• Conheça o “burnômetro”, algoritmo que identifica síndrome de burnout

    Ana Carolina Peuker, fundadora e CEO da Bee Touch
    Ana Carolina Peuker é fundadora e CEO da Bee Touch. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 22 ago 2022

    Em janeiro de 2022 , a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a síndrome de burnout – também chamada de síndrome do esgotamento profissional – como um fenômeno relacionado ao trabalho. E até hoje as empresas seguem com dúvidas e patinando sobre como conduzir a questão entre suas lideranças, RHs e até mesmo no âmbito jurídico. 

    Para ajudar as corporações a cuidar da saúde mental de seus colaboradores, a startup Bee Touch, mental healthtech pioneira na mensuração, rastreamento e predição do risco psicossocial e em avaliações psicológicas digitais, criou o burnômetro.

    Por meio de um teste simples para o usuário, um algoritmo faz uma avaliação baseada em evidências e pode ajudar a identificar se algo no trabalho está levando ao esgotamento do colaborador. 

    Ana Carolina Peuker, fundadora e CEO da Bee Touch, comenta:

    “Tenho visto empresas confusas com relação ao burnout, achando que, se tocarem no assunto, os casos vão aumentar, pois as pessoas passarão a identificar o problema. Em vez disso, é preciso ter uma abordagem preventiva, para não viver apagando incêndio.”

    Para a psicóloga, com pós-doutorado no Laboratório de Psicologia Experimental, Neurociências e Comportamento (LPNeC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de falar da síndrome em si, é preciso focar também nas fases do desenvolvimento do problema. 

    De acordo com a especialista, ainda existe muito estigma e uma certa banalização, com muita gente propagando que “tudo virou burnout”. Ela avalia que, na verdade, o esgotamento é consequência de aspectos que existem no design do trabalho, em seu conteúdo e modelo de organização. 

    “Embora seja importante identificar o burnout, diagnosticá-lo depois que o motor fundiu não é suficiente. Os fatores de risco psicossociais que podem levar ao adoecimento mental precisam ser analisados de forma crítica e as empresas precisam se atentar a isso”, explica Ana.

    Prova de que o assunto está ganhando relevância na agenda da saúde mental é a criação de um novo ISO, o 45003, lançado em janeiro e que orienta sobre parâmetros psicossociais no trabalho. “Aqui no Brasil ainda se fala na doença de forma pouco responsável. Na hora em que essa certificação começar a ser exigida para as empresas, a começar pelas multinacionais, o nível de conscientização vai evoluir”, analisa a CEO.

    Para ela, os riscos psicossociais estão, neste momento, no estágio em que a atenção à saúde e à segurança no trabalho estavam há 30 anos: 

    “Se estas duas questões hoje são parte estratégica das empresas, a hora de criar processos e indicadores para avaliar e mensurar saúde mental chegou. Os RHs estão acordando para essa realidade”.

    Dimensionar o que está se passando com os colaboradores impacta também no bolso das empresas. Além de pontos importantes como absenteísmo, licenças médicas e turnover, o departamento jurídico pode se beneficiar deste rastreamento da saúde mental e de seus cuidados, uma vez que o burnout a tende a aparecer mais na esfera dos direitos trabalhistas. 

    “Um acompanhamento preventivo, visando estar em compliance com as normas trabalhistas, com as boas práticas internacionais e com o que vem decidindo a jurisprudência dos tribunais no Brasil, é fundamental. Muitos especialistas no tema já entendem que é possível reverter passivos trabalhistas, evitá-los ou mitigá-los quanto a empresa tem ações de prevenção nesse sentido”, explica a psicóloga. 

    Saúde mental nos ambientes de trabalho brasileiros

    Problemas com saúde mental no ambiente de trabalho custam à economia global US$ 1 trilhão por ano, de acordo com a Global Learner Survey, pesquisa desenvolvida pela Pearson, um dos maiores grupos de educação do mundo. 

    Dados do estudo trazem um recorte interessante sobre o Brasil: 90% trabalhadores ouvidos acreditam que seus empregadores deveriam oferecer dias de férias remuneradas para que o trabalhador cuide de sua saúde mental e bem-estar. Além disso, 71% dos 1.001 brasileiros entre 16 e 74 anos entrevistados afirmam que as organizações deveriam oferecer serviços gratuitos de saúde mental aos empregados.

    Outra pesquisa que também coloca os números relacionados à saúde mental na ordem do dia foi feita pelo Empregos.com.br, um dos principais portais de empregos e carreiras do Brasil. Foram ouvidas 251 companhias, sendo 24,5% de grande porte, de todas as regiões do país.

    Os dados mostraram que uma em cada quatro empresas afastou de um a cinco funcionários por adoecimento mental nos últimos 12 meses. A ansiedade atingiu 41% dos profissionais, 31,9% tiveram quadro de estresse, seguidos por 26,7% com depressão e, por fim, o burnout com 9,2%.

    “A participação ativa de líderes e gestores é fundamental para o sucesso de ações que visam a promoção da saúde e da segurança psicológica nas organizações. Sem o envolvimento direto deles, boa parte dos riscos psicossociais se tornam difíceis, ou mesmo impossíveis de serem manejados. Além disso, passa pelas lideranças a aprovação e o fornecimento de recursos necessários para a criação de ações que visam a saúde psicológica e o bem-estar dos colaboradores”, explica Ana. 

    Ambiente livre de burnout: é possível?

    Para a fundadora da Bee Touch, a resposta é sim. Mas para isso é preciso levar a sério o tema e avançar para além das ações rasas e pontuais, como oferecer um pacote de sessões de terapia. 

    Cabe às empresas e aos gestores identificar e gerir os fatores psicossociais do trabalho que podem constituir risco para o adoecimento, como: carga excessiva de trabalho, falta de autonomia, dificuldades de comunicação, presença de práticas abusivas, horas extra em excesso, entre outros aspectos. Ao observar melhor esses fatores que podem culminar no adoecimento da força de trabalho, cada empresa pode atuar nas causas raízes identificadas, e de forma prática, mitigar os riscos”, avalia Ana. 

    Para a CEO, com tecnologia disponível, além de números e uma pressão por parte dos próprios colaboradores, as empresas não podem mais deixar o burnout em segundo plano. Os riscos psicológicos devem ser prevenidos e geridos da mesma forma lógica e sistemática que outros riscos de saúde e segurança no local de trabalho, independentemente do tamanho ou tipo de empresa. 

    “Medir, de forma precisa, o nível de esgotamento pelo trabalho apresentado pelos colaboradores, incluindo um mapeamento dos fatores contextuais e comportamentais que representam um risco para o adoecimento no futuro, são fundamentais para a realização de ações preventivas”, alerta Ana.

    Confira Também: