• Equipe de transplante de pulmão do InCor é premiada por pesquisa inovadora

    Paulo Pêgo Fernandes é Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração (InCor) e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). (Foto: Divulgação)
    Paulo Pêgo Fernandes é Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração (InCor) e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). (Foto: Divulgação)
    Future Health | 17 nov 2025

    O grupo de Transplante de Pulmão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (InCorHCFMUSP) recebeu o Prêmio E. J. Zerbini – Pulmão, Coração, um dos principais reconhecimentos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). A premiação ocorreu no XIX Congresso Brasileiro de Transplantes, realizado entre 15 e 18 de outubro de 2025, em Fortaleza (CE). 

    O trabalho premiado é resultado de uma parceria entre os Laboratórios de Investigação Médica LIM-61, de Cirurgia Torácica, coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Pêgo Fernandes, e LIM-19 Imunologia, liderado pelo Prof. Dr. Edécio Cunha-Neto. 

    A pesquisa busca entender o que acontece com os pulmões durante o transplante, especialmente em relação ao DNA mitocondrial. Os resultados podem ajudar a melhorar a sobrevida dos pacientes após o transplante.

    Para entender mais detalhes dessa inovação, FUTURE HEALTH entrevistou um dos líderes do projeto, o Prof. Dr. Paulo Pêgo Fernandes. “Ficamos muito honrados com esse reconhecimento. Acreditamos que investir em pesquisa é fundamental para melhorar os resultados dos transplantes”, comenta o professor sobre o papel do InCor como referência em pesquisa, ensino e inovação na área de transplantes no Brasil.

    “Estudos como esse nos ajudam a entender melhor os desafios e a oferecer mais qualidade de vida aos nossos pacientes”, completa.

    A seguir, confira a íntegra da conversa com Fernandes, que é também Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração (InCor)-HC-FMUSP e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

    FUTURE HEALTH: Qual é a principal inovação apresentada pela pesquisa?

    PAULO PÊGO FERNANDES: É o estudo da disfunção mitocondrial no transplante de pulmão, um tema até então pouco explorado no Brasil e na América Latina. A partir da criação do biobanco do InCor, o único voltado para transplante de pulmão na região, foi possível iniciar essa investigação inédita. 

    Os resultados preliminares mostraram que a queda de DNA mitocondrial no enxerto pulmonar se correlaciona com a mortalidade em 90 dias e a mortalidade global dos pacientes transplantados. 

    Isso abre a possibilidade de, no futuro, esse marcador ser utilizado para prever precocemente a disfunção primária de enxerto, a principal causa de morbimortalidade precoce após o transplante.

    FH: Como ela impacta o cenário para quem trabalha e para quem se beneficia com transplantes de pulmão?

    PPF: Essa pesquisa tem potencial para melhorar o prognóstico dos pacientes submetidos a transplante de pulmão, permitindo identificar precocemente aqueles com maior risco de complicações. 

    Para os profissionais que atuam nessa área, o estudo oferece novas ferramentas de análise e compreensão da fisiopatologia da disfunção primária do enxerto, possibilitando o desenvolvimento de protocolos clínicos mais precisos e de estratégias terapêuticas mais direcionadas, com impacto direto na sobrevivência e qualidade de vida dos transplantados.

    FH: Como surgiu a ideia da pesquisa e a parceria entre LIM-61 e LIM-19?

    PPF: A ideia surgiu a partir da criação do biobanco do Incor, aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) em 2020-2021. Durante esse período, houve uma imersão na Universidade de Toronto, que abriga o maior biobanco de transplante de pulmão do mundo. Lá, foram aprendidos diversos protocolos que serviram de base para iniciar o biobanco brasileiro. 

    A partir da coleta das amostras, surgiu o desafio de estudar a disfunção primária de enxerto e suas possíveis causas, dentre elas a disfunção mitocondrial. Isso motivou a parceria com o LIM-19, sob a liderança do professor Edécio Cunha Neto, referência mundial no estudo da mitocôndria. Assim, uniram-se os esforços do LIM-61 e do LIM-19 para investigar como a função mitocondrial influencia o desfecho dos pacientes transplantados.

    FH: Quais foram as principais dificuldades durante a pesquisa? Como elas foram superadas?

    PPF: Os maiores desafios foram a padronização das técnicas laboratoriais e a falta de fomento financeiro. No início, houve a dificuldade de adaptar os métodos de análise mitocondrial, originalmente desenvolvidos para o coração, para o estudo do pulmão. Essa etapa foi superada com muito trabalho conjunto entre as equipes, resultando na padronização bem-sucedida dos protocolos no laboratório do Prof. Edécio Cunha Neto. 

    Outro obstáculo foi o financiamento, uma dificuldade recorrente na ciência brasileira, especialmente em áreas de doenças raras como o transplante pulmonar. 

    Até o momento, o projeto tem sido sustentado com recursos próprios dos laboratórios, enquanto os pesquisadores aguardam o resultado de submissões a agências de fomento nacionais.

    FH: Quais são os próximos desafios – seja num futuro próximo seja no longo prazo?

    PPF: Os próximos passos envolvem ampliar o número de amostras e consolidar os achados preliminares, buscando confirmar o DNA mitocondrial como biomarcador da disfunção primária do enxerto. Além disso, pretendemos estudar a influência da temperatura de preservação dos órgãos sobre a função mitocondrial. 

    Pesquisas recentes indicam que a preservação a 10 °C, em vez dos tradicionais 4 °C, pode reduzir a incidência de disfunção primária. O grupo pretende investigar como a bomba de sódio e potássio da mitocôndria se comporta nessas diferentes condições de temperatura, abrindo novas perspectivas para o aprimoramento dos transplantes pulmonares.

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