• “Existe uma grande distância entre os cosméticos que a indústria oferece e o que os pacientes precisam”, afirma CEO de startup.

    Rafael Arpini (CEO) e Mariana Arpini, da Scientific Skin Technology.
    Rafael Arpini (CEO) e Mariana Arpini fundaram a Scientific Skin Technology em 2020. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 15 set 2023

    O mercado de dermocosméticos no Brasil está rejuvenescendo. De acordo com dados da NielsenIQ/Ebit, houve crescimento de 24% no início de 2022, comparado ao mesmo período de 2021. Até 2030, a expectativa do setor é crescer anualmente a uma taxa média de 4,76%, segundo projeções da Goldstein Research.

    Encabeçando esse movimento está uma startup catarinense fundada em 2020: a Scientific Skin Technology. Recentemente, a beautytech de séruns veganos foi selecionada para participar do GB Ventures, programa de aceleração do Grupo Boticário, voltado para o desenvolvimento de produtos inovadores no setor de beleza.

    O GB Ventures auxilia as startups na exploração de novos mercados a partir da experiência em varejo e beleza. Por meio de mentorias com executivos e especialistas, o programa amplia o conhecimento das participantes sobre o setor, oferecendo uma jornada personalizada e workshops para aprofundamento prático em temas de interesse comum.

    O médico Rafael Arpini, CEO da Scientific Skin Technology, resume o programa:

    “Passamos por um processo seletivo envolvendo 212 empresas. Nele, o Boticário avalia as participantes a partir de três critérios: retailtech, para startups de varejo; beautytech, para soluções de saúde e beleza; e DNVB (Marca Vertical Digitalmente Nativa), para fabricantes que têm o digital como canal de venda, com foco no segmento B2C.”

    Nos últimos três anos, a Scientific Skin Technology desenvolveu uma linha de sete séruns originais criados para tratar diversas questões estéticas. Também desenvolveu um algoritmo de inteligência artificial (IA) próprio para diagnóstico e recomendações de produtos mais assertivos para as necessidades do consumidor final.

    Defensora do luxo consciente por uma beleza natural, a healthtech criou o primeiro sérum em seringa do Brasil, produto inovador no segmento da beleza que oferece resultados de alta performance com fórmula totalmente vegana. 

    Todos os produtos da startup são desenvolvidos do zero e a proposta é inverter a cadeia produtiva: em vez de recorrer a farmácias de manipulação para criar medicamentos e cremes personalizados, por que não desenvolver produtos industriais a partir das dores dos pacientes, ouvindo as queixas em consultórios e partindo para soluções eficazes que atendam a mais pessoas?

    Para contar essa história com mais detalhes, FUTURE HEALTH conversou com o CEO Rafael Arpini e sua sócia, Mariana Arpini:

    FUTURE HEALTH: Como surgiu a ideia de criar a startup?

    RAFAEL ARPINI: Eu sou médico graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em medicina estética e mestre em medicina cosmética e envelhecimento fisiológico pela Universidade de Barcelona. Mariana, minha sócia e esposa, é fisioterapeuta e mestre em epigenética pelo Centro Universitário Metodista IPA, de Porto Alegre.

    Desde 2007, quando abri minha clínica de medicina estética, sempre trabalhei com procedimentos e equipamentos de última geração. 

    E desde essa época, percebemos que existe uma grande distância entre os cosméticos que a indústria oferece e o que de fato os pacientes apresentam como necessidade em consultório.

    Uma prova disso é a alta quantidade de formulações manipuladas, o que indica que as dores reais dos pacientes nem sempre coincidem com os produtos que a indústria de cosméticos disponibiliza no mercado tradicional.

    Nossa ideia é inverter a cadeia produtiva, partindo das necessidades reais dos pacientes e produzindo uma linha de cosméticos que ofereça dermocosméticos mais eficientes, que “dêem match” com o que observamos nos consultórios. 

    FH: A empresa já nasceu com esse diferencial de desenvolver os produtos a partir de demandas específicas de pacientes em consultório?

    RA: Entre 2016 e 2017, tive a oportunidade de fazer um mestrado na Universidade de Barcelona. A partir desse intercâmbio e de participações anteriores em congressos internacionais, aproveitei para visitar as principais empresas internacionais que produzem ativos cosméticos. 

    Conheci laboratórios, a biotecnologia empregada neles e conheci a fundo como são produzidos os ativos biológicos. 

    Então começamos a desenhar esse modelo de desenvolver formulações com esse processo invertido, com a medicina oferecendo soluções para a indústria distribuir em vez do contrário, que é o mais comum.

    FH: Que diferenciais os produtos da Scientific Skin Technology apresentam em comparação com os dermocosméticos convencionais?

    MARIANA ARPINI: A partir de nossas experiências em consultório e de trocas com colegas médicos da dermatologia e da estética, observamos que a alternativa mais comum ao que o mercado oferece é o medicamento manipulado. E ele não tem a mesma precisão dos ativos industrializados e nem a mesma adesão por parte dos pacientes, em geral. Além disso, ele oxida mais rápido, ou seja, tem prazo de validade menor, e também não tem a mesma tecnologia de peptídeos que a indústria oferece. Nossos produtos buscam oferecer a personalização do remédio manipulado com a qualidade dos compostos industriais.

    Vou dar um exemplo mais prático sobre como isso diferencia nosso produto: vendemos muito o tratamento do melasma. Em quase 100% dos tratamentos cosméticos tradicionais para manchas e melasma, a indústria farmacêutica usa ácidos hidroquinona e ativos sensibilizantes. Só que eles são contraindicados para uso no verão, que é justamente quando a pele mais sofre com melasma.

    Isso ocorre por causa de um efeito rebote: o cosmético sensibiliza a pele que, em contato com a luz solar, acaba por ficar mais manchada. Por causa disso, o paciente não pode usar o cosmético quando ele mais precisa.

    Nossa solução, pensando nisso, é trabalhar com cosméticos que são pró-longevidade, que trabalham nos efeitos de radicais livres, com efeitos anti-inflamatórios em vez de inflamatórios, com peptídeos apropriados, que permitam o tratamento de melasma no verão. Inclusive, recomendamos esse sérum não somente como um produto que pode ser usado, mas que deve ser usado no verão.

    FH: Qual a estrutura atual da empresa? 

    MA: Trabalhamos atualmente com quatro colaboradores fixos além de uma rede com mais de 20 colaboradores indiretos. Nossa estrutura é bastante terceirizada, desde o e-commerce até o galpão logístico, passando, inclusive, pela fabricação dos produtos.

    Então, somos uma indústria por terceirização, ou seja, temos a fórmula proprietária, compramos todos os ativos, mantendo um relacionamento estreito com todas as empresas fornecedoras de insumos, brasileiras e internacionais. Entregamos esses ingredientes de ponta para uma fábrica terceirizada que elabora os compostos, envasa e nos entrega o produto, que iremos comercializar e distribuir.

    FH: Como tem sido a parceria com o Grupo Boticário?

    RA: Temos conversado com o Boticário desde o final de 2020, já no primeiro ano da empresa. 1º ano que a empresa nasceu. Já enviamos todos os nossos produtos lá atrás para o departamento de P&D do Boticário avaliar e a performance e qualidade sempre foram aprovadas. 

    Atualmente estamos em um processo de aceleração, o GB Ventures, juntamente com oito empresas. Há uma troca muito boa de conhecimento entre os participantes, gerando muito aprendizado e valor.

    Tivemos alguns encontros com a alta gestão do Boticário, sempre discutindo melhorias que podemos fazer, desde a embalagem até o posicionamento do produto no mercado, passando pela criação de novos canais de venda, sempre com foco na jornada do consumidor.

    A ideia é que o consumidor perceba que está levando para casa um tratamento de alta performance, com valor justo e adequado, que pode tanto melhorar a pele sem tratamentos associados como também pode melhorar a durabilidade e o resultado de tratamentos estéticos feitos em consultório.

    Também estamos trabalhando para evidenciar a democratização dos tratamentos estéticos que nossos produtos oferecem. Nossos séruns têm altíssima performance,  por vezes superiores a de marcas internacionais, com um até 10 vezes menor. Ou seja, trabalhamos com um preço justo que possibilita o acesso de mais pessoas a tratamentos cosméticos de alta performance.

    FH: Como vocês vislumbram o futuro da Scientific Skin Technology e dos próprios tratamentos dermocosméticos?

    MA: Em nosso horizonte próximo está ampliação de nossos canais de comunicação e de comercialização, a fim de colocar a empresa como uma marca de destaque que está mudando o mercado nacional de dermocosméticos, com intenção de influenciar o mercado internacional em breve.

    Para isso, queremos nos posicionar com uma solução de dores dos pacientes. E um dos principais desafios para isso não é nem o de desenvolver produtos excelentes a um custo acessível, mas o de comunicar isso de maneira clara, informando os consumidores sobre os benefícios que oferecemos por meio de uma solução inovadora.

    Estamos construindo um espaço, uma nova frente, que é essa dos cosméticos combinados para tratamento estético home care. E como toda novidade, esta requer uma jornada de conhecimento, de aprendizado, para quem for aderir. O desafio é tornar palatável, desejável, uma novidade, quando o mais fácil e cômodo é o consumidor manter seus hábitos, sua rotina, com aquilo que já conhece em vez de testar outra marca. 

    Por isso, queremos nos posicionar como a principal marca de dermocosméticos transformadores do mercado. E isso está diretamente ligado ao futuro dos tratamentos estéticos. Além de investir em tecnologia, escuta e informação, é fundamental valorizar o propósito.

    Quando falamos em cosméticos veganos, por exemplo, é obrigatório que eles sejam entregues em embalagens sustentáveis. Esse compromisso deve estar contemplado no escopo inicial de qualquer projeto. E este é apenas um pequeno exemplo de que devemos pensar de maneira sustentável e para além da função do produto.

    Temos o propósito de transformar o skincare nacional e de democratizar os tratamentos estéticos sempre alinhados com a conservação do planeta.

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