• A Medicinae permite que médicos recebam dos planos de saúde em 24 horas

    Startup conecta planos de saúde e unifica suas informações financeiras – e, assim, resolve a demora no pagamento, que podia levar meses.
    Jose Renato Junior | 16 out 2020

    A relação entre médicos e planos de saúde é tensa, além de pública e notória. Quem nunca precisou mudar de médico porque de repente ele parou de atender o seu plano? Ou então só conseguiu uma consulta porque o especialista topou dividir a cobrança em mais de um recibo, de modo que o paciente conseguisse um reembolso maior?

    O problema é antigo. Lá atrás, em 2000, entidades médicas lançaram a campanha “Tem plano de saúde que enfia a faca em você. E tira sangue dos médicos”. Os especialistas reclamam que os planos repassam pouco, mas é difícil ficar sem eles. Afinal, as 750 operadoras de planos de assistência médica existentes no Brasil atendem 47 milhões de pessoas, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar divulgados em março. É quase um quarto da população.

    Além disso, os planos tendem a demorar a pagar os profissionais. A espera pode durar meses.

    O contexto ajuda a explicar o sucesso da Medicinae, startup que conecta planos de saúde, unifica suas informações financeiras e possibilita que clínicas e médicos recebam o pagamento dos planos em até 24 horas.

    A empresa registrou um aumento de seis vezes no volume de dinheiro transacionado em 2019, e a expectativa é dobrar esse valor em 2020.

    Os serviços da Medicinae incluem um sistema de organização de faturamentos, pagamentos e glosas (ou não-pagamentos) de planos em um único lugar – e sem precisar inserir dados manualmente.

    Além disso, ela oferece uma maquininha de pagamentos em crédito e débito, feita para consultórios e clínicas, e uma plataforma para acompanhar a gestão financeira, disponível no site da empresa e no aplicativo (para iOS e Android).

    A maquininha em si não tem diferenças técnicas em relação às outras disponíveis no mercado. “As funcionalidades por trás é que a tornam exclusiva”, diz Rafael Coda, CEO e um dos fundadores da empresa.

    “Quando montamos a Medicinae, mapeamos que 90% dos profissionais não sabiam responder quanto tinham recebido em seu último mês.” 

    Essa é a grande proposta da fintech: facilitar a vida financeira dos profissionais. “Entregamos uma série de painéis e nossos clientes passam a ter uma visão completa dos seus recebimentos de uma forma muito fácil, tanto na web como no app”, diz.

    “Entendemos que nossa solução permite que as clínicas e consultórios consigam escolher como e quando receber, passando a ter autonomia e liberdade total em sua gestão de pagamentos e fluxo de caixa.”

    Rafael Coda, CEO e um dos fundadores da Medicinae

    O “NOVO NORMAL” NOS CONSULTÓRIOS

    Quando a pandemia chegou ao Brasil, a Medicinae passou a oferecer consultoria financeira gratuita a consultórios, clínicas e médicos para lidarem com os desafios que atingiram a área da saúde. Como em tantos setores da sociedade, a Covid-19 atingiu em cheio a forma como vamos ao médico.

    Um estudo publicado em julho pela consultoria Demanda revelou que quatro de dez pessoas deixaram de ir a um consultório nos primeiros meses de pandemia por medo de se infectar. Isso sem contar os médicos que fecharam as portas por um tempo, o que acabou funcionando como um empurrão para a telemedicina se tornar uma realidade mais comum.

    “A consultoria foi desenvolvida pela cofundadora da Medicinae, Luciana Lessa, que é médica também”, diz Rafael.

    “Ela consiste em uma etapa de diagnóstico, em que entendemos o contexto e localizamos os problemas e, na sequência, direcionamos uma proposição de ações que consigam trazer resultados imediatos”.

    Rafael cita o caso de uma médica que estava com um financiamento imobiliário a ser quitado em poucos dias. Mas, com a queda de faturamento durante a pandemia, ela estava com o caixa comprometido e cogitou vender o imóvel.

    “A médica estava bem abalada, não queria buscar um empréstimo e ter uma nova dívida. Mas conseguiu antecipar um recebimento e manteve o sonho da casa própria. Ficamos orgulhosos”, lembra.

    Outra das iniciativas tomadas na pandemia foi uma parceria com a Visa que oferecia descontos de R$ 50 aos pacientes que pagassem com essa bandeira em consultas a partir de R$ 200.

    Os valores eram reembolsados aos consultórios, e para participar bastava usar o serviço de link de pagamento da Medicinae. Rafael lembra que o setor de saúde ainda utiliza bastante dinheiro vivo e cheque, então o uso do cartão, além de dar um desconto para os pacientes em tempos complicados, foi um incentivo a mais na transição para o pagamento digital.

    A Visa é parceira da startup desde 2019, quando a Medicinae participou do Programa de Aceleração Visa, o que foi um “divisor de águas”, nas palavras de Rafael.

    “Entramos em um nível e saímos em um patamar muito mais elevado. O programa nos ajudou a posicionar nossa proposta, a entender as dores e a jornada completa dos nossos clientes.” Tanto o desconto quanto a consultoria gratuita foram oferecidas até o fim de setembro.

    COMO FACILITAR A RELAÇÃO DE MÉDICOS COM DINHEIRO

    A Medicinae surgiu em 2016, após uma conversa de um grupo de amigos. “Um é médico, outro é casado com uma médica. Eles começaram a explicar as dificuldades de recebimento, falaram do ciclo de pagamento travado e alongado dos planos de saúde, de como isso é ruim para o mercado, em geral”, lembra Rafael, cuja experiência anterior é basicamente toda no mercado financeiro.

    “Antes da Medicinae eu trabalhava numa holding de private equity em que participei de investimentos em empresas de diversos segmentos e de alguns projetos sendo montados do zero”, afirma.

    Mas o que ele gosta de recordar é do sangue de empreendedor herdado de seu avô, Armando Gomes, o Seu Gomes, figura da boemia carioca que abriu alguns bares entre os anos 30 e 60 e que, em 1972, inaugurou um ícone da botecagem, o Bar Urca, onde trabalhou até morrer, aos 96 anos.

    Diante desse cenário complexo e pouco convidativo de pagamentos, eles ouviram 50 médicos e convidaram Luciana Lessa, que trabalhava em uma operadora de plano de saúde e conhecia os mecanismos por dentro.

    Quatro anos depois, a Medicinae atende 1.500 consultórios e clínicas e pretende chegar rapidamente a 10 mil. O quadro de funcionários deve saltar de dez para 65 em dois anos.

    Rafael resume o que eles almejam: “Queremos impactar o setor da saúde, ser a fintech que entende suas dores”. 

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