• Com ClubSaúde, fundador da BenCorp quer dar acesso a saúde de qualidade para 1 milhão de pessoas sem plano

    O negócio ao qual se dedica Luís Alexandre Chicani, que também criou a DentalCorp – e a vendeu por R$ 25 milhões –, é uma alternativa entre a rede pública e os planos privados de saúde (Foto: Ethel Braga/Divulgação)
    Jose Renato Junior | 25 jan 2021

    Em 2011, o empreendedor Luís Alexandre Chicani recebeu o telefonema de Robson Gouveia, então presidente da Leader Magazine. Amigo de longa data, Robson fez uma proposta a Chicani: havia sido convidado para investir em um negócio de saúde que parecia interessante e propunha sociedade.

    Chicani tinha um longo histórico na área. Formado em odontologia e com especialização em administração pela Fundação Getulio Vargas, ele havia empreendido pela primeira vez ao criar, em 1990, a DentalCorp

    A empresa, que nasceu como um convênio de odontologia para uma construtora, cresceu e foi vendida em 2006 para a OdontoPrev por R$ 25 milhões e uma carteira composta por empresas de médio porte no país todo que somava 180 mil beneficiários. Nesse meio tempo, foi selecionado como empreendedor Endeavor e viu sua empresa virar estudo de caso na Harvard Business School.

    Dois anos mais tarde, percebendo a dificuldade que as companhias tinham em gerir seus planos de saúde – que correspondiam ao segundo maior gasto delas, atrás apenas da folha de pagamento –, Chicani fundou a BenCorp, uma empresa que oferece gestão integrada de benefícios corporativos e saúde ocupacional. Por isso Robson, cliente de Chicani desde 1998, o procurava.

    Com paixão por criar empresas do zero, o empreendedor aceitou o desafio de lançar um clube de benefícios de saúde focado nas classes C e D – uma população enorme que não têm plano de saúde por falta de recursos, mas que deseja contar com uma opção de atendimento fora do Sistema Único de Saúde, o SUS. Foi assim que nasceu o ClubSaúde.

    SAÚDE POR UM PREÇO QUE CABE NO BOLSO

    Com um público-alvo potencial de cerca de 100 milhões de pessoas, o ClubSaúde se posiciona como um completo pacote de benefícios para a saúde e o bem-estar do usuário. É uma alternativa entre a rede pública e os planos privados de saúde. 

    Com planos mensais a partir de R$ 21,90, a empresa oferece atendimento com preços acessíveis em mais de 2,5 mil clínicas e laboratórios do país, serviços de telemedicina e telepsicologia e descontos de até 60% em mais de 2 mil medicamentos de 23 mil farmácias.

    O associado e seus dependentes podem fazer consultas particulares de mais de 40 especialidades por valores a partir de R$ 60 e exames como raio X do tórax desde de R$ 35 (eles costumam custam a partir de R$ 180). Além disso, uma teleconsulta custa a partir de R$ 25.

    “O objetivo é dar acesso à saúde de qualidade com um preço que caiba no bolso do brasileiro”, diz Chicani. “Minha meta é alcançar um milhão de vidas.”

    A princípio, as vendas eram feitas no balcão da Leader Magazine, rede de lojas de departamento do Rio de Janeiro com quem a ClubSaúde tinha exclusividade. Mas isso não por muito tempo.

    O OLHO DO DONO ENGORDA O GADO

    Em 2013, Chicani, que havia saído da operação da BenCorp, soube que ela estava com um rombo financeiro. E teve que retornar para arrumar a casa. Lá, descobriu que os números do balanço não batiam com o valor na conta bancária. Os impostos não estavam sendo pagos pelos sócios que tocavam o negócio para favorecer o fluxo de caixa. 

    Eles acabaram saindo da empresa e Chicani a assumiu sozinho, em meio a perda de contratos. Assim, deixou o ClubSaúde. “Dois anos depois, expandimos o escritório para um andar inteiro em um edifício empresarial na avenida Paulista”, escreve ele no livro “44 Sonhos, Caminhos e Sorrisos – Como um dentista se tornou caso de Harvard e empreendedor serial Endeavor”, que publicou em 2019.

    “A BenCorp é uma empresa que oferece gestão integrada de benefícios que permite às companhias clientes reduzir custos com planos de saúde, gerenciar riscos e promover saúde e bem-estar”, afirma ele. “A proposta de valor é oferecer mais benefícios com menos custo.”

    O trabalho consultivo prestado pela BenCorp inclui consultoria, gestão de risco, gestão de saúde e medicina ocupacional. A equação, afirma Chicani, entrega informações valiosas, como um mapa estratégico da saúde dos beneficiários. A partir daí, elabora estratégias para regular a taxa de sinistralidade, identificar os tipos de uso do plano (maiores utilizadores/gastos), entre outras ações. 

    Com clientes como Magazine Luiza, Leroy Merlin e XP Investimentos, entre outras, a BenCorp criou também com um centro clínico modelo para atendimento presencial. Como a empresa estava novamente nos eixos, seu fundador decidiu, em 2018, começar a preparar a sucessão. Hoje, Cesar Augusto Ciongoli é o CEO da companhia.

    FOCO TOTAL NO CLUBSAÚDE

    Em 2016, a Leader, que havia tido 70% de suas ações compradas pelo banco BTG Pactual quatro anos antes, entrou em recuperação extrajudicial e parou de pagar para o ClubSaúde. 

    “Precisei investir capital próprio para pagar as contas que não paravam de chegar”, diz Chicani, que desembolsou R$ 1 milhão com os salários de médicos e enfermeiros. Quando a família Gouveia disse que ia desistir do negócio, o empresário assumiu 100% dele – no meio da crise.

    No entanto, admite Chicani, a empresa foi sendo tocada “no piloto automático”. Essa história acabou em 2018. Acreditando que a empresa não poderia depender de um único canal de vendas (mesmo que o balcão de uma grande varejista) e que a tecnologia seria sua aliada, Chicani investiu em novas plataformas. 

    “Em nosso processo de repensar o produto, pensamos em uma nova plataforma de descontos, que tire o foco apenas da saúde e enfatize também o bem-estar”, explica. 

    Chicani agora mantém as rédeas do ClubSaúde, que chegou a 100 mil vidas. “Quero fazer a empresa crescer também”, diz. “Estou há 32 anos no mercado e tenho convicção de que o modelo de negócio é viável.”

    IMPACTOS DA PANDEMIA

    Tanto BenCorp quanto ClubSaúde viram aumentar a demanda por suas soluções durante a pandemia de Covid-19. “Foi preciso, como em todos os segmentos, que nós nos reiventássemos”, afirma Chicani.

    A companhia, por já participar dos Comitês de Crises das empresas parcerias, como Magalu, Brinks e Vigor, viu a necessidade de uma solução rápida, remota e que não expusesse os colaboradores e familiares em hospitais e prontos-socorros, já que atende mais de meio milhão de vidas por todo Brasil.

    A telemedicina surgiu como solução. Em apenas três meses a empresa já contava com 10 mil consultas realizadas, incluindo os serviços de telepsicologia. Tudo com NPS, a avaliação dos serviços, médio de 96% de ótimo e bom nos quesitos acessibilidade, agilidade e qualidade no atendimento. Ainda durante a pandemia, a BenCorp contratou mais de 75 colaboradores.

    Aos 53 anos, acordando às 4:44 (ele tem obsessão pelo número 44), Chicani conta que suas empresas vêm crescendo nos últimos três anos pelo menos 30% a cada ano – foi este o salto da BenCorp no ano da pandemia. “Sou da teoria de que empreender é mais suar do que qualquer outra coisa”, diz ele, que promete não sossegar. 

    Quando completou 50 anos, o empreendedor resolveu fazer um processo de coaching. “Elenquei quatro objetivos para a minha vida”, conta. “Acelerar o ClubSaúde para dar acesso à saúde para 1 milhão de brasileiros é um deles.”

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