• Conheça – e esqueça – 5 mitos sobre a medicina nuclear

    Adelina Sanches - SBMN
    Adelina Sanches, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 22 jun 2022

    A medicina nuclear é uma especialidade que gera dúvidas no público leigo. A falta de conhecimento sobre como é utilizada, sobre qual a ação efetiva e possíveis reações aos procedimentos favorece a disseminação de informações incorretas. Desta forma, surgem mitos e suposições que não condizem com a realidade e que podem, muitas vezes, atrasar o diagnóstico, atrapalhar ou até interromper tratamentos.

    Talvez a melhor definição de medicina nuclear seja: uma especialidade médica que, utilizando métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos, emprega materiais radioativos com finalidade diagnóstica e terapêutica. 

    A medicina nuclear usa quantidades mínimas de substâncias radioativas (radiofármacos) como ferramenta para acessar o funcionamento dos órgãos e tecidos vivos, produzindo imagens, realizando diagnósticos e viabilizando tratamentos.

    Para evitar que a desinformação prejudique o acesso de mais pessoas à medicina nuclear e seus benefícios, listo, a seguir, algumas questões importantes. Creio que essas informações possam desmistificar algumas impressões equivocadas sobre a especialidade:

    Medicina nuclear e radiologia não são a mesma coisa

    É importante salientar que medicina nuclear e radiologia são especialidades distintas, apesar da semelhança de utilizar a radiação para obter imagens e de serem complementares.

    Enquanto a radiologia trabalha com imagens anatômicas e estáticas, contudo, na medicina nuclear o paciente recebe uma substância radioativa (chamados radiotraçadores ou radiofármacos) e passa por máquinas que detectam essa radiação – o que permite uma análise das alterações funcionais das estruturas internas do corpo.

    Não há riscos na utilização de substâncias radioativas em exames de imagem

    Outra dúvida comum que chega aos consultórios é se existe algum risco no uso de substâncias radioativas em procedimentos. A quantidade de radiação envolvida na medicina nuclear é mínima e a injeção aplicada raramente provoca qualquer efeito colateral ou adverso. 

    Exames de medicina nuclear não aumentam o risco de surgimento de câncer 

    Como dito anteriormente, a medicina nuclear utiliza baixas dosagens de substâncias radioativas. Além disso, as poucas quantidades ingeridas são expelidas pelo corpo pouco tempo após os procedimentos. Vale lembrar que o organismo é capaz de responder a eventuais danos por vários mecanismos de defesa, reparo ou eliminação.

    A radiação pode tornar-se um problema quando administrada de forma intensa e em doses altas, o que não ocorre nos exames nucleares. Não há dados que confirmem a hipótese de que as doses de radiação dos radiofármacos de diagnóstico causem danos a quaisquer órgãos humanos.

    Alérgicos a iodo também podem fazer exames de medicina nuclear 

    Pessoas alérgicas a iodo podem se submeter à chamada radioiodoterapia – abordagem utilizada para tratar o câncer de tireoide depois do procedimento cirúrgico –, que consiste na administração, por via oral, do iodo-131, que é um elemento radioativo. 

    Seu preparo inclui uma dieta pobre em iodo por aproximadamente duas semanas antes da realização do procedimento e o aumento de um hormônio chamado TSH. O iodo radioativo encontra as células cancerígenas da tireoide que eventualmente escaparam do tratamento cirúrgico. 

    A tireoide e o câncer de tireoide captam o iodo e, assim, o iodo-131 leva radiação diretamente às células tumorais, causando sua destruição. A quantidade de iodeto (íon de iodo também encontrado em frutos do mar e no sal de cozinha) é mínima no composto de radioiodoterapia, eliminando quase todas as restrições.

    Medicina nuclear não é recomendada para gestantes e lactantes

    Uma das únicas exceções em relação à aptidão de todas as pessoas para realizar exames de medicina nuclear ocorre entre gestantes e/ou lactantes. Os procedimentos não são recomendados também para mulheres com suspeita de gravidez. Pode até haver liberação para exames em casos esporádicos, em que o médico responsável pelo acompanhamento avalia a relação entre risco e benefício.

    No caso das lactantes, há possibilidade de realização de exames desde que o leite produzido seja descartado até que o radiofármaco seja totalmente eliminado do corpo. Este tempo varia de acordo com o procedimento realizado, uma vez que cada radiofármaco tem uma meia-vida específica.

    Para que se possa mitigar ou até acabar com esses e outros mitos acerca da medicina nuclear é importante que o paciente seja bem orientado pelo médico que o acompanha.

    O ideal é que o paciente tenha consciência de que a medicina nuclear é segura e que seus procedimentos podem ser até menos arriscados do que tomar um comprimido para dor de cabeça.

    *Adelina Sanches é diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).

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