R$ 200 milhões em fevereiro e criou uma das maiores healthtechs do país. O grupo agora consolida uma operação de serviços de saúde corporativa que reúne 1,13 milhão de vidas e mais de R$ 3 bilhões em transações em suas plataformas.

    Depois do aporte, a healthtech 3778, criada por Guilherme em 2017, assumiu as operações da TEG Saúde e do Grupo Implus, formado por Imtep e Implus Care. O investimento foi liderado por Randal Zanetti, fundador da Odontoprev, e tem a participação do fundo de Jorge Paulo Lemann.

    O Grupo 3778, assim, já nasce um gigante no segmento de gestão de saúde corporativa, uma espécie de holding que administra soluções dos quatro players – e que está de olho num mercado potencial de 31 milhões de vidas (se você ficou curioso com o nome 3778, leia o box no fim desta matéria).

    O Imtep é o maior gestor de ambulatórios corporativos do Brasil e referência em saúde ocupacional. A TEG é líder em programas corporativos de atenção primária à saúde, gestão de afastados, de absenteísmo e análise de sinistro.

    Por sua vez, a Implus Care é responsável por programas de qualidade de vida e prevenção. E, por fim, há ainda as soluções da própria 3778, uma empresa de tecnologia para a saúde que usa dados, design e inteligência artificial para a transformação do acesso, da gestão e da remuneração em saúde.

    A criação do Grupo 3778 tem a ver com a própria história de Guilherme e dos aprendizados, interesses e percepções que ele acumulou em sua carreira.

    UMA TRAJETÓRIA COMO MÉDICO, EXECUTIVO E EMPREENDEDOR

    Desde criança, Guilherme Salgado sabia que queria ser médico. Já no estágio em oncologia, no entanto, interessou-se por gestão ao perceber que havia muito pouca autonomia em relação a aspectos como manutenção do padrão de qualidade. Resolveu investir na área e, como bom médico, foi buscar a educação formal.

    Como não havia, na época, uma residência em gestão de saúde, Guilherme a fez em medicina do trabalho. Passou depois por consultoria e fez trabalhos em empresas e sindicatos.

    “Adquiri essa visão de saúde do trabalhador que existe hoje: o objetivo não era o adoecimento causado pelo trabalho; era, sim, tomar conta da saúde do trabalhador.”

    Percebeu lá uma deficiência estrutural. “Muita coisa do que a gente apontava na consultoria para ser feita, relacionada à promoção de saúde, não tinha ninguém para executar”, lembra. “Não tinha uso de dados nesse mercado, e as grande empresas já demandavam isso.”

    O médico então, decidiu empreender e, em 2014, montou a TEG Saúde. A ideia era atuar nesse gap que existia no mercado. A empresa oferece serviços que ajudam o cliente corporativo a remover a complexidade dos processos, economizar tempo e reduzir custos.

    As soluções têm foco em gestão dos afastados, saúde ocupacional, gestão de risco e sinistro assistencial e atenção primária à saúde, inclusive com médico de família.

    Médico e empreendedor, Guilherme não estava satisfeito… e virou também executivo. Em 2015, foi ser superintendente de Gestão de Saúde e Risco de Benefícios e Seguros do Banco Safra.

    A inquietude, diz ele, não cessava. Ao perceber a necessidade de mergulhar mais fundo na tecnologia, ele foi trabalhar em uma empresa que desenvolve soluções de inteligência artificial, a Kunumi.

    UMA HEALTHTECH DE DADOS, MAS TAMBÉM DE PESSOAS

    Na empresa, Guilherme entrou para tocar as soluções voltadas para saúde, mas saiu em 2018 como head da operação toda. “Aprendi muito sobre inteligência artificial. Tivemos que aplicar em vários setores, de banco a construtora”, afirma.

    “E então saí de lá para montar a 3778, porque senti que tinha que voltar para saúde. Saúde é o meu propósito, é onde eu acho que eu mais vou agregar valor.”

    A healthtech, fundada em maio de 2018, trabalha essencialmente com dados, mas, Guilherme gosta de enfatizar, com capital humano – é “data driven & human-guided”, como ela se apresenta.

    Os sistemas data driven que constrói têm como base milhões de informações integradas. Os dados são transformados em insights que geram ações e modelos preditivos e automações.

    Tudo isso permite a tomada de decisões personalizadas. “E precisas”, enfatiza o CEO, afirmando que as grandes razões de falhas de projetos de inteligência artificial são ou problemas dos dados ou do escopo.

    “Com o conhecimento que eu já tinha em saúde, sabia que havia problema na organização dos dados, ponto que eu queria endereçar com a 3778.”

    O Hospital Sírio-Libanês é um parceiro desde o início das operações da healthtech, que, lá, desenvolveu o Command Center da instituição. “Nele há toda a operação de ativos do hospital: leito, manutenção, alta, internação”, explica Guilherme.

    Do pedido de internação de um paciente até sua alta, há sete sistemas diferentes que são integrados na plataforma. “Uma vez que tudo está integrado, é possível visualizar as diferentes informações transitando para tomar a melhor decisão e girar esse leito mais rápido.”

    Isso, em épocas de Covid-19, significa, como o CEO afirma, “ter mais leitos com o mesmo número de leitos”.

    OS PLANOS DO NOVO GRUPO 3778

    Em fevereiro, a 3778 anunciou o aporte de R$ 200 milhões, capitaneado por Randal Zanetti e com a participação da LTS Investments e da UV Gestora de Investimentos.

    O recém-formado Grupo 3778 pretende levar soluções inéditas de gestão de saúde para clientes corporativos – a principal fonte pagadora da saúde no país.

    Para, como diz Guilherme Salgado, oferecer a “saúde do Sírio a preço de Hapvida”, o grupo pretende simplificar o acesso à saúde de qualidade, “trazendo para muitos o que é privilégio de poucos”.

    Quando fala de privilégio, o CEO do 3778 não se refere apenas ao acesso à qualidade, mas também à pertinência do tratamento. “Esse é o grande desafio da saúde global hoje”, afirma.

    “E, por isso, é super-relevante sermos independentes. Não sou hospital, não sou seguradora. Assim posso até ajudar os hospitais e seguradoras a oferecer pertinência – ou seja, dar aquilo que o paciente realmente precisa, sem pender para nenhum lado.”

    O investimento foi possível porque Guilherme e Randal já vêm se relacionando há um bom tempo. Apresentados por um amigo comum, eles logo entenderam que tinham os mesmos objetivos. Randal foi acompanhando a evolução da 3778 até que entendeu que chegara a hora de se envolver.

    “Ele foi a primeira pessoa que encontramos que comungava da mesma visão: saúde se faz com dados e dedo no pulso”, diz Guilherme.

    “Esse é o impacto que a gente quer. Por mais que o mundo digital acelere tudo, aumente a abrangência e a escalabilidade, eu ainda preciso do dedo no pulso do paciente para uma série de outras questões”, acredita.

    “Esse é um dos maiores pontos de fracasso, de projetos digitais em saúde no mundo inteiro: não conseguir resolver um problema complexo de ponta a ponta.”

    Guilherme afirma que pretende simplificar o acesso à saúde de qualidade, integrando e coordenando o cuidado, usando tanto ferramentas digitais como o cuidado presencial.

    “As empresas que geram a saúde do colaborador terão uma visão integrada e independente de resultados financeiros e clínicos. Além disso, os pacientes terão uma melhor experiência durante o atendimento e menor custo em diferentes linhas de cuidado.”.

    As soluções geram economia e mais eficiência operacional para os clientes, além de maior segurança para os pacientes. E, claro, são escaláveis.

    “A gente veio bem mineirinho, acho que ninguém nem sabia da nossa existência até sair essa notícia do investimento”, diz Guilherme.

    “Apesar de ser mineiro, galinha que bota tem que cantar. E precisamos de posicionamento, já que saúde se consome numa relação de confiança com a marca”, afirma.

    “Sempre brinco com meus amigos que falam que eu abandonei a medicina. Digo: você salva vida, uma por uma, e eu salvo no balde, essa é a diferença.”

    O que, afinal, significa 3778?
    A explicação é, avisamos de antemão, um tanto nerd. O nome 3778 está relacionado ao GO, um jogo de tabuleiro milenar criado na China que tem como objetivo cercar territórios. Embora tecnicamente simples (como o xadrez, um tipo de peça gera um tipo de movimento), GO é considerado o jogo mais complexo criado pelo ser humano, por causa da infinidade de jogadas possíveis.  A DeepMind, empresa de inteligência artificial do Google, criou um algoritmo de IA capaz de jogar GO, o AlphaGO. O algoritmo foi treinado com inúmeras informações de milhões de partidas e, em 2016, desafiou o coreano Lee Sedol, melhor jogador de GO que existe. As jogadas 37 e 78 tornaram-se icônicas no torneio de melhor de cinco jogos. Lee perdeu as três primeiras partidas consecutivas. Na jogada 37, AlphaGo fez um movimento simples, mas tão criativo que impossibilitou a vitória de Lee. Já ele, na quarta partida, durante a jogada 78, fez um movimento tão inusitado que, depois, foi chamado de “Toque de Deus”. Com ele, pela primeira e última vez, Lee venceu a máquina. Como escreveu a revista Wired, “os movimentos 37 e 78 marcam o momento em que máquina e humanidade finalmente começam a evoluir juntos”. 
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