O câncer infanto-juvenil é a primeira causa de morte por doenças em crianças no Brasil. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de que no triênio 2023/2025 ocorrerão, a cada ano, 7.930 novos casos de câncer em pessoas de 0 a 19 anos de idade.
Diante deste cenário, é preciso reforçar quais os sinais da doença e dar a devida importância ao diagnóstico precoce, ao acesso a centros de tratamento especializados (no âmbito do SUS, CACON e UNACON, com habilitação em oncologia pediátrica) e a outro ponto essencial: os cuidados paliativos.
Cada vez mais, quando se fala de tratamento em oncologia pediátrica, vemos que há um aumento na conscientização sobre a necessidade dos cuidados paliativos, que constituem todos os recursos disponíveis para garantir ao paciente e à sua família um tratamento humanizado e que prioriza a qualidade de vida desde o diagnóstico.
Diferentemente do que se pensa, os cuidados paliativos não são aplicáveis apenas a pacientes terminais ou que não têm a possibilidade de cura.
Identificar, avaliar e tratar a dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual são pilares fundamentais da estratégia da equipe multiprofissional envolvida no cuidado integral do paciente (OMS, 2002).
Sendo assim, os cuidados paliativos podem ser iniciados logo na sequência do diagnóstico de uma doença que ofereça risco à vida do paciente, com identificação precoce, avaliação e plano de tratamento dos sintomas (reforço aqui que eles podem ser físicos, psicológicos, espirituais, emocionais e sociais). A intenção é eliminá-los ou minimizá-los.
Nesse sentido, contar com profissionais de saúde preparados e que saibam lidar com os cuidados paliativos é primordial. O acompanhamento por uma equipe multiprofissional integrada e em constante aprimoramento é aspecto fundamental do tratamento visando a qualidade de vida do paciente ao minimizar os efeitos agudos da terapia e garantir o bem-estar dos jovens em tratamento.
Há alguns objetivos importantes nesse trabalho conjunto, como o controle adequado da dor e de outros sinais e sintomas decorrentes do câncer e de seu tratamento; o suporte psicológico; e a definição e revisão de medidas gerais durante todas as fases do tratamento. Isso faz a diferença e garante ao paciente uma assistência integral.
Esse cuidado global à criança e ao adolescente com câncer deve ser estendido à sua família que, muitas vezes, também precisa de auxílio para aceitar a enfermidade, com um acompanhamento que deve ocorrer em todo o processo de tratamento.
Não há cuidado paliativo eficiente sem uma forte aliança entre paciente, família e equipe de saúde.
A família é determinante para que possamos aliviar o sofrimento do paciente. É preciso que os profissionais de saúde se informem da dinâmica familiar do paciente, ou seja, suas crenças, seus valores e até sua condição social para que o tratamento seja cada vez mais focado no bem-estar, amenizando e ressignificando os momentos mais difíceis do tratamento.
Para quem ainda se sente inseguro sobre o reconhecimento e eficácia do tratamento paliativo na oncologia pediátrica, destaco a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) 1973/2011, publicada no Diário Oficial da União, reconhecendo a medicina paliativa como área de atuação médica.
Além de falar dos pontos de atenção da oncologia pediátrica brasileira, nós, profissionais que atuamos na área, precisamos sempre reforçar a urgência de políticas públicas que ajudem ampliar o acesso e a qualidade do atendimento dispensado ao paciente com câncer.
Os cuidados paliativos são uma realidade e um avanço na medicina.
Essa é uma causa de todos nós. É hora de avançar.
*Neviçolino Pereira de Carvalho Filho é oncologista pediátrico e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).