• Mais de 300 mil pacientes são atendidos em domicílio anualmente no Brasil – conheça novidades sobre essa importante área da saúde

    Heloísa Gaspar, superintendente clínica da Home Doctor
    Heloísa Gaspar, superintendente clínica da Home Doctor, em palestra sobre gestão clínica na Atenção Domiciliar. (Foto: Divulgação)
    Jose Renato Junior | 30 set 2022

    No Brasil, grande parte dos cuidados pós-agudo, reabilitação e cuidados de pacientes crônicos são realizados em domicílio, por meio da Atenção Domiciliar (AD). 

    Esta modalidade de atendimento vem crescendo exponencialmente no Brasil nas últimas décadas, tanto no sistema público como no privado. 

    Dados de 2019 do Censo NEAD-FIPE revelaram que cerca de 300 mil pacientes foram atendidos em domicílio naquele ano, número que equivale a 5% do número de leitos hospitalares do país. 

    O novo Censo, previsto para 2022, deve reforçar o progressivo crescimento da AD. A Atenção Domiciliar inclui ampla gama de possibilidades terapêuticas, desde aplicação de medicamentos, nutrição enteral, realização de curativos, terapias de reabilitação, oxigenioterapia e terapias mais complexas como nutrição parenteral e ventilação mecânica invasiva e não-invasiva. 

    Os avanços científicos relacionados à Atenção Domiciliar foram pauta do I Fórum Científico da Atenção Domiciliar, organizado de forma híbrida em 19 de setembro, pelo Instituto Home Doctor de Ensino e Pesquisa. O evento contou com renomados palestrantes discutindo a AD.

    Por dentro do evento

    O controle de infecção domiciliar foi assunto amplamente debatido, com participação de três médicos e de uma farmacêutica nesta mesa de discussão. 

    A primeira a se manifestar foi Gladys Prado, médica infectologista do Hospital Sírio Libanês, abordando como as empresas de Atenção Domiciliar podem se estruturar para agir frente ao cenário de elevado número de infecções em domicílio, com dicas práticas sobre a composição da equipe e a forma de atuação no dia a dia. 

    A médica destacou a complexidade crescente dos pacientes em atendimento domiciliar, com diversas comorbidades e uso frequente de dispositivos invasivos, como cateter vesical e venoso, o que eleva o risco de infecção. 

    Gladys destacou estudos que colocam a infecção como a principal causa de reinternação hospitalar e enfatizou a necessidade de discussões e ações focadas em controle e manejo de infecções domiciliares. 

    A apresentação da infectologista foi seguida da palestra da farmacêutica Mariana Gonzaga, do Instituto de Práticas Seguras do Uso de Medicamentos (ISMP), que abordou o gerenciamento do uso de antimicrobianos. Mariana discorreu sobre o conjunto de intervenções coordenadas destinadas a melhorar e mensurar o uso adequado de agentes antibióticos por meio da escolha do medicamento ideal, incluindo dosagem, duração e via de administração, que são assuntos sensíveis nos serviços de saúde como um todo.

    O Fórum também teve um debate entre dois médicos, em um “pró X contra” sobre o uso da taurolidina como estratégia de prevenção de infecção de corrente sanguínea. 

    De um lado, Melina Gouveia Castro, médica nutróloga do Hospital Albert Einstein e vice-presidente da Braspen, defendeu alguns pontos a favor; de outro, Fernando Oliviera, médico infectologista dos hospitais Santa Catarina e São Luiz, destacou algumas preocupações com o uso desta medicação. 

    O debate trouxe à tona a importância das medidas rotineiras de prevenção, como higiene de mãos, capacitação profissional e manuseio correto do cateter venoso.

    Atração internacional

    O tratamento de situações agudas no domicílio foi assunto abordado pelo palestrante internacional, David Levine, médico do Brigham and Women’s Hospital. Um dos pontos de destaque foi o atendimento domiciliar direcionado para pacientes agudos nos EUA, principalmente para antibioticoterapia em quadros infeciosos agudos e tratamento de exacerbações agudas de doenças crônicas como Insuficiência Cardíaca e Doença Pulmonar Crônica. 

    O segundo ponto abordado por Levine foi a escassez de mão de obra, o que impossibilita o atendimento de perfis de pacientes que rotineiramente são atendidos em domicílio no Brasil, como pacientes pediátricos, dependentes de ventilação mecânica e em uso de nutrição parenteral. A discussão revelou que a Atenção Domiciliar no Brasil atende um volume maior de pacientes – e em quadro mais complexos – em comparação com os EUA.

    Tecnologia nos cuidados domiciliares

    Mariane Tarabal, diretora médica da Rede Mater Dei, abordou transformações nos modelos assistenciais com a incorporação de tecnologia, como ampliação da telemedicina e uso de dispositivos remotos de monitoramento de sinais vitais. Ela também salientou como a tecnologia pode, de forma complementar ao atendimento humano, estreitar a comunicação e melhorar a jornada do atendimento do paciente. 

    O fisioterapeuta Ruy Pires, gerente nacional de contas da GasLive, complementou a apresentação de Mariane, apresentando o uso do telemonitoramento da ventilação mecânica, além de resultados de um estudo prospectivo feito pela Home Doctor. 

    A pesquisa, publicada no Jornal Brasileiro de Pneumologia, telemonitorou a ventilação de 34 pacientes, promovendo melhorias clínicas ao permitir a identificação precoce de piora com acompanhamento em tempo real dos dados ventilatórios e maior agilidade em ajustes em parâmetros do ventilador. 

    Ainda sobre tecnologia, Fernando Lopes, supervisor médico da Home Doctor, trouxe exemplos práticos do uso da tecnologia na AD, como ferramentas de apoio à gestão clínica. Lopes destacou o uso da telemedicina, os aplicativos disponíveis para profissionais e família de pacientes, além do prontuário eletrônico como ferramenta de apoio à comunicação.

    Outras atrações

    O Fórum contou ainda com paineis de discussões sobre temas clínicos relacionados aos pacientes em Atenção Domiciliar, como a palestra sobre gestão clínica de Heloísa Gaspar, superintendente clínica da Home Doctor, e a sobre Cuidados Paliativos Baseados em Evidência, ministrada por Maria Perez Soares, médica paliativista do departamento de responsabilidade social do Hospital Sírio Libanês. 

    Heloisa falou de estratégias para promover um melhor cuidado, destacando o papel da capacitação profissional, engajamento da equipe e definição de etapas processuais importantes como as da jornada de implantação (início do atendimento ao paciente).

    Maria encerrou o evento falando sobre cuidado paliativos, destacando evidências científicas sobre o assunto, reforçando conceitos e enfatizando a importância do suporte clínico, social e psicológico que os pacientes precisam durante o atendimento domiciliar.

    No evento ocorreu ainda a apresentação do inédito escore criado para suprir a carência de ferramentas que definam a periodicidade da fisioterapia domiciliar. Denominado EfisioHD, o escore foi construído pela equipe de fisioterapeutas da Home Doctor sob o comando da supervisora Kátia Cantarini. 

    O EfisioHD está em prática na Home Doctor há um ano e os seus resultados foram divulgados a todo o mercado. 

    “Acompanhamos um grupo de 2.050 pacientes que tiveram as suas sessões reduzidas conforme a indicação do novo escore e observamos que o plano terapêutico indicado retrata as necessidades clínicas dos pacientes, ou seja, a diminuição não resultou em piora clínica e o número aumentado de sessões sem indicação técnica não implica em melhores resultados clínicos e não protege o paciente de complicações. 

    “O EfisioHD é uma escala única de avaliação. De fácil aplicação, ele padroniza os critérios, baliza as indicações de sessões de fisioterapia domiciliar e auxilia no acompanhamento da reabilitação dos nossos pacientes”, comentou Kátia. 

    O Fórum também teve a apresentação de trabalhos científicos. Dos mais de 30 trabalhos submetidos, dez deles foram selecionados para apresentação oral e os três melhores, premiados.

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