O dinheiro pode até não trazer felicidade, mas saúde ele traz. Pelo menos é o que a HygiaBank, que sai da fase pré-operacional para a operacional agora, pretende mostrar com seus serviços, que unem finanças e cuidados com a saúde.
“Somos uma ‘finhealth’, a primeira”, diz seu fundador, Alexandre Parma, unindo os termos fintech e healthtech. “Trazemos informações para os indivíduos como decisores em ações de saúde reativa, preventiva e preditiva, tudo isso atrelado a planejamento, inclusive financeiro.”
Parece mais complexo do que é. A Hygia é, na verdade, um banco digital que ajuda os usuários a cuidarem da saúde com planejamento financeiro.
O dinheiro acumulado só pode ser usado em cuidados com a saúde, como em clínicas, laboratórios e academias, além de locais como restaurantes saudáveis.
A startup atua também no mercado B2B, oferecendo para empresas soluções de CRM (ou gestão de relacionamento com o cliente) para consultórios, profissionais da saúde e hospitais, além de assessoria de investimentos e seguros. O negócio foi fortalecido com a recente aquisição da Dr.Mob, empresa focada em CRM de clínicas e centros médicos.
“A Hygia nasceu para trazer consciência para as pessoas, mostrando que a saúde é seu maior ativo”, diz Alexandre. “Nasceu para mostrar que saúde e dinheiro não são conceitos opostos, mas, sim, sinérgicos. Por isso temos o lema ‘saúde e finanças num único lugar’.”
UM RADIOLOGISTA QUE RESOLVEU EMPREENDER
Médico radiologista e chefe do departamento de Diagnósticos da Santa Casa de Votuporanga, no interior de São Paulo, há 16 anos, Alexandre Parma sempre foi aficionado por tecnologia e gestão – traço que ele considera fundamental para explicar a razão de ter se transformado em um empreendedor.
“A medicina é uma atividade apaixonante e Votuporanga aceitou meus sonhos de poder fazer medicina ‘de ponta’, acreditando que isso caberia lá, mesmo com tantos agouros contrários”, ele conta.
Antes de ir para a Santa Casa, lembra ele, Alexandre já havia trabalhado em vários outros locais. Mas, por motivos pessoais, que incluíam problemas de saúde, ele decidiu trocar até melhores propostas salariais para ficar em Votuporanga.
“Mas temos uma ‘Santa Casa fênix’, que renasceu, através da iniciativa de benfeitores e da comunidade”, afirma. “Isso, junto com a vontade de empreender que eu tinha, resultou num robusto departamento de Radiologia.” A equipe médica de três profissionais saltou para mais de 15 e conta hoje com programa de residência médica.
“A radiologia demanda alto conhecimento em tecnologia, e essa tecnologia é cara, exigindo conhecimento não somente técnico-científico, mas também em gestão”, explica Alexandre.
“Como sempre fui um apaixonado por gestão e tecnologia, tudo isso aplicado à medicina, ‘pivotar’ para outros assuntos foi um pulo bem fácil”, ele diz. “Crescemos na própria cidade, associamo-nos a outras pessoas em novos empreendimentos, sempre na área de saúde, e tudo isso me levou a pensar numa solução disruptiva: a Hygia.”
DESAFIO: AJUDAR O SISTEMA A SER MAIS EFICIENTE
Um movimento que vem acontecendo mais fortemente no mercado de saúde durante os últimos anos, o de fusões e aquisições, fez Alexandre Parma perceber um desafio do setor.
“Esse movimento tem alguns stakeholders em sua cadeia que só tiram valor dela”, acredita. “Clínicas e hospitais, médicos e profissionais de saúde em geral, bem como pacientes, todos tiram valor dessa cadeia produtiva”, continua.
Para o médico empreendedor, um quarto stakeholder, composto por convênios e planos de saúde, reforçam essa equação negativa.
“Numa corrente como essa, é difícil o setor ser bom para todos os participantes. Um, ou muitos, saem perdendo. Como se trata de saúde, o mais frágil é sempre o paciente, o consumidor final.”
Com conhecimento de causa, o radiologista afirma que o resultado desse ciclo é acesso ruim, qualidade de atendimento questionável e preços que cada vez mais excluem gente da cadeia, empurrando os pacientes para filas de saúde pública. “Que raramente funcionam bem em todos os locais, com algumas poucas ‘ilhas’ de excelência”, complementa.
Além disso tudo, uma questão cultural ajuda a aumentar a ineficiência. “Temos uma população que pensa somente em saúde reativa, que é aquela que você utiliza por já ter adoecido”, diz Alexandre. Assim, além de o cenário da cadeia se agravar, ações de prevenção e predição são desvalorizadas.
“Resumindo as dores que encontrei no mercado: saúde cara e com acesso limitado”, afirma. “A Hygia chegou para mudar esse paradigma.”
OPORTUNIDADE: SER INCUBADO PELA ERETZ.BIO
Alexandre sabia que a dependência de planos de saúde no país, para quem podia pagá-los, é muito grande. E que esse hábito é caro e promove menos cuidados preventivos. Mas, quando voltou de uma viagem ao Vale do Silício, é que formulou de fato a ideia da Hygia.
Mesmo com o objetivo em mente, o projeto só saiu do papel de fato quando ele o contou para Maikol Parnow, atual CEO do empreendimento. “Tivemos toda a operação inicial com recursos próprios meus e do Maikol, nosso CEO e grande estrela da Hygia”, conta o médico.
Ambos trabalharam então no desenvolvimento da plataforma e, em junho de 2020, a Eretz.bio, incubadora do Hospital Israelita Albert Einstein, adotou a startup. Lá, eles começaram a trabalhar em conjunto com especialistas em saúde e lideranças científicas.
“Gastamos em torno de R$ 2 milhões no início das operações, no que chamamos de bootstrap. No fim de 2020 tivemos o primeiro aporte ‘anjo’, já com um valuation de R$ 40 milhões”, conta.
O recurso obtido foi 100% foi empregado na própria startup. “Os investidores serão revelados em momento apropriado, com autorização dos mesmos”, diz Alexandre. “Neste momento estamos em negociação seed [investimento semente], de até 5%. Pretendemos fazer uma rodada ‘series A’ entre este ano e o próximo. “
SUPERAPP COM FUNCIONALIDADES B2B E B2C
A ferramenta que resultou desse processo todo é bem simples de usar e engloba um banco digital, um aplicativo de saúde e uma loja de serviços para o segmento. “A Hygia é um superapp, com funcionalidades para os consumidores finais, que são os pacientes, bem como para os prestadores da cadeia, como clínicas e hospitais”, afirma ele.
O cadastro na plataforma é gratuito, assim como algumas funcionalidades. “Para os pacientes, toda a jornada de saúde preventiva é gratuita”, diz Alexandre.
Quando abre uma conta, o cliente preenche um formulário para estruturar seu planejamento. Só a partir disso é que ele define qual valor vai depositar na conta – com o recurso, pode contratar os diversos serviços oferecidos no aplicativo, como consultas, exames, academias e restaurantes saudáveis oferecidos por estabelecimentos parceiros.
“Como somos B2B2C, de um lado temos os pacientes e clientes finais, que têm um perfil maior em classes C e D, mas com serviços que podem ter grande fit com classes A e B”, explica o fundador.
No modelo B2C, há funcionalidades para saúde reativa, preventiva e preditiva. No primeiro caso, a Hygia ajuda os clientes a economizarem dinheiro para investir em saúde em casos de necessidade.
“Também emprestamos em caso de urgência e estimulamos a fazer seguros para sinistros inesperados, como uma cirurgia ou doença grave.”
Em saúde preventiva, questionários gamificados e respostas através de bots inteligentes, com um escore personalizado de como anda a saúde do indivíduo são oferecidos. “Estamos também investindo em esporte e bem-estar”, diz o médico.
Em relação à saúde preditiva, a solução DNHygia analisa o DNA do cliente com vários painéis genéticos que ajudam a predizer a probabilidade que nossos genes apresentam risco para doenças e até tipos de esportes e alimentos que são indicados.
“No mercado B2B, temos empresas de pequeno e médio porte, também com fit em algumas funcionalidades com empresas de grande porte.”
Para médicos e profissionais de saúde, a “finhealth” oferece o serviço de CRM gratuito, por exemplo, para o próprio consultório (o serviço é cobrado apenas se o número de usuários aumenta). “Outro exemplo para os profissionais é a assessoria gratuita em investimentos, através de nossa plataforma Hygiainvestments, que tem a Órama como white label.”
Para Alexandre, a Hygia é “um grande motor de vendas”. “Desde o pay-per-use na plataforma bancária, até a comercialização de seguros e venda de exames de DNA, tudo monetiza a operação.”
Atualmente, a plataforma tem pouco mais de 1.200 usuários, mais de 22 mil médicos cadastrados e 140 clínicas atendidas.
Entre os planos futuros, a startup pretende lançar sua própria moeda digital, Hygiacoin, para transações no segmento de saúde. “Também queremos transformar nossa assessoria de investimentos numa DTVM [distribuidora de títulos e valores mobiliários] e ter parceiros físicos com o brand Hygia em todos os segmentos de saúde, como clínicas, laboratórios, hospitais.”
Onde eles querem chegar? “O céu não é o limite”, brinca Alexandre. “Queremos expandir o modelo para todo o Brasil, América Latina e países que tenham demandas para os nossos serviços.”
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