• “Há mais celulares do que escovas de dentes no mundo, o que indica descaso com a saúde dental”

    Fernando Pedrosa, fundador e head da Dex Dental
    Fernando Pedrosa, fundador e head da Dex Dental. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 8 ago 2022

    Você já deve ter ouvido falar que a saúde começa pela boca. Essa frase, que nos acompanha desde a infância, é verdadeira: diversas doenças crônicas, como a diabetes, doenças cardiológicas e até de saúde mental, têm íntima relação com a saúde dos seus dentes. Para se ter uma ideia, segundo dados do Instituto do Coração (Incor), 45% das doenças cardíacas e 36% das mortes por problemas cardíacos estão relacionadas a infecções bucais não tratadas. 

    Mesmo diante dessas evidências, a odontologia ainda é vista como especialidade a se consultar em casos já agudos, quase nunca de forma preventiva. O estudo mais recente feito pelo IBGE a respeito do tema constatou que apenas 12,9% dos brasileiros têm plano odontológico. O mesmo levantamento constatou que, dos 162 milhões de brasileiros acima de 18 anos, 34 milhões perderam 13 dentes ou mais, e 14 milhões perderam todos os dentes.

    “O brasileiro em geral está pouco preocupado e investe pouco na saúde bucal. 30% dos brasileiros sofrem de mau hálito, segundo a Associação Brasileira de Halitose. Para fins provocativos, no mundo há mais smartphones do que escovas de dentes, denotando o grau de prioridade dado à saúde bucal de forma geral”, revela Fernando Pedrosa, dentista e fundador da Dex Dental.

    A startup focada em serviços para a saúde bucal acaba de firmar parceria com a Hospital Care, uma holding de saúde que concentra diferentes tipos de serviços, todos focados no cuidado com o paciente, em um só lugar. 

    FUTURE HEALTH conversou com Fernando sobre a importância da saúde bucal para o indivíduo como um todo e também sobre as novas tecnologias da área. Confira:

    FUTURE HEALTH: Qual a relação entre saúde mental e saúde bucal

    FERNANDO PEDROSA: Uma revisão de 25 estudos realizados com mais de cinco mil pacientes psiquiátricos mostrou que eles tinham quase três vezes mais risco de perder os dentes. 

    Além disso, apresentavam mais cáries e obturações quando comparados a pessoas sem problemas mentais, como aponta o estudo da Systematic Review and Mental Analysis. Isso ocorre por diversos fatores, principalmente por hábitos alimentares inadequados e falta de higiene bucal. 

    Muitas pessoas buscam compensações ou desenvolvem compulsão por alimentos ricos em açúcares, como os chocolates, pois eles geram uma sensação de satisfação temporária. Mas em excesso e sem a higiene correta após o consumo, a falta de uso de antissépticos bucais e o comportamento aumentam o risco de cáries e doenças da gengiva, ou seja, uma deterioração da estrutura dentária por causa da presença de bactérias na boca e dieta cariogênica. 

    Há outro impacto na saúde bucal dos pacientes com problemas psiquiátricos que utilizam medicação antidepressiva: ela altera o fluxo salivar, deixando mais viscosa e menos abundante. A saliva tem importante atuação na manutenção do equilíbrio da cavidade oral.

    FH: Como a cultura brasileira em geral lida com a saúde bucal?

    FP: A cultura do brasileiro e a educação para saúde ainda são precárias. As pessoas valorizam pouco a odontologia e o trabalho dos dentistas. Nós, dentistas, temos uma profissão importante, eu costumo brincar e dizer que não dá pra ser feliz sem dentista, não é mesmo? 

    É comum, também, que as pessoas só passem a valorizar a odontologia e o trabalho do dentista quando são acometidos por um acidente ou por dor de dente. O brasileiro em geral está pouco preocupado e investe pouco na saúde bucal. 

    Cerca de 30% dos brasileiros sofrem de mau hálito, segundo a Associação Brasileira de Halitose. Para fins provocativos, no mundo há mais smartphones do que escovas de dentes, denotando a prioridade dada à saúde bucal de forma geral.

    FH: E o que pode ser feito a respeito?

    FP: Adquirir um plano odontológico de qualidade é um caminho interessante e importante para a população brasileira. É um benefício com ótima cobertura e preços acessíveis. 

    Outra medida importante seriam os órgãos governamentais e as instituições desenvolverem políticas públicas de educação para a saúde bucal, mais efetivas e massificadas. 

    É comum filhos de dentistas não sofrerem mais com doenças da boca. O que será que os dentistas fazem com seus familiares para chegar nessa situação ideal de saúde bucal? Seguramente, não foram restaurações. O que eles fizeram foi trabalhar na educação para a saúde.

    FH: Quais são os cuidados básicos recomendados e acessíveis a qualquer pessoa?

    Os cuidados mais importantes e básicos que eu gostaria de ressaltar aqui são a higiene bucal com a escovação, o uso de fio dental, pasta de dente fluoretada e de boa qualidade. Se possível, o uso de antisséptico bucal sem álcool na sua composição. 

    Também é importante realizar o autoexame diário da cavidade bucal e de suas estruturas, na busca de sinais importantes que passam despercebidos na maioria da população, como por exemplo o sangramento gengival. 

    Desde que a pessoa não tenha machucado a gengiva ou os tecidos moles, esse tipo de sangramento é sinal de doença das gengivas, doença periodontal, assim como dor e vermelhidão. 

    FH: Em caso de sangramento, então, como proceder?

    FP: Um sangramento bucal é um motivo de atenção tão importante quanto por exemplo a presença de sangue na urina. As pessoas precisam estar atentas a esse dado muito importante de que o sangramento na gengiva é sinal de doença. 

    O exame preventivo de câncer bucal também é muito importante, verificando o aparecimento de feridas na boca que demoram a cicatrizar, é um sinal de alerta para as pessoas.

    De 2000 a 2013 morreram cerca de 61 mil pessoas de câncer bucal e orofaringe no país, como apontou o artigo Mortalidade por Câncer Bucal e de Orofaringe no Brasil. 

    FH: Como a Dex Dental surgiu? 

    FP: A Dex surgiu de uma inquietação profissional e pessoal, e do desejo de descobrir um ambiente empresarial inovador onde eu pudesse empreender novamente na indústria de planos odontológicos. 

    A primeira inquietação vem de uma insatisfação com o modelo de prática odontológica utilizado na maioria dos serviços, que estão tratando as consequências das doenças (como a cárie periodontal) em vez das causas. 

    Você seguramente conhece pessoas que passaram a vida inteira indo ao dentista e perderam os dentes. Isso não é natural. Será que esse modelo de prática odontológica não está ultrapassado ou obsoleto? 

    Outro questionamento interessante sobre isso é que somos capazes de encontrar corpos soterrados há séculos, como as múmias, e seus dentes encontram-se preservados. Mas nós, vivos, não conseguimos manter os dentes na boca e com saúde? Não podemos normalizar e aceitar a perda dos dentes quando idosos, no fim da vida.

    FH: Que dores a Dex Dental busca solucionar?

    FP: As mudanças desse paradigma cirúrgico restaurador para o modelo de promoção de saúde, que é baseado em evidências científicas e prega o exame, o diagnóstico, o tratamento das causas das doenças, tratamento restaurador e manutenção preventiva sistemática, é o principal movimento estratégico da Dex Dental. Eu me perguntava onde e em que empresa na área de saúde esse projeto poderia se desenvolver, baseado em princípios de inovação e tecnologia. A Hospital Care foi a resposta.

    FH: Em que inovações a startup vem trabalhando?

    FP: Aliado a toda essa estratégia filosófica e a uma odontologia científica, estamos desenvolvendo um arcabouço tecnológico, como dados e inteligência artificial, para trazer inovação na experiência de clientes e dentistas.

    Um exemplo relevante e que também nos move nessa direção é o que ocorreu com o sistema bancário nos últimos quinze anos. Veja como a tecnologia dos smartphones proporcionou uma mudança incrível na vida e na experiência bancária das pessoas. 

    Com apenas alguns cliques, é possível realizar movimentações bancárias sem sair de casa. Isso melhorou a vida de milhões de pessoas, e a nossa ambição é trazer algo novo na trajetória e na experiência do cliente da Dex e também na dos dentistas credenciados.

    FH: E como vocês usam a inteligência artificial como instrumento para a saúde dental?

    FP: Com toda essa tecnologia mencionada, é na coleta de dados que a inteligência artificial irá atuar, proporcionando melhoria na vida e na saúde bucal das pessoas.

    Desenvolvemos um protocolo de atendimento baseado em evidências científicas, preconizando o tratamento das causas das doenças bucais, determinando um grau de risco individual (G.I.R) das pessoas desenvolverem essas doenças e propondo uma manutenção preventiva sistemática baseada nesse risco. 

    Afinal, doenças da boca afetam a saúde geral das pessoas, e tudo o que acontece na boca não fica apenas nela.

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