O Hospital Israelita Albert Einstein adquiriu recentemente a tecnologia C-SATS, que utiliza inteligência artificial (IA) combinada com o olhar de experts para aprimorar a performance de cirurgias realizadas por vídeo. A plataforma é comercializada pela J&J MedTech, empresa da Johnson & Johnson direcionada a oferecer soluções físicas e digitais para o setor de saúde.
Funciona assim: a cirurgia é gravada e o arquivo enviado para uma nuvem com alto nível de segurança. Então, o algoritmo da plataforma separa o vídeo por etapas e faz uma breve análise da operação. Com os “melhores momentos” em mãos, entram em cena os revisores: cirurgiões que identificam erros e acertos realizados ao longo do procedimento.
Alexandre Luque, líder da Ethicon, divisão de tecnologia para cirurgias da J&J MedTech Brasil, detalha:
“A plataforma oferece um feedback qualitativo com recomendações específicas para melhoria de desempenho (do médico cirurgião) com insights analíticos de performance.”
Ainda de acordo com Luque, todo o processo de captura e armazenamento de imagens é feito em poucos cliques. “O vídeos passam por um duplo processo de revisão e anonimização de dados até serem disponibilizados na plataforma. A tecnologia possui rigorosos padrões de segurança e foi desenvolvida em linha com as leis de privacidade”, afirma.
A plataforma C-SATS foi criada em 2012 como um projeto de pesquisa da Universidade de Washington, em Seattle, nos Estados Unidos. E foi a partir de 2018 que ela passou a fazer parte do portfólio de soluções digitais da Johnson & Johnson.
Naquele mesmo ano, o Hospital Israelita Albert Einstein enxergou a oportunidade de trazer a tecnologia para dentro de casa como benefício para o corpo clínico. Nam Jin Kim, diretor médico do programa de cirurgia e robótica do Einstein, relembra:
“Queríamos que o cirurgião tivesse uma ferramenta para fazer uma autoanálise, rever seus passos, e aprender ainda mais, com feedback sobre em que aspectos poderia aprimorar sua prática.”
Foi então que começaram as primeiras conversas entre o hospital e a empresa para a implantação da plataforma por aqui. Kim conta que a J&J MedTech precisou de um bom tempo de ajuste para entender como a tecnologia se comportaria, até que, em 2021, a empresa decidiu trazer C-SATS para o Brasil.
Neste início de parceria, a J&J MedTech cedeu a plataforma para que o Albert Einstein fizesse um projeto piloto. Kim detalha o processo:
“Fomos orientados a selecionar 20 cirurgiões para testar a ferramenta por 6 meses e, assim, compreendermos como seria a recepção do corpo clínico.”
O hospital selecionou os profissionais com maior volume de procedimentos cirúrgicos com robótica. De acordo com Kim, o Einstein escolheu esse setor por ser mais tangível para padronizar e acompanhar os resultados em curto período:
“Queremos, em um futuro breve, usar essa plataforma como um modelo de treinamento e de formação de cirurgiões, residentes e pós-graduandos.”
A segurança é um dos aspectos mais valorizados no projeto: tanto os cirurgiões envolvidos como os pacientes que autorizam que vídeo de suas cirurgias abasteçam biblioteca da plataforma têm suas identidades anônimas.
“Temos cuidado especial com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), além de toda a ética necessária ao cuidado com os pacientes”, reitera Kim.
O diretor médico também ressalta uma atenção especial para que os profissionais da saúde entendam que a ferramenta vem para beneficiá-los.
“Tínhamos receio de que o cirurgião se sentisse vigiado, mas percebemos que o profissional que tem boa prática quer ser comparado, quer saber como melhorar.”
Assim, aos poucos, a plataforma servirá como base para a construção de uma biblioteca digital para armazenar todos os dados de cirurgias com refinamento – de boas práticas a procedimentos contraindicados.
Ao aprimorar o expertise dos profissionais com a tecnologia C-SATS, ocorre também uma potencial redução na variação de resultados das cirurgias. E isso diminui as chances de complicações no pós-cirúrgico. Luque comenta:
“Os ganhos vão além da eficiência operacional e da diminuição de custos diretos e indiretos da jornada de cuidado, se manifestando, principalmente, na saúde do paciente, que terá uma cirurgia mais precisa e segura.”
A tecnologia C-SATS já vem sendo usada em países como Alemanha, Canadá, Coréia do Sul, EUA, Inglaterra e Japão.
Aqui no Brasil, além do Einstein, outros três hospitais também adquiriram a plataforma. “Estamos trabalhando para que mais hospitais no país tenham acesso a essa solução”, complementa Luque.
Nestes locais em que a plataforma já é usada há mais tempo, os dados são animadores, com os cirurgiões que têm acesso à C-SATS obtendo desempenho melhor do que os pares:
De acordo com Luque, a chegada de C-SATS ao Brasil é um passo importante para consolidar a cirurgia digital no país:
“Essa tecnologia está reinventando a jornada de aprimoramento e a educação das habilidades cirúrgicas em escala global.”